OS ESTUDANTES DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Simon Schwartzman

Publicado em Elina G. da Fonte Pessanha e Glaucia Villas Bôas, Ciências Sociais - Ensino e Pesquisa na Graduação. J. C. Editora, 1995, pp. 55-82.

SUMÁRIO:

CARACTERÍSTICAS SOCIAIS E DEMOGRÁFICAS

ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E CARREIRA

ESTUDANDO CIÊNCIAS SOCIAIS NA USP

AVALIAÇÃO

PERSPECTIVAS DE TRABALHO PROFISSIONAL

O TRABALHO

APTIDÕES DESENVOLVIDAS NA UNIVERSIDADE E EXIGIDAS NO TRABALHO

CONCLUSÃO

Durante o primeiro semestre de 1991 o Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da Universidade de São Paulo entrevistou cerca de três mil pessoas, entre ex-alunos e alunos de graduação e pós-graduação da USP, com o objetivo de conhecer suas trajetórias universitárias e educacionais. Este trabalho tem por objetivo apresentar, de forma sumária, os principais resultados relacionados para o curso de Ciências Sociais.(1)

CARACTERÍSTICAS SOCIAIS E DEMOGRÁFICAS

1. Os estudantes de Ciências Sociais da USP têm origem social elevada e são, em sua maioria, do sexo feminino.


Os estudantes de Ciências Sociais da USP, como os demais estudantes desta universidade, vêm de famílias de nível educacional elevado. Do total de 414 entrevistados, entre ingressantes do ano de 1991 e formados entre 1980 e 1991, 43,2% tinham pai com educação superior, e 32,9% com educação secundária completa. A educação do pai é, sabidamente, um dos melhores indicadores de condição sócio-econômica das pessoas.

Em relação ao sexo, 62% do total de entrevistados são mulheres. A proporção de mulheres é máxima entre os que se formaram em cursos diurnos (76,1%), e menor entre os ingressantes para o curso noturno em 1991 (40,3%).

2. Os estudantes do curso noturno têm origem social relativamente menos privilegiada, são mais velhos, e com uma proporção maior de homens. Em sua maioria, os alunos dos cursos noturnos trabalham, e os de cursos diurnos não.


Existem diferenças bastante significativas entre alunos de curso diurno e os de curso noturno: o nível educacional dos pais, e conseqüentemente as condições sócio-econômicas dos alunos de curso noturno são sensivelmente inferiores aos do diurno. Essa diferença aparece também no fato de que só urna quarta parte dos alunos dos cursos diurnos terminou o segundo ciclo em escolas públicas, enquanto que esta proporção chega a 50% entre os alunos dos cursos noturnos. Outro dado significativo é a proporção dos que trabalham em cada um dos turnos.

QUADRO 1 - COM QUE RECURSOS VOCÊ SE SUSTENTA? (RESPOSTAS MÚLTIPLAS)
  Diurno Noturno Total
Recursos dos país ou da família 83,1% 48,7% 66,9%
Recursos do cônjuge 2,4% 0 1,3%
Bolsa de estudo, de trabalho ou estágio 3,6% 5,2% 4,4%
Trabalho remunerado 31,3% 64,5% 46.9%
Recursos próprios herança, outras rendas) 6,0% 3,9% 5,0%

Outras diferenças importantes entre alunos de cursos noturno e diurno são o sexo e a idade em que entram na Faculdade. Os alunos de curso diurno entram mais jovens, com cerca de 21 anos em média, e são predominantemente mulheres; os do curso noturno entram mais velhos, próximos dos 24 anos, e são predominantemente homens.

3. Comparados com os alunos ingressantes, a maioria dos formados é composta por mulheres jovens, que estudaram de dia e entraram no curso relativamente jovens, e oriundas de famílias mais educadas. Homens mais velhos. de famílias menos educadas e que estudam à noite têm menos chance de se formar.

Comparações entre os ingressantes em 1991 e os formados nos últimos 10 anos, nesta pesquisa, devem ser feitas com cuidado, já que a rigor estes últimos deveriam ser comparados com as suas próprias turmas de origem. Existem, além disto, problemas de perda de informação na amostra dos formados, que podem deformar os resultados. De qualquer forma, os dados sugerem que concluir o curso de Ciências Sociais é mais difícil, ou interessa menos, a homens mais velhos que têm que trabalhar durante o dia do que a mulheres mais jovens e com menos restrições de trabalho. Pode-se notar ainda que mais de 20% dos formados nos cursos diurnos não trabalham, em contraste com menos de 4% para os demais. Isto sugere que não trabalhar não significa sempre falta de oportunidades, mas a falta de necessidade, para este grupo específico.

O Quadro 2 resume as principais informações sobre as características gerais dos estudantes dc Ciências Sociais.

