
Dezembro, 1996
 
 
      
      Legitimidade, Controvérsias e Traduções em Estatísticas 
      Públicas 
 Simon Schwartzman
      Versão revista de trabalho apresentado na reunião 
      conjunta da Sociedade de Estudos Sociais da Ciência e Associação Européia 
      para o Estudo de Ciência e Tecnologia, Bielefeld, Alemanha, 10-13 de Outubro, 
      1996, sessão sobre "A Sociologia das Estatísticas Públicas", organizada 
      pelo Comitê de Pesquisa sobre a Sociologia da Ciência e Tecnologia da Associação 
      Sociológica Internacional. Publicado em Teoria & Sociedade 
      (Revista dos Departamento des Ciência Política e de Sociologia e Antropologia, 
      Universidade Federal de Minas Gerais), vol. 2, dezembro 1997, 9-38. Publicado 
      em inglês em Science, Technology & Society 
      1999, 4, 1, Jan-June, 1-34 
      
      
      Sumário: 
      
      Estatísticas Públicas 
      
      Fontes de Legitimação e 
      Credibilidade 
      
      Um estudo de caso: o IBGE 
      no Brasil 
      
      Traduções e Controvérsias  
        Tradução 
        I - Da pesquisa empírica aos direitos legais 
        
        Tradução 
        II - Das preocupações sociais para a pesquisa estatística 
         
      Conclusão: 
      a sociologia da ciência e o futuro das estatísticas públicas 
      
      Referências Bibliográficas 
      
      Notas 
      
 
      
      Estatísticas Públicas 
      
      "Estatística pública", ou "estatística oficial", refere-se 
      à informação estatística produzida pelas agências estatísticas do governo 
       órgãos de recenseamento, departamentos de estatística e instituições 
      semelhantes. Elas são de especial interesse para o sociólogo de ciência 
      porque elas são produzidas em instituições que são, simultaneamente, centros 
      de pesquisa, envolvendo, portanto, valores científicos e tecnológicos, além 
      de perspectivas e abordagens típicas dos seus campos de investigação  
      e instituições públicas ou oficiais sujeitas às regras, valores e restrições 
      do serviço público. Os seus produtos  números relativos a população, 
      renda, produto nacional, urbanização, emprego, natalidade, e muitos outros 
       são publicados na imprensa, utilizados para apoiar políticas governamentais 
      e avaliar os seus resultados, e podem criar ou limitar direitos e benefícios 
      legais e financeiras para grupos, instituições e pessoas específicas. Essa 
      pluralidade de papéis, contextos e perspectivas associadas às estatísticas 
      públicas está na própria origem deste campo. 
      
      Alain Desrosières, que escreveu extensamente sobre o assunto, mostra como 
      as estatísticas modernas emergiram de pelo menos duas grandes tradições, 
      uma originária da Alemanha e a outra da Inglaterra. A tradição alemã é essencialmente 
      descritiva, taxionômica e preocupada em prover o governo com a informação 
      necessária para administrar seu Estado. A associação entre estes dois termos, 
      "Estado" e "Estatística", não é fortuita. O nascimento 
      da estatística alemã é assim resumido por Desrosières: 
       Ela apresenta ao príncipe ou ao funcionário responsável um 
        quadro para a organização das informações multiformes disponíveis sobre 
        um Estado, ou seja, uma nomenclatura dotada de uma lógica de inspiração 
        aristotélica. Essa forma foi codificada, por volta de 1660, por Cornring 
        (1606 - 1681). Ela foi transmitida mais tarde, ao longo de todo o século 
        XVIII, pela Universidade de Gottingen e sua "escola estatística", 
        notadamente por Achenwall (1719-1772), reconhecido como o criador da palavra 
        "estatística", e depois por seu sucessor na cadeira de estatística, 
        Schlözer (1735-1809). Este último, autor de um "Tratado de Estatística" 
        traduzido para o francês em 1804 por Donnant (que tornará conhecido 
        esse modo de pensar alemão dentro da França no início do século XIX), 
        foi o primeiro dessa corrente a recomendar a utilização de números precisos 
        em vez de indicações expressas em termos literários, sem no entanto o 
        fazer com freqüência ele próprio. Uma formulação de Schlözer é significativa 
        da tendência predominantemente estruturalista e sincrônica da estatística 
        alemã: "A estatística é a história imóvel, a história é a estatística 
        em marcha" (Desrosières, 1993, p. 30).
      Desrosières liga a tradição britânica, conhecida no passado como "aritmética, 
      política", ao papel relativamente pequeno do Estado naquele país, em 
      comparação a outros grupos sociais e instituições. Estes grupos e instituições 
      necessitavam de indicadores precisos para objetivos específicos, e desenvolveram 
      métodos de mensuração por amostragens e estimativas indiretas, aproximando 
      a estatística da matemática. Os estatísticos ingleses, diz ele, 
       "Não são teóricos universitários que edificam uma descrição 
        global e lógica do Estado em geral, mas sim pessoas de origens diversas 
        que forjam saberes práticos dentro de suas atividades e que as propõem 
        ao "governo". {...} Assim se esboça um papel social novo: o 
        do especialista de competência específica que propõe técnicas aos governantes, 
        procurando convencê-los de que, para realizar seus desígnios, eles devem 
        recorrer a ele. Eles oferecem uma linguagem precisamente articulada, enquanto 
        que os estatísticos alemães, identificando-se ao Estado, propõem uma linguagem 
        geral abrangente." (P.30).
      Esta breve referência ao nascimento da estatística é suficiente para mostrar 
      as ligações que existiam entre métodos e abordagens estatísticas e as condições 
      sociais de seu surgimento. Como muitos outros campos do conhecimento, a 
      estatística pública tinha que obter legitimidade aos olhos de seus patrocinadores, 
      e para isso tinha que se estabelecer como uma disciplina científica confiável 
      e como um empreendimento prático. Um dos insights mais interessantes 
      da sociologia da ciência é que o que é comumente conhecido e entendido como 
      "ciência" e "tecnologia" não passam de segmentos de 
      redes muito mais amplas de pessoas, instituições, instrumentos, equipamentos 
      e da própria natureza. Um computador pessoal (um dos exemplos desenvolvidos 
      por Latour, 1987), liga acadêmicos, físicos e matemáticos, engenheiros, 
      fabricantes de hardware e software, escritórios de patentes, 
      comitês de normas, agências de marketing, lojas, redes de assistência técnica 
      e usuários de todos os tipos; e depende das propriedades físicas e da disponibilidade 
      de semicondutores e de uma ampla gama de matérias-primas. As pessoas localizadas 
      em uma das extremidades desta cadeia geralmente não entendem o que as outras 
      pessoas estão fazendo na outra extremidade, o que significa que existe um 
      trabalho constante de tradução acontecendo entre atores adjacentes. Fabricantes 
      de aplicativos têm que entender as possibilidades e limitações dos sistemas 
      operacionais que dependem de hardware, que por sua vez depende das 
      propriedades físicas dos materiais que podem ser produzidos pela indústria. 
      Na direção oposta, os usuários têm que entender a linguagem dos programadores 
      (os quais, por sua vez, se esforçam por traduzir os seus dispositivos em 
      termos de linguagens naturais ), e os vendedores têm que antecipar as necessidades 
      dos compradores. Uma vez no lugar, essas cadeias afetam a maneira pela qual 
      o trabalho é organizado em escritórios e empresas, influenciam os currículos 
      das escolas, e introduzem mudanças no mercado de trabalho. Essas cadeias 
      nunca são criadas linearmente, seja de cima para baixo (uma teoria conceptual 
      levando a um modelo experimental, que leva a um produto testado, que leva 
      a um desenvolvimento posterior e à sua comercialização no mercado, e daí 
      por diante) ou de baixo para cima (a demanda do consumidor levando a um 
      produto, que leva a pesquisa, que leva a novos conceitos e teoria). A inovação 
      pode ter lugar em qualquer dos elos, a qualquer momento, sendo comuns impasses 
      e fracassos brilhantes ao longo de toda a cadeia (David, 1992; Latour, 1993; 
      Gibbons e outros, 1994). Ao final, para parafrasear Bruno Latour, não é 
      necessariamente o melhor produto, teoria ou tecnologia que se estabelece; 
      ao invés disso, é o produto, teoria ou tecnologia que se estabelece que 
      se torna o melhor, não apenas porque é o "vencedor", mas porque 
      ele irá se beneficiar de investimentos crescentes de todas as partes envolvidas. 
      Uma das mais extraordinárias características da sociedade moderna é o estabelecimento 
      de tais redes, o que não é necessariamente um procedimento pacífico e inofensivo, 
      como se pode ver na expansão da ciência e tecnologia ocidental para o resto 
      do mundo. No entanto, uma vez estabelecidas, essas redes geram benefícios 
      crescentes para todos os participantes, forjando alianças que parecem crescer 
      sem limites ou barreiras. 
 
