
Pai e Professor 
      culpam aluno por repetência Antônio 
        Gois
      Folha de São Paulo, 1/2/2002. 
      
      Para pais e professores da rede pública do país, o estudante 
      é o principal responsável pela repetência escolar e 
      até mesmo pelo péssimo desempenho do Brasil em avaliações 
      internacionais. É isso que revela uma pesquisa realizada por dois 
      dos maiores especialistas brasileiros no assunto, João Batista Araújo 
      e Oliveira e Simon Schwartzman. 
      
      O estudo, que será publicado no livro "A Escola Vista por Dentro", 
      mostra que a maioria dos pais e professores é tolerante com atitudes 
      que prejudicam o desempenho do aluno, como atrasos, faltas e desinteresse 
      do estudante pela lição de casa. 
      
      De acordo com a pesquisa, 57% dos pais consultados colocaram a culpa da 
      repetência no estudante. Essa porcentagem é maior nas escolas 
      públicas (63% nas municipais e 54% nas estaduais). 
      
      Já nas particulares, apenas 31% dos responsáveis apontaram 
      essa como a principal causa da repetência escolar. Os professores 
      colocam ainda mais sobre os ombros dos estudantes a responsabilidade pela 
      reprovação nas escolas públicas. A pesquisa mostra 
      que 77% dos professores em escolas municipais e estaduais apontaram a falta 
      de interesse do estudante como causa para seu fracasso. Nas particulares, 
      essa porcentagem é um pouco menor: 67%. 
      
      Araújo, consultor educacional do Instituto Ayrton Senna, e Schwartzman, 
      sociólogo e ex-presidente do IBGE, fizeram entrevistas com pais e 
      professores de escolas públicas e particulares de 51 municípios 
      brasileiros. Foram ouvidos 1.380 pais e 2.652 professores de alunos de todo 
      o ensino básico (fundamental e médio) de 141 escolas. 
      
      Apesar de o objetivo da pesquisa não ter sido fazer um retrato de 
      todo o sistema educacional básico, a amostra respeitou a proporção 
      entre o total de escolas públicas e privadas brasileiras. 
      
      A conclusão dos dois especialistas é que "a escola vista 
      só por dentro é incapaz de perceber a relação 
      entre o que faz e os resultados que obtém" 
      
      Desempenho 
      
      Em dezembro passado, o Ministério da Educação divulgou 
      que os estudantes brasileiros ficaram em último lugar nas provas 
      de leitura, matemática e ciências do Programa Internacional 
      de Avaliação de Alunos. A pesquisa avaliou alunos de 15 anos 
      em 28 países desenvolvidos e em quatro países em desenvolvimento. 
      
      
      Segundo Araújo, o discurso dos pais e dos professores vai na mesma 
      linha do discurso governamental, que coloca a culpa da má qualidade 
      do ensino na entrada dos estudantes mais pobres no sistema público 
      de ensino. "Em todas as avaliações recentes sobre a qualidade 
      do ensino, o discurso oficial era o de que a educação estava 
      pior porque tem mais aluno pobre estudando. O discurso dos pais reforça 
      a idéia de que a culpa é dos pobres." 
      
      Desinteresse 
      
      Embora não culpem a escola pelo fracasso do aluno, uma porcentagem 
      expressiva de diretores e professores pesquisados considera normais práticas 
      que prejudicam a qualidade do ensino. 
      
      O controle de frequência é exercido por pouco mais da metade 
      dos professores. Os registros das escolas municipais pesquisadas mostram 
      que os alunos costumam faltar uma vez por mês às aulas, o que 
      significa perda de cerca de 4% do ano letivo. 
      
      Não existem parâmetros para comparação no Brasil, 
      mas, em países industrializados, a falta à aula é fato 
      raro e praticamente só ocorre em função de doença 
      grave, dizem os autores da pesquisa. 
      
      O estudo mostra que, no dia em que foi aplicado o questionário, mais 
      de 20% dos alunos das escolas públicas não haviam feito os 
      deveres previstos para aquele dia. Nas escolas particulares, essa porcentagem 
      foi de apenas 6%. 
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