QUADRO 2 - DIFERENÇAS SOCIAIS E DEMOGRÁFICAS ENTRE ALUNOS DE CURSOS NOTURNOS E DIURNOS
  Ingressantes FORMADOS
Diurno Noturno Total Diurno Noturno Ambos Total
% de homens 34,9% 59.7% 46,9% 23.9% 46.3% 37.3% 32,4%
Idade média ao iniciar o curso 21,2 23,7 22,4 21,1 21,7 21,1 21,3
% que veio de escola secundária pública 27,7% 42,9% 35,0% 26,9% 56,1% 49,0% 39,1%
% com pai com educação superior completa 49,4% 29,9% 40.0% 50,4% 35,8% 44.0% 44,9%
% que trabalham 30,1% 76,6% 52.5% 78.9% 96.9% 96,0% 87.2%

ESTRATÉGIAS DE ESTUDO E CARREIRA


O que faz com que um aluno se decida a estudar Ciências Sociais na USP? O que pretende, quando vem à universidade? Que perspectivas tem de continuar, ou interromper seus estudos?

4. Quase a metade dos ingressantes nos cursos de Ciências Sociais da USP já entra com a perspectiva de não chegar até o final do curso, e mais da metade já tem outro diploma ou está seguindo outro curso.

Dos 200 aprovados para as Ciências Sociais em 1991, somente 160 responderam aos questionários da pesquisa. Dentre os 40 que não responderam, a maioria não havia se matriculado, ou não estava fazendo o curso por alguma outra razão. Dos 160 entrevistados, somente 115 afirmavam a disposição de terminar o curso. Em outras palavras, a perda antes do final do primeiro semestre do primeiro ano de curso já era da ordem de 42,5% ((200-115)/200).

Entre os formados, 18,3% dos entrevistados tinham um outro diploma além do de Ciências Sociais. Comparando com a proporção de ingressantes que fazem outros cursos, de mais de 50%, fica a suspeita de que muitos dos que fazem mais de um curso terminam por não completar o curso de Ciências Sociais. Para os que pretendem continuar, a intenção a médio prazo é basicamente a de combinar com outro curso ou seguir para a pós-graduação:

QUADRO 3 - SE VOCÊ PRETENDE CONTINUAR NESSE CURSO, SUA INTENÇÃO É (RESPOSTA ÚNICA)
  Diurno Noturno Total
Obter o bacharelado e se profissionalizar nesta área 10% 8% 9%
Obter licenciatura e se dedicar ao magistério 3% 2% 3%
Obter bacharelado e licenciatura 7% 11% 9%
Concluir este curso e complementar sua formação com outro curso (e diploma) superior 33% 30% 32%
Concluir este curso a fazer uma pós-graduação 52% 57% 54%
Total (100%) (60) (53) (113)

De fato, entre os 257 egressos de Ciências Sociais entrevistados, 32% iniciaram algum tipo de pós-graduação; como esta amostra excluiu os que estavam matriculados na pós-graduação em Sociologia, que foram objeto de um estudo específico, esta proporção deve ser ainda maior.

5. As razões que levam à escolha do curso são baseadas em uma combinação de idéias abstratas sobre vocação e desenvolvimento intelectual, o prestígio da universidade, a conveniência de cursos noturnos, e muito pouca informação.

O alto grau de incerteza quanto ao futuro aparece com clareza quando se pergunta sobre as razões que levam os estudantes a seguirem Ciências Sociais, e, mais especificamente, na Universidade de São Paulo. Os dados revelam que os estudantes de Ciências Sociais não procuram este curso por razões profissionais claras, mas buscam "cultura geral" ou "vocação"; não há muitas diferenças, quanto a isto, entre os alunos dos cursos noturnos ou diurnos.

QUADRO 4 - POR QUE OPTOU POR ESTE CURSO? (PERCENTAGEM DE INGRESSANTES EM 1991 QUE RESPONDERAM "MUITO IMPORTANTE")
  Diurno Noturno Total
Tenho grande interesse nessa área, é minha vocação e primeira opção 46% 44% 45%
Para complementar minha formação (já tem curso superior) 16% 30% 23%
Para ampliar minha cultura geral, me desenvolver intelectualmente 77% 61% 70%
Para aumentar minhas chances de conseguir um bom emprego 27% 5% 17%
Dentre o que era factível, esse curso é o que mais se aproxima do que eu queria 27% 17% 22%

O exame das respostas à pergunta sobre a escolha da USP revela que, ao lado das motivações mais gerais e abstratas, existem duas outras bastante concretas, relacionadas com a gratuidade do curso e a existência do turno da noite, e outras relativas ao prestigio acadêmico da universidade.

QUADRO 5 - INGRESSANTES, 1991. POR QUE DECIDIU VIR PARA A USP (% QUE DERAM A RAZÃO COMO "MUITO IMPORTANTE")
  Diurno Noturno Total
É a universidade mais próxima de onde moro 5% 5% 5%
É a que tem melhor reputação 58% 54% 56%
É a melhor na minha área 82% 88% 75%
É gratuita 63% 72% 87%
Oferece curso noturno 6% 65% 35%

Em resumo, para a maioria dos estudantes, o curso de Ciências Sociais da USP é percebido, com base em muito pouca informação, como uma oportunidade de desenvolvimento cultural em uma instituição prestigiada, a custo zero e, para muitos, com a possibilidade de estudar à noite. (Quadro 6). Esta oportunidade é utilizada em combinação com outras estratégias educacionais e de carreira, e desde o início está presente a possibilidade de que o curso não seja seguido até o fim. É possível caracterizar esta estratégia como uma "estratégia frouxa", em contraste com estratégias mais firmes e focalizadas, em cursos onde o custo de ingresso é mais alto (seja em termos monetários, seja em termos de um exame vestibular mais competitivo) e os objetivos profissionais são muito mais definidos, como no caso das engenharias. Uma confirmação desta estratégia é que a escolha de matérias se dá a partir do "gosto" dos estudantes, sem nenhum condicionamento de ordem profissional. A segunda é que a maioria dos estudantes pretende concluir o curso em um tempo superior ao normal. É o que mostram os Quadros 7 e 8 a seguir.