      Um quadro semelhante de redes, traduções e alianças pode ser utilizado para 
      descrever um procedimento estatístico já bem estabelecido, seguido por uma 
      agência pública de estatística. Tomemos como exemplo os índices de custo 
      de vida, quase universalmente utilizados para medir inflação, para estabelecer 
      políticas de renda e para avaliar as perspectivas de uma dada economia. 
      Para o economista, os preços estão ligados a uma série de conceitos tais 
      como investimento, consumo, padrões de poupança, taxas de câmbio, produtividade, 
      taxas de juros, etc. Vários desses conceitos são utilizados pelos governos 
      nos seus esforços de controlar e dirigir a economia, e para servir de base 
      a tomadas de decisão por atores privados com relação a investimentos, consumo 
      e emprego. Sindicatos utilizam os índices de custo de vida para estabelecer 
      metas para suas negociações, e partidos políticos os usam para organizar 
      campanhas em favor ou contra governos. Para a imprensa, os índices de custo 
      de vida podem ser um assunto "quente" para seus leitores, especialmente 
      se eles puderem ser facilmente interpretados em termos de suas expectativas 
      pessoais e da imagem do desempenho de autoridades públicas. 
      
      Indo na direção oposta da cadeia, os conceitos do economista são traduzidos 
      por estatísticos em uma série de procedimentos para medir variações no índice. 
      Eles incluem a identificação de itens e setores que deverão ser monitorados 
      (bens de consumo, bens duráveis, bens de capital, serviços), o seu peso 
      relativo, baseado nos padrões de consumo de grupos específicos (trabalhadores, 
      classe média, segmentos mais pobres da população), e sua distribuição no 
      espaço geográfico. Amostras de informantes, regiões e produtos devem ser 
      estabelecidas, limites aceitáveis de erro são definidos, e são criados mecanismos 
      permanentes para a coleta e processamento de dados. Estas duas últimas tarefas 
      vão além do escopo de trabalho do estatístico, e incluem outros atores no 
      processo. Os dados podem ser coletados por firmas especializadas, trabalhadores 
      temporários ou staff permanente, que estabelecem suas próprias rotinas 
      para ir a campo e trazer os dados. O processamento de informação é realizado 
      por especialistas em computação, que tomam decisões acerca do equipamento 
      a ser utilizado, o software adequado, os prazos e os formatos para 
      o processamento e disponibilização das informações 
      
      Descrições semelhantes podem ser feitas a respeito de outros tipos de indicadores 
      tais como emprego, níveis de pobreza, previsões de safras, produção industrial, 
      comércio internacional, padrões de migração, crescimento populacional, renda 
      nacional e distribuição de renda.(1) Para manter 
      a analogia com o computador pessoal, todos os atores teriam problemas se 
      eles tivessem que lidar com produtos diferentes e incompatíveis  PCs 
      da IBM, Machintosh e Amiga  ou três diferentes índices de emprego 
      e inflação e dois diferentes valores de renda per capita. Sempre 
      que uma cadeia tecnológica atinge a escala de mercados de consumo de massa, 
      a tendência é de um produto ou padrão industrial prevalecer, enquanto que 
      os outros ou desaparecem ou encontram nichos especiais de usuários e aplicações. 
      
      
      Fontes de legitimação 
      e credibilidade 
      
      Esta lógica de padronização explica a inquietude criada sempre que números 
      ou informações conflitantes são apresentados para descrever ou quantificar 
      "realidades" presumivelmente idênticas. Instituições estatísticas 
      internacionais, tais como a Comissão de Estatística das Nações Unidas, Eurostat 
      e outros órgãos regionais, dedicam a maior parte de seus esforços à busca 
      de padrões para unificar e tornar compatíveis os dados produzidos por diferentes 
      países. As agências estatísticas nacionais querem que seus dados sejam aceitos 
      dentro de seus próprios países e pela comunidade internacional, e reagem 
      sempre que números ou indicadores discordantes são apresentados por outras 
      instituições nacionais ou organizações internacionais. Os jornais reclamam 
      e falam de "confusão" sempre que diferentes números aparecem. 
      Os governos, naturalmente, não ficam satisfeitos quando os números que utilizam 
      para estabelecer suas metas e avaliar seus resultados são confrontados com 
      informação divergente. A padronização conceptual e empírica é sempre um 
      processo muito complicado, caro e incerto. A ironia disso é que, no final 
      das contas, todas as partes envolvidas estão comprometidas com a noção de 
      que eles estão falando sobre a mesma "realidade" que já estava 
      lá desde o começo, fazendo com que fique muito difícil explicar porque então 
      custa tanto chegar até ela. 
      
      Seria de se esperar desta confluência de interesses que as estatísticas 
      públicas fossem naturalmente evoluir na direção de uma unificação em termos 
      de padrões bem estabelecidos, deixando pouco espaço para controvérsias e 
      disputas. Isso não é assim tão simples, no entanto, uma vez que sempre que 
      uma agenda de pesquisa é definida e uma seqüência de procedimentos é estabelecida, 
      outros são rejeitados, e alguns interessados ficam insatisfeitos. A agenda 
      de órgãos públicos de estatística é estabelecida a partir de uma combinação 
      de requisições do governo, demandas sociais, conceitos desenvolvidos por 
      economistas, demógrafos e cientistas sociais, e metodologias desenvolvidas 
      e testadas por estatísticos. Agencias internacionais, tais como os órgãos 
      estatísticos regionais e especializados das Nações Unidas, o Eurostat, o 
      Banco Mundial, a Organização Internacional do Trabalho e instituições semelhantes, 
      desempenham um papel muito importante no estabelecimento desta agenda, definindo 
      padrões de comparação e suprindo os órgãos de estatística no mundo inteiro 
      de treinamento técnico. Apesar dessa constante pressão na direção à padronização, 
      um exame das práticas atuais irá mostrar uma ampla gama de variações no 
      modo como os órgãos de estatística respondem às demandas de seus diferentes 
      clientes e comunidades profissionais.(2) 
      
      Existem muitas razões para se resistir à padronização. Na sua forma mais 
      simples, a questão envolvida é a de quem irá obter os recursos ou os contratos 
      para realizar o trabalho. Se os números produzidos por uma instituição são 
      adotados por todos, essa instituição irá conseguir os recursos e o apoio 
      para continuar seu trabalho, enquanto outras irão se eclipsar. Mas as conseqüências 
      podem ser muito mais extensas, uma vez que, por exemplo, diferentes estimativas 
      de distribuição de renda poderiam levar a diferentes políticas de investimento 
      e de alocação de recursos por parte dos governos. As razões pelas quais 
      tais conflitos não permanecem irresolvidos para sempre são as mesmas que 
      explicam porque outros conflitos sociais no final acabam sendo superados: 
      a longo prazo, os ganhos coletivos de sistemas estabilizados tendem a ser 
      maiores do que os benefícios privados obtidos através de conflitos alimentados 
      por longo tempo. Conceitos estatísticos e dispositivos técnicos desempenham 
      importantes papéis no processo de estabilização da interação social, um 
      "papel moral" que não é imediatamente visível a partir de seus 
      aspectos técnicos, enganosamente simples.(3) 
      
      Como se poderia esperar, os órgãos de estatística se esforçam por manter 
      suas informações estáveis, incontroversas e tecnicamente bem fundamentadas. 
      Um expediente simples é a utilização de números. Na sociedade moderna, se 
      você pode se expressar em números, sua credibilidade aumenta (Porter, 1995). 
      O problema é quando os números são instáveis ou conflitantes. Ivan Fellegi, 
      Estatístico-Chefe do Canadá e uma personalidade dominante no seu campo, 
      insiste, em um artigo recente, que "os valores centrais dos sistemas 
      estatísticos eficazes são a legitimidade e a credibilidade" (Fellegi, 
      1996). Governos autoritários podem definir quais devam ser os números oficiais, 
      mas a questão é se alguém irá acreditar neles (isso nos lembra os 99% de 
      votos sempre conseguidos por candidatos oficiais em eleições na ex-União 
      Soviética). A credibilidade, assim, é um componente essencial para a aceitação 
      e adoção de padrões e procedimentos uniformes. Mas quais são as origens 
      da credibilidade; de onde ela vem? 
      
      A informação confiável é, desde logo, aquela que vem de uma instituição 
      confiável, que não esteja identificada como a serviço de um grupo de interesse 
      ou ideologia específica (Fellegi se refere, no artigo mencionado acima, 
      à "objetividade não-política"). A credibilidade das instituições 
      públicas depende muito da cultura política de cada país. Por exemplo, instituições 
      públicas na Alemanha ou França são tidas como confiáveis, enquanto instituições 
      semelhantes nos Estados Unidos (4) ou no Brasil 
      nunca podem contar com sua credibilidade como coisa garantida. 
      
      Outra fonte de credibilidade é a técnica e científica. A informação é aceita 
      como confiável se ela é fornecida por pessoas ou instituições com um forte 
      perfil científico e técnico. Isso é um paradoxo curioso, uma vez que as 
      ciências empíricas são dominadas por controvérsias e descobertas provisórias, 
      experimentais, probabilísticas e mesmo contraditórias, ao invés de o ser 
      por uma lógica sólida, evidências e demonstrações, como muitas vezes se 
      propala. A coisa se torna ainda mais complicada pelo fato de que a produção 
      de estatísticas públicas não é limitada a uma única disciplina, ou seja 
      àquela do estatístico. As equipes dos órgãos de estatística são compostas 
      por economistas, cientistas sociais, analistas de programas, estatísticos 
      e matemáticos, cada um com sua própria cultura profissional, inclinações 
      e preferências. Além de suas diferenças de origem, esses diferentes grupos 
      mantêm ligações com suas comunidades profissionais, e disputas por espaço 
      e precedência profissional tendem a ocorrer. Ajuda quando se pode argumentar 
      que uma disciplina é central, e responsável por manter a coerência e a integridade 
      do todo. A introdução de contas nacionais e a elaboração de matrizes de 
      input-output na maior parte dos institutos de estatística deu aos 
      economistas um papel proeminente, pareceu oferecer uma lógica para o sistema 
      como um todo e o ligou a outra imagem importante, aquela do planejamento 
      econômico (Fourquet, 1980). À medida que a força da imagística do planejamento 
      diminuía, esse argumento perdeu muito de sua força, sendo substituído pela 
      busca de outro referencial disciplinar, aquele da própria estatística como 
      uma disciplina abrangente que tudo cobre. 
      
      Uma outra fonte de credibilidade é a estabilidade e a consistência. Números 
      produzidos sempre de acordo com os mesmos procedimentos são mais facilmente 
      aceitos do que aqueles que variam dependendo de diferentes metodologias, 
      conceitos e procedimentos.(5) Instituições organizadas 
      para defender os interesses de grupos específicos são menos confiáveis do 
      que aquelas tidas como independentes, pelo menos para os outros setores 
      da sociedade. Um centro de pesquisa financiado pela indústria do cigarro 
      terá dificuldades em ganhar aceitação para resultados que mostrem que o 
      fumo passivo é inofensivo. As instituições de pesquisa associadas a organizações 
      de classe terão muita dificuldade em convencer os outros de que seus números 
      para desemprego e custo de vida são os melhores. Para ganhar credibilidade, 
      elas devem tentar se desvincular dos setores que as apoiam, e elevar suas 
      credenciais científicas e técnicas. 
      
      Outros fatores, relacionados mais especificamente à natureza dos dados, 
      podem influenciar a credibilidade de estatísticas públicas. Sempre que os 
      dados afetam interesses específicos (como os índices de preço ao consumidor, 
      quando utilizados para corrigir salários ou pensões pela inflação, ou números 
      relativos à população e que afetem a distribuição de receitas derivadas 
      de impostos, subsídios ou rateios eleitorais), eles tendem a ser questionados; 
      se o setor afetado é limitado, o qüestionamento é provavelmente menos ameaçador 
      do que quando toda a sociedade é afetada. Pesquisas avulsas tendem a ser 
      questionadas com mais freqüência que os resultados de práticas estatísticas 
      permanentes e continuadas; dados a respeito de práticas ilegais ou "ocultas", 
      tais como evasão fiscal, jogos de apostas e transações econômicas "informais" 
      também tendem a ser desacreditadas. Às vezes, a desconfiança se volta contra 
      quem fornece a informação, outras vezes é a independência do órgão estatístico 
      que é questionada, e algumas vezes sua competência técnica.(6) 
      
      
      Dada a pluralidade de atores e interesses que participam ou que podem ser 
      afetados pelo trabalho dos órgãos de estatística, alianças estáveis têm 
      que ser construídas para apoiar este tipo de trabalho. Michel Callon trata 
      desta questão em termos bem amplos, sugerindo o seguinte esquema para a 
      constituição do que ele chama de "sociologia de tradução", mas 
      que poderia ser melhor denominada "sociologia de alianças" (Callon, 
      1986, 196-233). O primeiro passo no seu esquema é a "problematização, 
      ou como tornar-se indispensável". Um elemento essencial neste primeiro 
      estágio é a "definição de pontos de passagem obrigatórios". Se 
      eu quero desenvolver uma nova pesquisa sobre inovação tecnológica, por exemplo, 
      todas as partes interessadas devem ser convencidas de que, se eles querem 
      incorporar tecnologia moderna em suas atividades, eles terão que obter os 
      dados adequados para medi-la e avaliá-la, e minha instituição e grupo de 
      pesquisa são os melhores para fazer este tipo de trabalho. O segundo passo 
      é "interressement": um processo muito complicado e imprevisível 
      de se convencer a todos os atores potenciais de que eles têm um interesse 
      comum, a ser suprido desta maneira específica. Para usar as palavras de 
      Callon, "para todos os grupos envolvidos, o 'interessement' ajuda a 
      pressionar as entidades a serem alistadas. Além disso, ele tenta impedir 
      a formação de possíveis associações concorrentes, e construir um sistema 
      de alianças. Estruturas sociais, envolvendo tanto entidades sociais como 
      naturais, são formadas e consolidadas" (Callon, 1986, p.211). O terceiro 
      passo é o "enrollment", ou seja, o recrutamento, conseguir que 
      todos os atores se comportem de maneira compatível e coerente. No nosso 
      exemplo, eu preciso convencer as empresas a responder aos questionários, 
      preciso convencer o governo a fornecer os recursos necessários, e os definidores 
      das políticas a tomar estas informações em conta em suas decisões futuras 
      quanto a investimentos. O quarto passo é a "mobilização de aliados". 
      Todos os atores têm que estar de acordo que o instituto de pesquisa é o 
      seu porta-voz, e que os dados produzidos expressam os interesses e as realidades 
      comuns de todas as partes envolvidas. 
      
      Um estudo de caso: o IBGE 
      no Brasil 
      
      O caso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ilustra bem as 
      diferentes percepções e dilemas, negociações e redes que fazem parte dos 
      processos de institucionalização e funcionamento de um órgão nacional de 
      estatísticas. O IBGE foi criado nos anos 30 como um dos elementos de uma 
      tentativa ambiciosa de se organizar um Estado moderno e autoritário, que 
      poderia conhecer e governar um vasto e desconhecido território, e sua população 
      dispersa. As ideologias da época pressupunham que o governo central devesse 
      derivar sua força dos cantões do país, os municípios, passando ao largo 
      das oligarquias tradicionais dos Estados. No início, o objetivo era coordenar 
      o trabalho estatístico executado pelos municípios em todo o país, e a inspiração 
      alemã foi explicitamente reconhecida pelo seu fundador, José Bulhões de 
      Carvalho. Um Conselho Nacional de Estatística foi formalmente estabelecido 
      em 1936, sendo seguido por um Conselho Nacional de Geografia em 1937. Em 
      1942, quando o Brasil se juntava aos aliados na Segunda Guerra Mundial, 
      um sistema muito rígido de centralização econômica e administrativa foi 
      estabelecido, sob a inspiração dos EUA, e as instituições estatísticas e 
      geográficas seguiram o exemplo. As entidades geográficas e estatísticas 
      locais foram abolidas e absorvidas em uma burocracia nacional que permaneceu 
      pelas décadas seguintes.(7) 
      
      A geografia era provavelmente mais importante, nos primeiros anos, que a 
      própria estatística, para o cumprimento desta tarefa. A influência mais 
      direta vinha dos geógrafos franceses, que tiveram também uma forte presença 
      no estabelecimento, àquela época, das primeiras universidades brasileiras, 
      mas, novamente, o pensamento geopolítico derivado de autores alemães era 
      forte.(8) O volume introdutório do censo de 1940, 
      o primeiro realizado pelo Instituto, foi um volumoso e ambicioso livro chamado 
      A Cultura Brasileira, escrito por Fernando de Azevedo, um sociólogo 
      da educação que participou da criação da Universidade de São Paulo, e que 
      editou, alguns anos depois, o primeiro quadro abrangente das tradições, 
      grupos e instituições científicas do Brasil (Azevedo, 1971 e 1955). Era 
      tarefa do geógrafo descrever a terra, definir suas fronteiras e identificar 
      os recursos disponíveis para a construção de uma poderosa nação-estado; 
      era tarefa do sociólogo e educador identificar os elementos culturais que 
      estavam transformando o país em uma sociedade moderna, nos moldes ocidentais. 
      