QUADRO 6 - QUE INFORMAÇÕES VOCÊ TINHA PREVIAMENTE SOBRE O CURSO (% QUE SÓ "TINHA UMA IDÉIA" OU DESCONHECIA A INFORMAÇÃO)
  Diurno Noturno Total
Não sabia qual era o currículo. as diferentes matérias do curso 65,0% 69,2% 66.9%
Não conhecia as áreas de especialização e as carreiras oferecidas 61,3% 59,8% 60.7%
Não conhecia pelo menos alguns professores, nem pelo nome 63,9% 62,4% 63.2%
Não sabia do tempo de dedicação exigido 71,2% 68,9% 70,0%
Não sabia do nível de desempenho (notas) exigido 65,0% 44,0% 64,4%
Não sabia de possibilidades de estágio 94.0% 88,3% 91.2%
Não sabia das possibilidade de obter bolsas de iniciação científica 86,7% 76,6% 71,9%
Não sabia se ia ter apoio para encontrar trabalho depois de formado. 97,4% 94.8% 96,2%

QUADRO 7 - COM QUE RAPIDEZ VOCÊ PENSA EM TERMINAR O CURSO?
  Diurno Noturno Total
O mais rápido passível, em menos tempo do que o prazo normal 2,4% 5,3% 3,8%
Pretendo seguir a ordem normal dos cursos, e levar o tempo normal para me formar 27,7% 26,3% 26,9%
Minha preferência dependerá do tempo que terei para me dedicar aos estudos 25,3% 27,6% 26,9%
Pretendo levar mais tempo do que o normal 12,0% 6,6% 9,4%
Não sei ainda 7,2% 5.3% 6,3%
Não se aplica (não pretende terminar) 25,3% 28,9% 27,5%
Total (100%) (83) (16) (159)

QUADRO 8 - COMO VOCÊ PENSA EM ORGANIZAR SEUS ESTUDOS AO LONGO DO CURSO? (ESCOLHA DUAS ALTERNATIVAS POR ORDEM DE IMPORTÂNCIA)
  Primeira Opção Segunda Opção
Gosto: pretendo me concentrar nas matérias e áreas de especialização de que eu gosto mais 74,8% 15.3%
Profissão: pretendo me concentrar nas matérias ou áreas de especialização que ofereçam as melhores perspectivas profissionais de longo prazo 0,4% 36,5%
Currículo e estudo: pretendo procurar ter boas notas em todas as matérias, porque as chances de emprego ou de pós-graduação dependem muito disso 12,9% 27,1%

ESTUDANDO CIÊNCIAS SOCIAIS NA USP

6. O estudo de Ciências Sociais na USP se desenvolve de maneira convencional, através de aulas expositivas, com pouca possibilidade de pesquisa ou trabalho prático junto aos professores.

Perguntados sobre se desenvolveram no último semestre, alguma atividade de pesquisa, 45% dos alunos de primeiro ano responderam negativamente; dos demais, 37,5% disseram que haviam feito "pesquisa bibliográfica para o trabalho de curso", e 11,9% haviam feito "pesquisa por conta própria". É razoável imaginar que alunos recém-admitidos na universidade não tenham tido ainda a oportunidade de se envolver em formas de treinamento mais complexas, e que esta situação possa melhorar nos anos subseqüentes. Em seu conjunto, no entanto, as respostas a uma bateria de perguntas sobre problemas, métodos e condições de estudo revelam um sistema educacional bastante convencional.

QUADRO 9 - FATORES QUE AJUDARAM OU PREJUDICARAM O ANDAMENTO DE SEUS ESTUDOS ESTE ANO
  Valores Médios - Escala de 1 (ajudou muito) a 5 (prejudicou) Observações
Fatores Positivos
O acesso e o uso de bibliotecas 1.8 diurno 1,66; noturno: 1.96
Os contatos com os colegas 1,98  
Possibilidade de passar o dia na universidade 2,12  
Fatores Negativos
Problemas práticos e operacionais (condução, horários, etc. 4,01  
Problemas de saúde ou pessoais 4.01 N = 85
Greves na universidade 3,98  
A conjugação dos estudos com o trabalho 3.83 N = 72
Falta de base geral para acompanhar o curso 3,72 N = 99
O sistema de pró-requisitos 3,52  
A conciliação dos estudos na USP com outros compromissos e atividades não profissionais 3,29  
A obrigatoriedade de cursar disciplinas de professores de outros departamentos 3,28 N = 95
Militância política 3,05 (mulheres: 2.81 homens 3,28)
Disponibilidade de recursos financeiros para materiais de estudo 2,95  

O que ajuda, afora a disponibilidade de bibliotecas e do campus são os amigos; o que prejudica são as restrições curriculares e as condições externas ao curso. Tudo o que se refere à qualidade do curso propriamente dito, ou de seus professores, recebe uma avaliação morna; assim, obtiveram médias ao redor de 2,5 itens como "o entrosamento entre disciplinas e professores , contatos pessoais com professores", e a qualidade didática dos professores", "o ambiente de trabalho na faculdade". O aspecto convencional do curso pode ser ainda auferido pelo Quadro 10.