      
      Nos anos 60 e 70 a economia passou a ter precedência sobre a geografia. 
      O Instituto foi colocado sob uma nova Secretaria ou Ministério do Planejamento, 
      que incluía também o Conselho Nacional de Pesquisa e o Banco Nacional de 
      Desenvolvimento Econômico, teve seu papel redefinido, e passou a ser o fornecedor 
      de informações para os planos de desenvolvimento econômico do país (Fishlow, 
      sem data). Além do mapeamento e das informações demográficas usuais, o Instituto 
      tornou-se responsável pela organização das contas nacionais, e a sua peça 
      central passou a ser uma ambiciosa matriz de insumo-produto (input-output) 
      que permitiria a identificação de gargalos no sistema e a avaliação do impacto 
      potencial dos investimentos em energia, transporte, produção de aço, petroquímicos 
      e outros insumos na economia do país. A França, de novo, pode ter fornecido 
      o modelo intelectual e organizacional  não mais os geógrafos, mas 
      os economistas do Institute National de la Statistique et des Études Économiques 
      (INSEE), o órgão de estatística central da França, em combinação com a assistência 
      técnica vinda dos Estados Unidos. Toda uma nova geração de economistas foi 
      recrutada e incumbida de redesenhar a estratégia do Instituto, partindo 
      do pressuposto de que todas as informações deveriam se encaixar em um modelo 
      econômico abrangente. 
      
      Escrevendo em 1972 o então presidente do IBGE, Isaac Kerstenetzky, apresentou 
      sua visão de como o sistema de planejamento do país deveria ser organizado, 
      e o papel que o órgão de estatística deveria desempenhar neste grande esquema 
      (Kerstenetzky, 1972) : 
       A teoria da política implícita no modelo sinóptico ou de decisão 
        segue uma seqüência que é o inverso daquela usada na análise econômica 
        convencional. Primeiro, identificamos algumas metas que consideramos desejáveis; 
        em segundo lugar, procuramos definir o que deveria ser feito de maneira 
        a manipular os instrumentos que temos à nossa disposição para atingir 
        nossas metas. (9)
      E mais adiante: 
       O conjunto de atividades no campo da estatística e pesquisa 
        sócio-econômica iria reunir e organizar dados e conduzir estudos necessários 
        para construir modelos com os aspectos mais relevantes da estrutura 
        sócio-econômica do país. Tais modelos permitiriam a identificação de trajetórias 
        alternativas de desenvolvimento. O setor político, baseado numa avaliação 
        dos principais objetivos sociais, estabeleceria um plano 
        de acordo com a trajetória escolhida (sublinhados no original). (10)
      A associação entre geografia, estatística e planejamento econômico não era 
      difícil de justificar, pelo menos em princípio(11): o 
      planejamento não deveria ser feito pela simples manipulação de variáveis 
      macroeconômicas, mas pela direta intervenção na paisagem física e econômica 
      do país. Mas não era tão fácil ligar esse projeto totalizante à consciência 
      de que a modernização do Brasil estava deixando uma grande parte de sua 
      população à margem e afetando a sociedade de modos imprevisíveis. Nem a 
      geografia nem a economia forneciam boas respostas para estas questões, e 
      um grupo de antropólogos sociais foi convidado a desenvolver um sistema 
      de indicadores sociais que deveriam, assim se esperava, ser integrados com 
      o modelo global de planejamento econômico, tornando-o mais humanitário e 
      consciente socialmente.(12) 
 
      Na prática, a economia brasileira nunca foi dirigida a partir do Ministério 
      do Planejamento (13), e é duvidoso que os dados produzidos 
      pelo Instituto de Estatística tenham jamais sido utilizados sistematicamente 
      pelos governos para seu planejamento de longo prazo, exceto em termos muito 
      gerais. Mas a imagística do planejamento teve profundas conseqüências para 
      a organização interna do Instituto. Agora cada linha de pesquisa poderia 
      ser considerada como tendo um lugar definido dentro de um quadro coerente, 
      e não poderia ser facilmente questionada ou modificada. Enquanto a imagística 
      do planejamento mantivesse seu apelo, a legitimidade do órgão permaneceria 
      intacta. Quando, anos mais tarde, o órgão passou por um período difícil 
      de falta de recursos e perda de prestígio, a interpretação usual para a 
      crise entre seus técnicos era de que ela era uma conseqüência da perda da 
      capacidade de planejamento por parte do governo. Hoje, sua organização e 
      agenda de pesquisa são ainda muito semelhantes às daqueles tempos, e é difícil 
      reconciliá-las com o atual ceticismo a respeito do planejamento centralizado 
      e das políticas intervencionistas de governo. 
      
      A própria estatística, no entanto, como uma disciplina, não parece ter sido 
      jamais um componente intelectual central da constituição profissional e 
      técnica do Instituto.(14) Em uma tentativa de seguir a tradição francesa das 
      "grandes écoles" controladas pelo governo, o IBGE criou a sua 
      própria Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE), que deveria se 
      tornar a sua principal fonte de recrutamento profissional. Embora a escola 
      ainda exista, ela nunca preencheu tal papel, por várias razões. O instituto 
      nunca teve sucesso no seu esforço de assegurar emprego para profissionais 
      formados pela ENCE(15); como um estabelecimento 
      isolado, ele não foi capaz de se manter a par dos desenvolvimentos científicos 
      e intelectuais do seu campo, e perdeu lugar para outros cursos e programas 
      em universidades; e, acima de tudo, os estatísticos não pareciam dominar 
      o conhecimento e as técnicas associadas com a imagística de planejamento 
      então prevalecente. 
      
      Seria interessante examinar até onde essa experiência brasileira foi singular 
      ou semelhante ao que aconteceu em outros países. À medida que outros assuntos 
      são incluídos nas agenda dos departamentos de estatística - questões como 
      emprego, educação, saúde, agricultura, condições ambientais, participação 
      social e política, raça, linguagem, discriminação social , o perfil 
      profissional das instituições de estatística também se modifica. Outras 
      identidades profissionais  a dos economistas, naturalmente, mas também 
      a dos sociólogos, educadores, especialistas em ambiente e saúde  podem 
      ser mais fortes, em muitas agências estatísticas, do que a do próprio estatístico. 
      É possível argumentar que estas outras profissões são, sobretudo, usuárias 
      de informações, enquanto que são os estatísticos que detêm os conhecimentos, 
      o treinamento e a cultura profissional desenvolvida para as atividades de 
      amostragem, coleta, processamento e validação de dados, típicas do trabalho 
      diário das agências de estatística. Mas na prática, hoje, a estatística, 
      enquanto matéria acadêmica, é essencialmente um ramo especializado da matemática, 
      enquanto que as técnicas estatísticas são um componente cada vez mais presente 
      da formação profissional em todos os campos relacionados com o social e 
      o econômico, e grandemente simplificada por software prontos para 
      a utilização. Em muitos países, essas especialidades separadas estão associadas 
      com a multiplicação de instituições estatísticas  os Estados Unidos 
      são provavelmente o extremo, com várias dezenas de instituições nacionais 
      de estatística funcionando de forma separada - mas não o único caso. Quando 
      os departamentos de estatísticas são unificados  como no Brasil ou 
      no México, que incluem também geografia  a conseqüência pode ser o 
      desenvolvimento de culturas técnicas internamente diferenciadas, muitas 
      vezes mais relacionadas com as áreas acadêmicas respectivas do que com outros 
      setores de dentro da instituição. 
      
      À fragmentação de disciplinas acadêmicas deve-se acrescentar a tendência 
      generalizada das instituições e centros de pesquisa a se tornarem muito 
      mais pragmáticos e orientados por metas do que no passado. Existe crescente 
      ceticismo a respeito de sistemas abrangentes de análise e interpretação 
      social, ceticismo este associado ao abandono do planejamento abrangente 
      como ferramenta de política de governo e com a expansão da pesquisa aplicada 
      orientada por metas e produtos. Um importante elemento dessa mudança é a 
      queda das barreiras disciplinárias e o desenvolvimento de todos os tipos 
      de cooperação e de redes interdisciplinares e interinstitucionais, em todos 
      os campos do conhecimento (Gibbons e outros, 1994). Essas tendências estão 
      relacionadas, por sua vez, às crescentes pressões sobre as universidades 
      e institutos de pesquisa, no sentido de que estabeleçam elos mais íntimos 
      com a indústria e se relacionem com outros grupos sociais além dos estudantes 
      convencionais  que deixem a torre de marfim e respondam mais pragmaticamente 
      às demandas de curto prazo. Para os institutos de estatística, essa tendência 
      leva a um movimento no sentido de substituir os grandes sistemas abrangentes 
      de informações estatísticas por um trabalho mais orientado para produtos, 
      temas e serviços específicos, que afetam não só as formas pelas quais os 
      dados são distribuídos e divulgados, mas também as maneiras pelas quais 
      eles devam ser coletados e analisados. 
      