QUADRO 10 - COMO VOCÊ COSTUMA LIDAR COM SEUS ESTUDOS
  Percentagem que respondeu "freqüentemente"
Uso anotações e materiais de aula 71.9
Faço as leituras recomendadas 54,4
Uso livros e artigos de revistas 30.0
uso apostilas 18.8
Faço leituras em inglês 6.9
Faço leitura em outra língua estrangeira (menos castelhano) 1.9
Consulto colegas 26.9
Trabalho com micro-computadores 17.5
Consulto professores 16,9
Estudo com amigo(a) de classe 7.5
Estudo em grupo de estudo 5.0

A atividade escolar consiste basicamente em assistir às aulas e tomar notas; na metade dos casos as leituras recomendadas são feitas, ainda que livros e revistas propriamente ditos só sejam lidos com freqüência por 30% dos alunos, quase sempre em português. A natureza convencional destes estudos aparece também na questão que trata diretamente da forma pela qual o trabalho acadêmico é desenvolvido.

QUADRO 11 - SISTEMA DE ENSINO ADOTADO PELO CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA USP
  Sistema Adotado (% média do tempo) Sistema Preferido (% de primeira opção)
Aulas expositivas 56.1 38.1
Seminários por Sistemas de grupos (apresentações feitas pelos alunos) 20,7 10.0
Seminários (discussão de textos com a turma) 18,8 36,3
Aulas ou palestras de especialistas convidados 2,4 3,1
Aulas práticas (exercícios, laboratórios, etc.) 1,5 5,0
Não sabe, não responde   7,5

AVALIAÇÃO

7. Os alunos de Ciências Sociais apreciam, em seu curso, a dedicação e o interesse dos professores; todos os demais fatores de avaliação identificados na pesquisa,. do apoio para a obtenção de bolsas e trabalho à organização do curso e as instalações e facilidades materiais, foram analisados negativamente.

Os itens de avaliação constantes do questionário foram analisados, por um lado, em função do grau de satisfação maior ou menor dos estudantes em relação a cada um; e, por outro, através de uma análise fatorial que buscou agrupá-los em um número mais restrito de fatores estatisticamente independentes. Os resultados constam do Quadro 12. Entre fatores identificados, o único que mostra níveis de satisfação positivos é o fator 2, relativo à assiduidade e interesse dos professores pelas aulas, e que vem associado também a uma avaliação positiva do "clima" institucional e da motivação das pessoas. Afora isto, o que predomina é a insatisfação, seja com as possibilidades de estágio e perspectivas de trabalho, seja com os demais fatores.

QUADRO 12 - SATISFAÇÃO E INSATISFAÇÃO COM DIFERENTES ASPECTOS DO CURSO
  Satisfação (%) Fatores (Rotação Ortogonal)
  Excelente Inadequado Estágio, bolsas Dedicação dos profes-sores Auton-omia dos alunos Organi-zação escolar Apoio Insta-lações
disponibilidade de livros e materiais didáticos previsos pelos cursos 8.8 16,3 0,00 0,04 0,13 -0,10 0,89 0,01
disponibilidade de xerox, materiais e equipamentos para atividades curriculares 2,5 27,5 0,15 0,05 0,11 0,18 0,80 0,16
Organização da rotina dos cursos, exigências burocráticas 3,1 16,3 0,04 0,12 0,01 0,85 -0,04 0,14
Instalações 5,0 10,0 0,08 0,19 0,20 0,15 0,16 0,82
Tamanho das turmas 11,0 3,1 -0,04 0,25 0,68 0,06 0,05 0,24
Duração das aulas 30,0 15,6 0,13 0.53 0,29 0,10 0,12 -012
Disponibilidade dos professores para os alunos 3,0 15,6 0,14 0,40 0,19 0.59 0,10 0,04
Assiduidade dos professores 20,0 2,5 -0,16 0,79 0,12 0,09 0.08 0,15
interesse dos professores pelas aulas 23,1 3,1 0,16 0,85 0,04 0,05 0,04 0,04
Clima institucional, motivação 6,3 12,5 0,30 0,65 0,08 0,27 0,10 0,13
Sistemas de avaliação 6,9 11,9 0,10 0,22 0.54 0,42 0,06 0.26
Oportunidades de recuperação 6,9 8.1 0,29 -0,03 0,62 0,13 0,18 0,21
Oportunidades de alunos avaliarem 1,3 30,0 0,25 0,22 0.71 -0,23 0.02 0.03
Flexibilidade na escolha de disciplinas 6,3 25,0 0,22 0,22 0,55 0,35 0,24 -0.25
Variedade das disciplinas 6.1 6,9 0,32 0,30 0,28 0,34 0,24 -0,08
Possibilidade de acompanhar matérias em outro turno 10,6 10,6 0,13 -0,11 0,50 0,37 0,10 0,22
Oferta de bolsas de iniciação científica 2,5 19,4 0,84 0,04 0.05 0,20 0.33 -0,08
Oferta da funções remuneradas (assistentes, etc.) 0.6 18,8 0,85 0,16 0,22 -0,01 -0.05 -0,02
Oferta de estágios 3,1 25,0 0,89 0,07 0,22 0,10 0,07 -0,10
Oportunidade de profissionalização 3,8 20,6 0,85 0,07 0.08 0,04 0,12 0.8