      Traduções e controvérsias 
      
      
      Argumentamos até aqui que existem fortes estímulos, no campo das estatísticas 
      públicas, para procurar números unificados e consistentes e conceitos que 
      sejam aceitos por uma ampla gama de atores, incluindo os cientistas sociais 
      de diferentes disciplinas, estatísticos profissionais, burocratas de órgãos 
      de estatística, governos, legisladores, grupos de interesse, a imprensa, 
      partidos políticos e organizações internacionais. Para cada ator, a vantagem 
      de conceitos e números unificados é que eles podem sempre argumentar que 
      não estão apenas defendendo seu próprio interesse, mas fazendo uso de dados 
      "objetivos" e "científicos" acima de qualquer discussão. 
      Ao mesmo tempo, eles prefeririam trabalhar com números e conceitos que fossem 
      mais convenientes e adequados a suas respectivas culturas profissionais 
      e interesses. Em outras palavras a tendência para a unificação não acontece 
      sem tensões, uma vez que está sempre em jogo quem irá estabelecer os padrões 
      e controlar o processo de produção e avaliação de dados. Estas tensões encontram 
      meios de expressão e campo fértil nas fissuras e inconsistências que tem 
      lugar nos processos de tradução entre diferentes atores e ambientes em que 
      a produção e o uso das estatísticas públicas se dão. 
      
      Michel Callon usa o conceito de "tradução" no sentido de transformação, 
      de converter os atores em alguma outra coisa. "Traduzir é deslocar". 
      "A tradução é o mecanismo pelo qual os mundos social e natural progressivamente 
      tomam forma. O resultado é uma situação em que certas entidades controlam 
      outras" (Callon, p. 223-224). Utilizo o termo aqui em um sentido mais 
      tradicional, também adotado por Glifford Geertz (1983): traduzir é ser capaz 
      de se comunicar, mesmo que imperfeitamente, entre culturas e linguagens 
      que permanecem diferentes. O que é natural e apropriado na academia pode 
      ser questionável e problemático em outros contextos (16). 
      Uma vez publicadas, as estatísticas públicas ganham vida própria, o que 
      normalmente não é plenamente compatível com o modo com que elas são construídas. 
      Às vezes elas são traduzidas em decisões que envolvem obrigações legais; 
      às vezes são recebidas pela imprensa e traduzidas para o público geral em 
      termos simplificados. Às vezes elas são aproveitadas pelos partidos políticos 
      e organizações não-governamentais, que as utilizam para justificar suas 
      ações. Sempre que conceitos e expectativas de um setor são utilizados para 
      avaliar o que acontece em outro, tensões e mal entendidos tendem a ocorrer. 
      Ainda assim, uma vez que existe uma tendência de cada setor a procurar sua 
      legitimação alhures, mantê-los separados é impossível. Os exemplos abaixo, 
      tirados da experiência brasileira dos últimos vários anos, ilustram isso. 
      
      
      Tradução I 
       da pesquisa empírica a direitos legais 
      
      Salários, aluguéis e outros preços no Brasil com freqüência têm sido vinculados 
      aos índices de custo de vida, que não podem ser definidos em termos probabilísticos. 
      Da maneira que isso é feito, o presidente do órgão de estatística assina 
      um ato oficial a cada mês anunciando qual é o número oficial da inflação. 
      O que diferencia este ato de um decreto arbitrário é o pressuposto de que 
      este número foi obtido através da utilização de procedimentos cientificamente 
      válidos, abertos a qualquer um que os queira inspecionar e reproduzir. Na 
      prática, as coisas são muito mais complicadas. Embora os procedimentos estatísticos 
      gerais, técnicas de amostragens e ponderações sejam públicos, os detalhes 
      são mantidos confidenciais para proteger a privacidade dos informantes, 
      e para proteger o índice da manipulação externa, real ou presumida, inclusive 
      pelo próprio governo. Limites de erro amostrais normalmente não são divulgados, 
      e os sistemas de coleta e processamento de dados, incluindo os pesos atribuídos 
      aos diferentes itens nas "cestas" de produtos, a partir das quais 
      os índices são calculados, são mantidos estáveis por longos períodos, apesar 
      das mudanças constantes nos hábitos de consumo dos diferentes grupos populacionais. 
      Essa situação é tornada ainda mais complicada pela existência de vários 
      índices de inflação, produzidos pelas mesmas ou diferentes instituições, 
      que levam a resultados nem sempre convergentes. Essas diferenças não são 
      difíceis de explicar em termos técnicos mas, especialmente em tempos de 
      inflação alta, são quase impossíveis de explicar para o público. Para o 
      especialista, os preços claramente não sobem e descem ao mesmo tempo no 
      todo da economia, e a existência de diferentes instituições produzindo estimativas 
      independentes de dados similares pode ser vista como uma característica 
      positiva de uma sociedade aberta e democrática. O governo, no entanto, precisa 
      de apenas um número para estabelecer sua política, e pode suscitar 
      suspeitas quanto à sua propensão a escolher, entre vários indicadores, aquele 
      que melhor o atende. 
      
      Outro exemplo está relacionado às estimativas populacionais. No Brasil, 
      as projeções anuais de população dos municípios, feitas pelo IBGE, são em 
      princípio utilizadas para distribuir parte dos recursos dos impostos federais 
      entre os municípios (o "Fundo de Participação dos Municípios"). 
      Por causa dessa legislação, e de regras que impediam que os municípios que 
      se desmembrassem tivessem suas quotas reduzidas, o número de municípios 
      no Brasil aumentou cerca de 50% em poucos anos, atingindo um valor próximo 
      a seis mil, e em cada caso foi pedido ao IBGE que informasse a população 
      e os limites da nova jurisdição. A qualidade dos números fornecidos, entretanto, 
      depende da qualidade do recenseamento populacional anterior (o último realizado 
      no Brasil foi o de 1991, antes da Contagem Populacional de 1996) e de pressupostos 
      relativos a padrões de migração e taxas de natalidade e mortalidade derivadas 
      de diferentes estudos. Erros estatísticos são inevitáveis, e tendem a se 
      tornar tanto maiores quanto menor é o grupo populacional ao qual as projeções 
      se referem, ou quanto mais distante é o ano de produção dos dados originais. 
      Além disso, uma das principais descobertas do recenseamento brasileiro de 
      1991, confirmada pela Contagem de 1996, foi uma dramática redução nas taxas 
      de natalidade, levando a uma população muito menor, e projeções muito mais 
      baixas para os anos 90, do que o que era geralmente esperado. Milhares de 
      reclamações e pedidos enviados por municípios, requisitando uma revisão 
      das estimativas populacionais, inundaram o órgão de estatística. O Tribunal 
      de Contas da União decidiu continuar a usar as estimativas populacionais 
      dos anos 80 em vez daquelas baseadas no recenseamento de 1991, para a distribuição 
      de recursos. Em 1996 o IBGE obteve apoio governamental para fazer uma enumeração 
      populacional de meio-de-década para ajustar as estimativas populacionais 
      do país. Os especialistas em população do Instituto acreditavam que isto 
      era necessário por razões técnicas, e o pedido orçamentário obteve amplo 
      apoio no Congresso, em grande parte devido às reclamações dos municípios. 
      Os dados de 1996 confirmaram e em muitos casos acentuaram ainda mais as 
      projeções anteriores de crescimento populacional decrescente. Os dados agora 
      são tecnicamente melhores, mas a insatisfação e os qüestionamentos dos municípios 
      que não cresceram continuam intensos. 
      
      Outros exemplos poderiam ser tirados das atividades cartográficas e geográficas. 
      As fronteiras entre países, estados e municípios dependem de mapas detalhados 
      e precisos mas, antes disso, de decisões legalmente válidas, baseadas em 
      acordos, negociações, litígios e mesmo guerra. Se um conflito não pode ser 
      decidido pela força ou negociação, quem sabe seria possível obter uma solução 
      "técnica" para o problema, vinda do instituto geográfico do país? 
      Se se soubesse como dividir a região marítima entre os estados do Paraná 
      e Santa Catarina, que estão voltados um para o outro no Atlântico, se saberia 
      também quanto cada um deveria receber de royalties sobre o petróleo que 
      é produzido pela Petrobrás naquela área. Uma vez que não existe uma solução 
      técnica única para o problema (linhas retas podem ser desenhadas com base 
      em diferentes tipos de pressupostos relativos a uma linha costeira irregular), 
      o Instituto está sob constante acusação de uma parte como estando favorável 
      à outra, enquanto que é impossível para as partes obterem uma decisão legal 
      da Suprema Corte. 
      
      O padrão em todos estes exemplos é semelhante. Existem interesses em conflito, 
      e o órgão de estatística é convocado a fornecer uma solução técnica. É um 
      pedido por arbitragem, que é normalmente melhor para as partes envolvidas 
      do que um conflito prolongado. Mas os árbitros geralmente decidem em favor 
      de wm dos litigantes, e portanto podem ver sua autoridade questionada pelo 
      perdedor. Para desempenhar seu papel, o árbitro tem que convencer os litigantes 
      que suas virtudes morais, legais e técnicas estão acima de qualquer dúvida 
      ou crítica. Há um processo constante de tradução em andamento  conflitos 
      de interesse sendo traduzidos em questões técnicas, e processos técnicos 
      e científicos sendo traduzidos em decisões com peso de lei. Como em qualquer 
      tradução, a comunicação entre diferentes linguagens e culturas é possível, 
      mas algo é também perdido no processo. 
      