Uma outra questão indagava como o estudante via o curso em relação ao que imaginava antes de ingressar. O que predomina, sobretudo, é a surpresa e a desorientação, além da queixa sobre a carga de estudos, particularmente entre os alunos do curso noturno. Existe também uma noção muito forte de que o curso é "muito teórico", desligado da realidade. Do ponto de vista de orientação mais geral, 73% dos alunos acham que o curso não pode ser definido como técnico ou científico, mas também não tem uma tendência ideológica definida, com orientações que variam conforme cada professor.

QUADRO 13 - COMO VOCÊ VÊ HOJE O CURSO EM RELAÇÃO AO QUE VOCÊ IMAGINAVA ANTES DE INGRESSAR NELE?
  Diurno Noturno Total
Tem sido uma ótima experiência, supera em muito minhas expectativas (concordam) 25% 25% 25%
A carga de estudos é muito maior do que eu esperava 27% 47% 36%
As pessoas ficam muito soltas, sem orientação, e têm que descobrir sozinhas os caminhos que podem seguir 56% 55% 55%
O tipo de trabalho que se espera dos alunos é completamente diferente do que eu estava acostumado(a) 44% 47% 46%
A qualidade dos cursos e dos professores é pior do que eu esperava 8% 13% 10%
Os conteúdos dos cursos não correspondem ao que eu esperava 8% 6% 7%
O curso é muito teórico. sem ligação com a realidade 69% 71% 70%
O curso ensina muito mais do que será necessário na vida profissional 23% 29% 26%
O curso é muito superficial, e não proporciona os conhecimentos que serão necessários na vida profissional 31% 7% 19%

Este dados devem ser interpretados, pelo menos em parte, em termos de estratégia educacional dos alunos, que denominamos mais acima de "estratégia frouxa", e que implica um baixo compromisso com um projeto profissional e acadêmico bem definido, que pode levar a uma atitude de oposição a qualquer tipo de estruturação curricular mais forte. Isto significa que qualquer conclusão a que se pretenda chegar a respeito de possíveis alterações no curso, a partir destes dados, deve tomar em conta a conveniência ou não de buscar redirecionar esta estratégia.

PERSPECTIVAS DE TRABALHO PROFISSIONAL

8. As perspectivas de trabalho profissional se estruturam de maneiras diversas, que vão de um projeto de cunho acadêmico e de preocupação social a projetos individualistas de diferentes tipos. Existem preocupações e queixas quanto ao pouco apoio da universidade para a profissionalização dos alunos, e uma percepção, para muitos, de que a universidade proporciona. ou deveria proporcionar, as credenciais necessárias para o bom desempenho profissional.

Duas questões da pesquisa confrontavam os estudantes com baterias de itens sobre o que é importante na atividade profissional, e que fatores contribuem para a obtenção de uma situação profissional adequada. A análise destes itens combina dois tipos de informação. A primeira consiste no exame das percentagens de respostas sobre a importância ou irrelevância de cada item para o respondente; a segunda é uma análise fatorial entre todos os itens, para fazer ressaltar suas dimensões subjacentes. Os resultados constam do Quadro 14.