      Tradução 
      II  das preocupações sociais para a pesquisa estatística 
      
      Os economistas e sociólogos profissionais dizem normalmente que os conceitos, 
      categorias e procedimentos utilizados nas suas pesquisas derivam de teorias 
      sociais e econômicas em seus campos de pesquisa. Na prática, a sociedade 
      coloca demandas sobre os institutos de estatística que não apenas não derivam 
      de modelos teóricos e conceituais existentes, mas que são com freqüência 
      extremamente difíceis de conceituar e medir de maneiras tecnicamente aceitáveis. 
      Três exemplos que se destacam são raça, pobreza e emprego. 
      
      Deveriam as estatísticas brasileiras incluir números sobre raça? O Brasil 
      é um país multirracial (índios nativos, colonizadores portugueses e holandeses, 
      escravos negros africanos, colonos alemães e italianos, imigrantes da Europa 
      Central, judeus, além de imigrantes árabes e japoneses neste século) com 
      uma grande população miscigenada. A discriminação racial é crime, mas existe 
      evidência de que a raça (ou a cor da pele) está fortemente relacionada a 
      todos os indicadores de mobilidade e bem-estar social. A discriminação social, 
      mesmo quando não explícita, é comum. Diferentemente dos Estados Unidos, 
      no entanto, a linha que divide brancos e negros é pouco precisa. Nos Estados 
      Unidos alguém é "negro" se um de seus pais (ou mesmo avós) é negro; 
      no Brasil diferentes tons de negritude trazem diferentes definições sociais, 
      e é muito fácil "passar" de uma raça para outra se se consegue 
      associar um tom de pele mais claro com alguma educação e uma renda razoável. 
      A interpretação dominante é que no Brasil não existe uma "questão racial" 
      central, mas uma ampla questão social, e uma alta correlação entre pobreza 
      e a cor da pele, explicada pela história ainda relativamente recente da 
      escravidão negra. Por algum tempo, a raça foi mantida fora dos recenseamentos 
      e das estatísticas oficiais. Primeiro, por que seria impossível fazer uma 
      classificação racial "objetiva" da população, dados os altos níveis 
      de miscigenação; e em segundo lugar; por que o levantamento de números sobre 
      raça poderia levar ao desenvolvimento de clivagens raciais que antes não 
      existiam. 
      
      Quando a questão sobre raça foi finalmente introduzida no questionário de 
      recenseamento de 1980, ela foi colocada em termos de "cor da pele", 
      e as respostas eram classificadas em negro, branco, pardo e amarelo, a última 
      combinando descendentes de japoneses e chineses com índios nativos.(17) 
      Uma vez que se tratava de uma auto-classificação, a resposta poderia apenas 
      ser interpretada culturalmente. Os dados confirmaram que a raça ou cor da 
      pele tinha um efeito independente sobre condições sociais, mas não questionavam 
      a visão dominante de que a raça (ou cor) não era critério a ser utilizado 
      para política social. Mais recentemente, no entanto, tem havido uma demanda 
      de grupos de militantes negros no sentido de se introduzir políticas de 
      ação afirmativa semelhantes àquelas adotadas nos Estados Unidos, demanda 
      essa que inclui a introdução de questões raciais em todos os tipos de documentos 
      públicos, incluindo o registro de nascimento, casamento e morte. A expectativa 
      é que, através disso, uma classificação racial seja introduzida na sociedade 
      brasileira, criando direitos a benefícios sociais e econômicos. O argumento 
      é que essa classificação já existe, e apenas não é bem retratada pelas estatísticas 
      existentes; a visão oposta é que a coleta desses dados iria acentuar e deslocar 
      as atuais questões sociais para outras arenas, convertendo as auto-classificações 
      raciais atuais, que são flexíveis, em categorias estanques. A longo prazo, 
      as pessoas poderiam fixar suas identidades de acordo com a classificação 
      oficialmente definida, e a identificação racial poderia ser requerida em 
      carteiras de identidade e mesmo em faixas no braço,; clivagens raciais acentuadas 
      e intimidantes, que não existem hoje, poderiam se materializar, em um tipo 
      amedrontador de profecia auto-cumprida. 
      
      A pobreza e o emprego, ou desemprego, são conceitos semelhantes na percepção 
      popular, mas questões muito diferentes tanto do ponto de vista histórico 
      como do ponto de vista das estatísticas oficiais. Desrosières associa os 
      primeiros estudos estatísticos sobre a pobreza com a Inglaterra do século 
      XIX, e a emergência das estatísticas de desemprego com o New Deal quase 
      um século mais tarde (Desrosières, 1993). A pobreza tem sido uma presença 
      constante na história do homem, mas o seu significado tem se modificado 
      através do tempo (Castel, 1995). A maior parte das pessoas em sociedades 
      tradicionais eram pobres, e isso era aceito como natural e inevitável. O 
      pauperismo se torna uma questão pública quando os pobres são deslocados 
      de seu ambiente e padrões de vida usuais, e levados para fora de suas regiões 
      à procura de comida, abrigo ou trabalho. A pobreza foi uma fonte constante 
      de preocupação e debate na Inglaterra desde o início da revolução industrial, 
      sendo que a maior parte da discussão se voltava para a questão de se os 
      pobres deveriam ser tratados como vítimas, tendo portanto direito à proteção 
      e apoio, ou como moralmente ineptos, devendo ser deixados a seu próprio 
      destino. A segunda visão acabou por prevalecer não apenas entre economistas 
      liberais mais radicais, mas para o próprio Marx, com seu conhecido desprezo 
      pelo lumpenproletariat. A pobreza se torna uma questão moral, uma 
      questão de caráter ou boa vontade, não algo relacionado à maneira com que 
      a sociedade era organizada. 
      
      Sc você não trabalhasse, mas quisesse fazê-lo, você não era pobre, mas desempregado. 
      Flutuações econômicas criavam desemprego, e a crise de 1929 produziu milhões 
      de desempregados nos Estados Unidos e na Europa. Diferente da pobreza, o 
      desemprego era entendido como um subproduto cíclico da economia industrial 
      moderna, e mecanismos deveriam ser criados para reduzi-lo, ou compensar 
      suas conseqüências. Todo mundo, em princípio, deveria ter um emprego estável, 
      e alguma ação era necessária quando isso não acontecia. Políticas anti-cíclicas, 
      de um lado, e compensação pelo desemprego, de outro, foram marcos do capitalismo 
      do Estado do Bem-Estar Social do pós-1929. O desemprego tinha que ser medido 
      através de estatísticas adequadas, mas não deveria ser confundido com pobreza. 
      Estar desempregado era um atributo de trabalhadores industriais, não de 
      pessoas fora do sistema produtivo  donas-de-casa, idosos, mendigos, 
      o lumpenproletariat. A definição estatística padrão atual de desemprego, 
      adotada e implementada pela Organização Internacional do Trabalho, mede 
      exatamente isso. Desempregados são aqueles que estão sem emprego, mas que 
      estão ativamente procurando por um, ou vivendo de benefícios de desemprego. 
      Se você não está procurando por um trabalho, se você vive de assistência 
      social, se você vive de doações de sua família, se você mendiga nas ruas, 
      você não está desempregado, mas simplesmente fora da população economicamente 
      ativa. As estatísticas de desemprego se tornaram um excelente instrumento 
      para medir as flutuações de curto prazo da atividade econômica, e a utilização 
      generalizada de metodologias semelhantes permitiu comparações internacionais 
      significativas. 
      
      O pressuposto de que todos devam ter um emprego estável, no entanto, está 
      sendo questionado nos países industrializados, e nunca realmente existiu 
      nas sociedades subdesenfolvidas e em desenvolvimento. A preocupação com 
      o fato de que o desenvolvimento econômico estava deixando grandes segmentos 
      da população à sua margem levou à emergência da marginalidade, primeiro 
      (Germani, 1973) e da pobreza, mais recentemente, enquanto objetos de pesquisa 
      social e, gradualmente, ao estabelecimento de procedimentos estatísticos 
      regulares em órgãos de estatística. As estatísticas sobre a pobreza e o 
      desemprego se desenvolveram independentemente e hoje no Brasil elas estão 
      sujeitas a duas controvérsias bastante distintas. 
      
      A controvérsia do desemprego se centra na existência de duas pesquisas regulares 
      e independentes sobre desemprego no Brasil. Uma, a PME (Pesquisa Mensal 
      de Emprego), é feita pelo IBGE, e a outra, a PED (Pesquisa de Emprego e 
      Desemprego), é realizada pelo órgão de estatística do Estado de São Paulo, 
      a Fundação SEADE, em associação com um centro de pesquisa mantido pelos 
      sindicatos, o DIEESE, e replicada em várias capitais. O aspecto mais evidente 
      da controvérsia é que os números da PED são consistentemente mais altos 
      do que aqueles da PME. Parte da diferença é bem explicada em termos técnicos: 
      a PME é centrada no conceito de "desemprego aberto", enquanto 
      que a PED inclui também "desemprego oculto" e situações de trabalho 
      precário. Mas mesmo quando essa diferença é eliminada na análise e são feitas 
      comparações para um mesmo período de referência, ainda assim surgem discrepâncias, 
      que podem ser atribuídas à seqüência na qual as questões são apresentadas 
      aos entrevistados durante o trabalho de campo, à duração das entrevistas 
      e a outros detalhes técnicos. As diferenças técnicas entre duas pesquisas 
      não parecem ser incontornáveis, embora essa afirmação por si própria possa 
      ser controversa. Alem dos números finais, ambas as pesquisas medem diferentes 
      tipos de desemprego (aqueles que estão procurando por empregos na última 
      semana, ou no último mês, por exemplo). Ambas incluem informação sobre a 
      qualidade dos empregos que se tem, distinguindo entre emprego estável (o 
      que no Brasil requer um contrato formal e o pagamento de diversos impostos 
      de previdência social) e diferentes tipos de trabalho precário.
      
      O Ministério do Trabalho do Brasil, que provê fundos para a pesquisa do 
      SEADE  DIEESE, tomou a iniciativa de reunir especialistas e as diversas 
      instituições envolvidas, e promover a unificação destas diferentes pesquisas. 
      A previsão é que uma pesquisa unificada passará a existir a partir de 1999, 
      com maior cobertura territorial e temática. A razão pela qual uma solução 
      técnica não é prontamente fornecida para reconciliar as duas pesquisas é 
      que existem muitos outros níveis nessa controvérsia além do nível técnico. 
      Parte da discussão é precisamente com relação a se as diferenças entre as 
      duas pesquisas são apenas técnicas ou se têm um conteúdo subjacente ideológico 
      ou político. A arena da controvérsia muda completamente se se aceita uma 
      ou a outra interpretação; ou, inversamente, pode-se desejar deslocar a controvérsia 
      para aquela arena onde se sente mais forte. O fato de que uma pesquisa é 
      conduzida pelo Governo Federal e a outra por uma instituição associada aos 
      sindicatos pode ser utilizado de ambos os lados como um argumento para a 
      hipótese política. E uma pesquisa unificada tem também implicações institucionais, 
      já que afeta a distribuição de recursos e a atribuição de responsabilidades 
      quanto ao trabalho de campo, processamento das informações, disponibilização 
      e publicação dos resultados.
      
      A controvérsia sobre a pobreza se desenvolve em torno da questão de quantos 
      pobres e indigentes existem no Brasil: os números podem variar de 8 a 64 
      milhões, para um população de 157 milhões. Uma controvérsia semelhantes 
      existe a respeito do número de crianças pobres que vivem nas ruas do país, 
      com os números variando de alguns milhares a vários milhões. Contrariamente 
      à controvérsia do desemprego, todos os dados utilizados na controvérsia 
      da pobreza advém de uma única fonte, o IBGE. 
      
      Esta questão tem um óbvio apelo em termos de opinião pública, e números 
      absolutos de pobres, indigentes e crianças carentes são avidamente buscados 
      pela imprensa brasileira e internacional. A marginalidade e a pobreza são 
      questões moralmente carregadas, levantadas por grupos religiosos, instituições 
      de caridade e, mais recentemente, por organizações internacionais que tendem 
      cada vez mais a colocar o tema da pobreza no topo de suas agendas. Sociedades 
      com altos índices de pobreza são vistas como moralmente condenáveis, requerendo, 
      conseqüentemente, uma mudança de atitude que possa levar a um compromisso 
      ético de não permitir que esta situação persista. Nesta perspectiva, as 
      questões de emprego e desemprego como indicadores da atividade econômica 
      passam necessariamente ao segundo plano. De outro ponto de vista, no entanto, 
      parece óbvio não basta a indignação: é necessário identificar as ações que 
      possam ter impacto significativo de redução da pobreza, o que requer, por 
      sua vez, informação detalhada e bem diferenciada com relação às necessidades 
      e condições de grupos específicos, para os quais políticas também específicas 
      poderiam ser então elaboradas. 
      
      A inclusão da temática da pobreza na agenda de organizações internacionais 
      tem levado a uma busca quase impossível por uma definição "objetiva" 
      de pobreza, que sirva de base para comparações internacionais e medição 
      de progresso através do tempo (Nações Unidas, 1996; Banco Mundial, 1993; 
      Rocha, 1992; Barros e outros, 1994). Que dados utilizar? A renda declarada 
      pela população em uma pesquisa ou recenseamento nacional é um dado obviamente 
      inadequado, não apenas devido a declarações falseadas para menos, mas também 
      devido a problemas incontornáveis de taxas de câmbio e dos diferentes pesos 
      de rendimentos não monetários em diferentes regiões e culturas. Outra alternativa 
      é medir as condições de nutrição e saúde da população, mas a informação 
      sistemática sobre essas questões é difícil de obter e não existem definições 
      consensuais de seu significado exceto em condições extremas. Outra possibilidade 
      é tentar definir uma cesta mínima de produtos considerados essenciais à 
      sobrevivência, e usar o acesso a essa cesta como uma linha divisória. Hábitos 
      de consumo diferentes, diferente disponibilidade de produtos de primeira 
      necessidade e, para comparações internacionais, taxas de câmbio flutuantes, 
      tornam essas avaliações extremamente inconfiáveis e instáveis. 
      
      Essas dificuldades não significam, naturalmente, que as questões de pobreza 
      devam ser deixadas de lado. É possível - e necessário - medir e comparar 
      indicadores de desigualdade social, e desenvolver instrumentos para avaliar 
      quão diferentes os grupos populacionais são em face de problemas de privação 
      social, e as políticas alternativas que poderiam ser concebidas para prover 
      suporte a esses grupos. Números globais significam muito pouco, por que 
      eles variam amplamente dependendo de diferentes pressupostos, e em todo 
      caso abrangem muitas situações e condições sociais diferentes. Da perspectiva 
      da opinião pública, no entanto, como refletida na imprensa escrita e por 
      grupos militantes envolvidos em questões de pobreza, números diferentes 
      são uma demonstração inaceitável de "confusão estatística", "falta 
      de clareza" ou ofuscação tecnocrática. 
      
      Conclusão: 
      a sociologia da ciência e o futuro das estatísticas públicas 
      
      
      A sociologia da ciência pode prover à estatística pública o mesmo serviço 
      que ela presta para a ciência e a tecnologia em geral: mostrar como a produção 
      de conhecimento é organizada em um campo particular, os diferentes atores 
      que tomam parte na sua produção, as traduções complexas, as mudanças de 
      significado, interpretação e responsabilidades que têm lugar, e os conflitos 
      e alianças cambiantes que acompanham todo esse processo. Não é propósito 
      desse artigo tomar partido em controvérsias, ou tomar posição contra ou 
      a favor da "ciência", mas explicitar o que é com freqüência implícito 
      e não dito e, nesse processo, realizar um trabalho que é útil e necessário. 
      É uma tarefa arriscada. Sempre que se faz traduções e se que busca um fundamento 
      técnico para controvérsias e questões típicas das esferas política, legal 
      e da opinião pública, começam-se a se revelar as incertezas que também existem 
      na área técnica. A primeira e típica reação dos órgãos de estatística a 
      essa invasão de seu domínio técnico é enrijecer sua posição: "este 
      é o número correto, nós fazemos isso cientificamente, nós somos legalmente 
      autorizados a fazê-lo, nós defendemos nossa tradição e reputação, nossos 
      procedimentos técnicos são por demais complexos (ou confidenciais) para 
      vocês examinarem e entenderem". Esta reação pode limitar a capacidade 
      do órgão de aprimorar sua metodologia e permanecer aberto a críticas, inovações 
      e novas abordagens; mas pode ser bem sucedida a curto prazo, uma vez que 
      ela reduz a ambigüidade. A reação oposta é ser mais sincero, reconhecer 
      as limitações e escolhas implícitas presentes em todos os tipos de procedimentos 
      estatísticos e cartográficos, e insistir que é impossível oferecer soluções 
      técnicas a conflitos de interesse que não podem ser acomodados. Esse tipo 
      de reação está em sintonia com o ethos da pesquisa acadêmica e os 
      padrões usuais de honestidade intelectual, mas corre o risco de não ser 
      bem recebida, e pode ser interpretada simplesmente como uma indicação de 
      que falta competência ao Instituto para prover informações 
      adequadas e inquestionáveis sobre as realidades econômicas e as necessidades 
      sociais. 
      