QUADRO 14 - PERCEPÇÃO DA ATIVIDADE PROFISSIONAL
  importância Fatores (Rotação Ortogonal)
Essencial Irrelevante Emprego Credencial Qualificação Apatia Iniciativa
I - Que importância você atribui a estes aspectos numa atividade profissional?
A possibilidade de aplicar as qualificações obtidas no curso 42,5 1,3 0,07 0,38 -0,44 -0,34 -0,27
A possibilidade de trabalhar em pesquisa 24,4 10,0 -0.24 0.22 0,57 0.06 -0,28
A possibilidade de prestigio e reconhecimento social 8,8 18.8 0,59 0,18 -0,13 0.10 -0,42
O salário 16.3 2.5 0,76 -0.11 0.05 0,11 0.02
A estabilidade no emprego 23,1 6,9 0,79 0,03 0.10 -0,06 0,13
Responsabilidades bem definidas, tarefas claras 32,5 7,5 0.72 -0.11 -0.05 -0.09 0,14
Boas possibilidades de promoção 13,8 13,1 0,85 -0,06 -0,07 -0,06 0.05
Um trabalho que exija ou desafie a gente 33.8 6,3 0,33 -0,02 -0,01 0,14 0,53
Um volume de trabalho bem definido e que deixe tempo livre 31.9 3,8 0,42 0,22 -0,10 0,42 -0,17
Possibilidade de concretização de idéias próprias 58,1 0.0 0,28 -0,01 -0,30 -0,09 0,56
Chances de ter influência politica 11,3 23.8 -0.24 -0,02 0,65 0,13 -0,33
Chances de continuar me qualificando 42,5 0,6 0,17 0,01 0,56 -0,10 0,03
Possibilidade de assumir funções de direção 13.1 21,9 0,62 -0.16 0,24 -0,16 --0.34
Possibilidade de fazer algo de útil a sociedade 46,9 1.3 -0,07 -0.02 0,61 0,17 -0,08
Independência, não estar subordinado a ninguém 29,4 20,6 0,11 0,10 0.16 0.51 0.20
II - De que fatores uma pessoa depende hoje para conseguir a situação profissional que deseja?*
Dependem principalmente das relações que se tem 60,6 3,8 0,10 -0.02 -0.01 -0,08 -0.37
Depende do desempenho na universidade 47,5 7,5 -0,03 0.62 -0,10 -0,30 -0.10
Depende basicamente de se obter o diploma da profissão 30,7 15,0 0,28 -0.32 -0,16 -0,11 -0.15
No fundo é uma questão de sorte 9,4 31,3 -0.05 -0,02 -0,12 0,74 -0.22
Depende das políticas e regulamentações do governo 35.7 8,1 0,01 0,25 0.28 0.55 -0.07
Depende do prestígio da escola 49,4 6,9 0,20 0,59 0,08 0.26 -0,30
Depende do apoio que a escola oferece para empregar seus alunos 52,4 7,5 0,02 0,71 -0,12 0.23 0.17
Depende da obtenção de título de pós-graduação 55,1 6.9 -0,09 0,63 -0,02 0,07 0.12
depende do reconhecimento oficial da profissão 65,7 4.4 0.10 0,62 0,09 0.18 -0.02
Muito importante" e importante na primeira coluna.

O primeiro dos cinco fatores corresponde a uma expectativa profissional ligada a um emprego seguro. Aqui, são coisas importantes a estabilidade, as perspectivas de promoção, uma delimitação clara de funções, a possibilidade de prestígio de reconhecimento social, e um bom salário. Pelas primeiras duas colunas do quadro, pode-se ver que a cerca de 25 a 30% dos entrevistados acham estas coisas essenciais, enquanto que entre 5 e 15% as considera irrelevantes (as percentagens exatas variam para cada ítem).

O segundo fator está ligado a uma perspectiva profissional, que depende sobretudo dos aspectos institucionais da profissão: o reconhecimento oficial da profissão, um título de pós-graduação, o empenho da escola em empregar os alunos, o prestígio e o desempenho da universidade. Este fator contrasta com o terceiro, onde o que predomina é a perspectiva de qualificação, a possibilidade de trabalhar em pesquisa, e a perspectiva de desempenhar uma atividade socialmente significativa.

O quarto e o quinto fatores refletem atitudes individualistas, mas de natureza bastante distinta. O quarto fator está associado principalmente. à noção de que o futuro profissional não depende da própria pessoa, mas sobretudo da sorte, ou de políticas governamentais que escapam do alcance de cada um. Ele vem associado negativamente à importância atribuida às qualificações obtidas no curso, e à expectativa de um trabalho independente e com bastante tempo livre O quinto fator, finalmente, cobre uma dimensão de iniciativa individual, com ênfase na importância do desafio pessoal e a concretização das próprias idéias, e rejeição da busca do reconhecimento social, da influência política e do papel do prestigio da escola e das relações pessoais na definição de alternativas profissionais.

O TRABALHO

9. Os cientistas sociais se dispersam por uma grande variedade de atividades profissionais, com maior concentração em órgãos governamentais do estado e do município. Apenas 25% acha que o trabalho tem uma relação forte com o curso superior, e metade acha que existe pouca ou nenhuma relação.