      Não existe retorno, no entanto, em relação a esta segunda 
      alternativa. A divisão estanque entre produtores e usuários de conhecimento 
      está sendo rompida em quase toda parte, não no sentido de que a "ciência" 
      está se tornando acessível a todos (o que de fato não ocorre), mas em dois 
      outros importantes sentidos. Primeiro, os produtores de conhecimento estão 
      sendo avaliados mais de perto pelo valor dos produtos que oferecem, e têm 
      que se esforçar para levar seus produtos até o consumidor. Não é suficiente 
      produzir estatísticas complexas para serem publicadas em extensos volumes, 
      cheios de tabelas ou interpretados em jornais esotéricos, especializados; 
      é necessário que os produtores de conhecimento viajem através de toda a 
      cadeia de traduções, desde a produção dos dados até a divulgação do produto, 
      certificando-se de que as traduções são confiáveis e críveis. Em segundo 
      lugar, graças em grande parte aos novos recursos da informática disponíveis 
      ao usuário informado, este é muito mais capaz de rever e reorganizar a informação 
      que recebe para seu uso pessoal do que no passado. Para responder a essa 
      demanda, os órgãos de estatística têm que ser capazes de viajar também na 
      direção oposta no processo de tradução, dos produtos à produção, tornando 
      mais abertas e explícitas as escolhas técnicas e metodológicas que são parte 
      da vida diária de qualquer instituição de pesquisa. Quando combinadas, essas 
      duas tendências podem tornar a vida das instituições públicas de estatísticas 
      mais difícil do que no passado, mas talvez também mais desafiadora e interessante. 
      
      
 
 Notas 
      
      
      1. Uma análise muito interessante do desenvolvimento de 
      classificações profissionais nos órgãos de estatística da França, Alemanha, 
      Grã-Bretanha e Estados Unidos pode ser encontrada em Desrosières, 1990. 
      
      
      2. Existe uma crescente produção de literatura especializada 
      sobre o desenvolvimento de práticas estatísticas contemporâneas, mas pouco, 
      parece, em termos de comparações sistemáticas entre países. Referências 
      bibliográficas extensas sobre desenvolvimentos históricos anteriores e contemporâneos 
      são fornecidas por Alain Desrosières, nas suas publicações. Como amostra, 
      veja Bulmer, Bales e Kish Sklar, 1991; Fourquet, 1980; INSEE, 1977 e 1987; 
      Wagner, Wittrock e Whitley, 1991. 
      
      3. Essa observação vem de "Le fardeau moral dun 
      porte-clefs", em Latour, 1993b, 47-55, e outros textos correlatos naquele 
      volume. 
      
      4. Este artigo é acompanhado por comentários feitos por 
      Katherine K. Wallman, Estatística-Chefe do Departamento de Administração 
      e Orçamento dos Estados Unidos, e outros. Fica claro, a partir dos comentários 
      da senhora Wallman, que as instituições estatísticas nos Estados Unidos 
      não desfrutam do mesmo grau de legitimidade que seus pares canadenses. 
      
      5. Existe um óbvio paralelo, aqui, com duas das fontes 
      de legitimidade política definidas por Max Weber, racionalidade e tradição. 
      Pode se especular a respeito do possível papel da terceira - carisma -, 
      neste contexto. 
      
      6. "Tudo isso leva ao seguinte: a credibilidade ceteris 
      paribus é uma função do grau de ameaça (aguda ou difusa, amplamente 
      disseminada ou estreitamente enfocada); do elemento de surpresa (notável 
      em pesquisas one-off); do valor de "fofoca" da estatística; 
      e de se sua publicação tem lugar em um ambiente em rápida transformação. 
      Esses elementos não são exaustivos, mas sim indicativos do tipo de análise 
      que a reação pública às atividades de uma agência pública requer."( 
      Jacob Ryten, comunicação pessoal). 
      
      7. Penha, 1993. Ver as referências bibliográficas para 
      fontes da história do IBGE, disponíveis na Biblioteca do Instituto, no Rio 
      de Janeiro. 
      
      8. O Brasil, junto com o México, é um dos poucos países 
      que juntam as atividades estatísticas, cartográficas e geográficas na mesma 
      instituição. As razões desta peculiaridade não são muito claras, mas ela 
      é coerente com a visão alemã a respeito das funções de conhecimento integrado 
      das localidades e regiões. 
      
      9. "A teoria da política, contida nos modelos de tipo 
      sinóptico ou de decisão, apresenta (...) uma seqüência inversa à da análise 
      econômica convencional. (...) Identificamos, em primeiro lugar, alguns objetivos 
      que consideramos desejáveis e indagamos, em seguida, o que deve ser feito 
      de modo a manipular os vários meios (instrumentos) à nossa disposição no 
      sentido de alcançar os objetivos desejados". 
      
      10. "O conjunto de atividades da área de estatística 
      e pesquisa sócio-econômica reuniria e sistematizaria dados e realizaria 
      estudos capazes de permitir a construção de modelos com os aspectos 
      mais salientes da estrutura sócio-econômica do país. Estes modelos permitiriam 
      a identificação de trajetórias alternativas de desenvolvimento. A esfera 
      política, em função da avaliação dos grandes objetivos sociais, estabeleceria 
      um plano de ação segundo a trajetória escolhida". 
      
      11. Na prática, houve problemas, às vezes graves, como 
      no início dos anos 50, quando todo o sistema estatístico organizado por 
      Teixeira de Freitas foi colocado sob a ameaça de um novo presidente designado 
      para o instituto, um militar associado à área da cartografia (Freitas, 1952). 
      
      
      12. Em anos recentes tem sido feito um esforço para incluir 
      questões ambientais neste grande esquema. A idéia, apresentada por organizações 
      internacionais e já sendo testada em diversos países, é desenvolver sistemas 
      nacionais de "contas ambientais", que poderiam ser ligadas às 
      contas nacionais, assim se espera, com medidas associadas de "bem-estar 
      humano", ou desenvolvimento humano. 
      
      13. Ainda hoje, o Ministério do Planejamento é responsável 
      pelo processo orçamentário, investimentos e planejamento geral de longo 
      prazo, enquanto que o Ministério da Economia, através do Banco Central, 
      maneja as principais variáveis econômicas, tais como as taxas de câmbio 
      e de juros e o controle dos gastos do governo. 
      
      14. O estatístico italiano Giorgio Mortara forneceu, por 
      muitos anos, a principal orientação intelectual e profissional do Instituto 
      em questões de estatística (Mortara,1985). 
      
      15. No serviço público brasileiro, apenas os militares 
      e o serviço diplomático podem garantir emprego para alunos de suas instituições 
      educacionais. 
      
      16. René Padieu fornece a seguinte lista de contrastes 
      entre conceitos jurídicos e estatísticos, a partir de sua experiência no 
      INSEE, mostrando como a questão é geral: "o status jurídico de empresas 
      versus natureza econômica ou feição organizacional; casamento oficial 
      versus concubinato; regras fiscais para avaliação de estoques e 
      desvalorização de equipamento versus "consumo de capital fixo" 
      econômico, classificações de taxa e tarifa versus classificações 
      técnicas ou econômicas; fronteira administrativa da cidade versus limite 
      de aglomeração, etc".(René Padieu, Comunicação Pessoal). Peter Wagner 
      sugeriu uma distinção mais sistemática entre os dois tipos de linguagem, 
      a estatística e a jurídica: "no primeiro caso, a estatística está, 
      por assim dizer, do lado "soft", coletando dados a partir da difusa 
      realidade social, e é uma outra "linguagem" social, aquela da 
      lei, que a torna "hard", criando limites reais onde antes haviam 
      "apenas" classificações estatísticas. No segundo caso, ao contrário, 
      o movimento é de uma observação "soft" de problemas sociais em 
      direção à estatística como um "hardener", uma ferramenta para 
      apreender alguma coisa fixa e identificável. Se você concorda com esta observação, 
      poderia ser útil reverter a ordem: partir de, primeiro, o desejo de "manter 
      as coisas juntas", que se volta para a estatística como metodologia, 
      para (o que em alguns casos pode realmente ser um segundo passo nessa política) 
      o caso onde classificações estatísticas são traduzidas em direitos e obrigações. 
      E poder-se-ia pensar em exemplos onde o processo é revertido (ou ameaça 
      ser revertido): quando direitos legais são abolidos, os números perdem o 
      seu significado e o mundo social volta ao difuso." (Peter Wagner, Comunicação 
      Pessoal). 
      
      17. Essa classificação deve ser comparada com a classificação 
      usual adotada nos Estados Unidos entre "brancos anglo-saxãos", 
      "negros", "índios americanos" e "hispânicos". 
      
      
 
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