QUADRO 15 - CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO ATUAL
  Freqüência Porcentagem Percentagem dos casos válidos
a) Tipo de instituição
Governo federal 12 467 5,22
Governo estadual ou municipal 78 30,35 33,91
Empresa pública ou de economia mista 22 8.56 9.57
Empresa privada racional 50 19,46 21.74
Empresa privada multinacional 13 5,06 5.65
Organização pública não governamental 5 1,95 2.11
Entidade privada sem fins lucrativos 24 9.34 10.43
Autônomo 26 10.12 11.30
Não sabe, não responde 27 10,51 --
b) Setor de atividade
Comercial 11 4,28 4.74
Industrial 11 4,28 4,74
Agrícola 2 0.80 0.86
Serviços de assistência à comunidade 9 3,50 3.88
Serviço de utilidade pública 19 7,40 8,19
Serviço médico 7 2.70 3,02
Serviço técnico profissional 33 12,80 14,22
Serviço de lazer 1 0,40 0.43
Construção 3 1.20 1,29
Instituto de pesquisa 27 10,50 11.64
Ensino de segundo grau 19 7.40 8.19
Professor universitário 18 7.00 7.76
Professor em instituição isolada de ensino superior 4 1,60 1,72
Ensino particular 5 1.90 2,16
Serviços de segurança, forças armadas 1 0.40 0,43
Comunicações de massa 17 6,60 7.33
Produção artística e cultural 16 6.20 6,90
Sindicato, organização de classe 8 3.10 3,45
Astrólogo 2 0.80 0,86
Não se sabe, não responde 25 9,7 --
c) Situação no trabalho
Prestação de serviços, free lancer 18 6.23 6,53
Contrato temporário 21 8.17 8,57
Contrato efetivo 121 47,08 49,39
Funcionário autárquico ou público 16 6.23 6.53
Proprietário, sócio 14 5,45 5,71
Autônomo 40 15.56 16.33
Estagiário 1 0,39 0.41
Bolsista 16 6,23 6.53
Não se sabe, não responde 12 4.67 --
d) Tamanho da instituição
Até 50 funcionários 61 23,74 29.05
Mais de 50 funcionários 149 57,98 70,95
Não sabe, não responde, não se aplica 47 18.29 --
e) Tipo de atividade exercida
Gerência 29 11,28 12,50
Supervisão 8 3,11 3.45
Administração 11 4,28 4,74
Projetos 11 4.28 4,74
Execução e acompanhamento 18 7.00 7,76
Pesquisa 38 14,79 16,38
Pesquisa e desenvolvimento 3 1,17 1,29
Ensino 35 13,82 15,09
Ensino a pesquisa 14 5,45 8,03
Consultoria e assessoria 21 8,17 9,05
Produção 15 5,84 6,45
Vendas e representações 6 2,33 2,59
Atendimento e encaminhamento de clientes 11 4,28 4,74
Criação artística e cultural 8 3,11 3,45
Análise de sistemas 3 1,17 1,29
Outros 1 0,39 0.43
Não se sabe. não responde 25 9,73 --
f) Relação do curso com trabalho atual
Muito relacionado 66 25,68 26.83
Bastante relacionado 62 24,12 25,20
Pouco relacionado 64 24,90 26,02
Nada relacionado 54 21,01 21.95
Não sabe, não responde 11 4,28 --
Total 257 100% 100%

A atividade docente ocupa 22% dos cientistas sociais ativos (item e tipo de atividade exercida, última coluna), sendo que esta percentagem aumenta para 24,7% entre os que passaram ou estão cursando a pós-graduação. Quinze destes 22% ensinam em escolas de primeiro e segundo graus, e os demais no ensino superior. Como não existem disciplinas de primeiro e segundo graus que requerem licenciatura em Ciências Sociais, isto significa que este grupo trabalha em função de outras qualificações. O setor empregador que mais concentra cientistas sociais (34%) é o representado pelos governos estadual e municipal, que reúne tanto as principais universidades como a rede de escolas públicas e a administração direta e indireta da prefeitura da capital e do governo estadual. .A segunda categoria ocupacional para este grupo é a rede particular de escolas e instituições sem fins lucrativos (16,4%) e a terceira categoria é a dos autônomos (12%). Estas três categorias principais já cobrem um vasto universo de ocupações possíveis e os 47,6% de cientistas sociais restantes se distribuem por outras cinco classes de empregadores (governo federal, empresa pública, empresa privada nacional de pequeno e de grande portes, empresa multinacional).

APTIDÕES DESENVOLVIDAS NA UNIVERSIDADE E EXIGIDAS NO TRABALHO

10. Na percepção dos formados, o curso de Ciências Sociais não desenvolve aptidões necessárias ao trabalho em organizações complexas; por outro lado, a formação "cientifica" dada pelo curso não encontra aplicações.

Os dados para esta análise constam do Quadro 16, obtido da pesquisa de egressos. Os números próximos a 1 significam que o item é exigido no trabalho ou desenvolvido na universidade, o contrário valendo para os próximos de 3. É importante observar que muitas das competências exigidas pelo mercado de trabalho não são, normalmente, e possivelmente nem devam ser objeto de estudo ou formação universitária. No entanto, as discrepâncias são bastante sugestivas. As principais carências do curso em relação aos requisitos do mercado de trabalho são a capacidade de organização, programação e planejamento; a capacidade de cumprimento de prazos, normas e determinações: conhecimentos técnicos; treinamento para a administração e resolução de conflitos; e autoridade, a capacidade de se impor. Das habilidades que o curso proporciona, a única que é também demandada pela vida profissional é o pensamento crítico, a independência e a iniciativa.

QUADRO 16 - APTIDÕES EXIGIDAS NO TRABALHO E DESENVOLVIDAS NA UNIVERSIDADE (MEDIAS ARITMÉTICAS, ESCALA DE 1 A 3)
  Exigido no Trabalho Desenvolvido na Universidade Diferença
Capacidade de organização, programação e planejamento 1.30 2,36 -1,05
Sociabilidade, capacidade de relacionamento com outras pessoas 1,31 1.81 -0,50
Pensamento crítico, independência e iniciativa 1.38 1,40 -0,01
Cumprimento de prazos, normas e determinações 1,39 2,45 -1,06
Formulação, Redação 1,41 1,55 -0,13
Persistência, determinação, perseverança 1.42 2.11 -0.60
Capacidade de leitura e concentração 1,44 1.27 0.17
Conhecimentos técnicos 1,57 2,50 -0,92
Capacidade de falar em público, apresentar trabalhos, persuadir e defender posições 1.65 2.03 -0.38
Cultura geral 1,65 1,47 0.16
Resolução de conflitos 1,77 2,95 -1,17
Autoridade, capacidade de se impor 1.99 3,11 -1,12
Capacidade de coordenação de grupo de trabalho e de delegação de funções 2,04 2.83 -0,79
Pensamento não convencional 2,01 1,95 0,13
Aplicação de métodos científicos 2,15 1.94 0,22
Amplo horizonte científico 2,20 1,75 0,45
Contatos e redes de relações com pessoas influentes 2,31 3,17 -0,86
Língua estrangeira 2,45 2.94 -0,48
Senso de mercado 2,47 3,30 -0,82

CONCLUSÃO

Os dados da pesquisa sugerem que o curso de Ciências Sociais da USP desempenha funções diferentes para grupos distintos de pessoas, que podem ser agrupadas da seguinte forma: Além disto, a vida profissional mostra que o mundo do trabalho exige uma série de qualificações mais específicas, próprias do trabalho em organizações complexas, que o curso não proporciona.

Estas diversas funções se sobrepõem, se confundem e se sucedem no tempo, porque as pessoas nem sempre têm uma opção ou perspectiva profissional clara, e porque o curso é oferecido de maneira homogênea, sem apresentar alternativas bem definidas. O curso é dado de maneira tradicional, a partir de aulas expositivas, acompanhadas em certa medida por leituras dos alunos. Estes, por sua vez, organizam seus estudos sobretudo pelos seus gostos e preferências, sem um projeto de carreira ou formação profissional mais específico.

A gratuidade do curso, a existência de aulas à noite, a relativa facilidade do exame vestibular, a ausência de mecanismos mais estritos de controle de desempenho, tudo isto permite que os estudantes desenvolvam uma "estrategia frouxa"em relação a seus estudos, que, se não traz grandes benefícios, tampouco requer grandes investimentos, e que se manifesta no fato de que somente um em cada quatro estudantes que entra obtém finalmente seu diploma.

Do ponto de vista da universidade, haveria que examinar se os custos de manutenção de um curso com estas características, baseado em um corpo de professores em sua grande maioria em regime de tempo integral e dedicação exclusiva, justifica os resultados. E claro que uma avaliação deste tipo deve tomar em conta também os resultados dos cursos de pós-graduação, as atividades de pesquisa e extensão dos professores, e outros fatores. De qualquer forma, parece ser necessário reorganizar o curso de graduação de forma a atender de maneira mais focalizada e diferenciada os diversos grupos de pessoas que o procuram, e de maneira mais eficiente e produtiva. Esta reorganização poderia consistir no oferecimento de pelo menos duas ou três alternativas aos alunos logo no inicio do primeiro ano:
a) Um programa de formação científica e acadêmica mais estrito, com forte requisito de dedicação integral e desempenho, possibilidades de bolsa de iniciação científica, e perspectiva de encaminhamento para a pesquisa e pós-graduação em sociologia, ciência política, antropologia e áreas interdisciplinares. O número de alunos admitidos anualmente neste programa não deveria ser superior a 20 ou 25, com mecanismos bem definidos de desligamento dos que não conseguirem acompanhar o programa.
b) Um programa de informação geral sobre política e sociedade contemporânea, orientado para pessoas que não pretendam se profissionalizar nas Ciências Sociais. Este programa deveria ser baseado em materiais didáticos de excelente qualidade, e ser desenvolvido de forma modular, de maneira que possa atender não somente aos estudantes interessados em completar todo o programa e obter o bacharelado ao final, mas também na forma de cursos de extensão para pessoas interessadas em seguir apenas um ou dois módulos específicos, definidos em termos de conteúdos (módulos como "estudos sobre a sociedade urbana no Brasil", "política internacional contemporânea", "educação, ciência e tecnologia" etc.).
e) Um programa de formação técnica orientado para a profissionalização, com forte conteúdo de metodologias quantitativas e o desenvolvimento de competência administrativa e gerencial. Este programa, assim como o primeiro, deveria ser objeto de uma seleção específica e um número limitado de participantes, e um conjunto adequado de incentivos e mecanismos de acompanhamento e controle de qualidade.


Nota

1. A descrição do projeto e uma série de análises preliminares podem ser vistas em Simon Schwartzman e Maria Helena Magalhães Castro, Projeto de Pesquisa: A Trajetória Profissional dos Alunos da USP, NUPES, Documento de Trabalho 2/91, 19 páginas; Simon Schwartzman, Uma Universidade, Várias Trajetórias, NUPES, Análises Preliminares APl/91, 11 páginas; Maria Helena de Magalhães Castro e Simon Schwartzman, O Momento da Formatura, NUPES, Análises Preliminares AP2/92, 15 páginas, Maria Helena de Magalhães Castro e Jean-Jacques Paul, As Atividades Profissionais dos Ex-alunos da USP, NUPES, Análises Preliminares AP4/92, 19 páginas.
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