
Pobreza, exclusão social e modernidade:
uma introdução ao mundo contemporâneo
São Paulo, Augurium
Editora, 2004
Distribuição: Editora 34
Rua Hungria, 592 Jardim Europa
CEP 01455 000 São Paulo - SP Brasil
tel. (11) 3032.6755
fax (11) 3815.9977
email vendas@editora34.com.br
Prefácio
Primeira Parte: As raízes do mundo moderno
1 - Introdução: Pobreza, exclusão social, modernização
e modernidade
Modernidade e modernização
A visão anti-modernista
A visão moderna da sociedade: Adam Smith
Marx, o modernista
Os poderes do proletariado
A escória social
2 - As causas da riqueza
O mistério do crescimento: natureza e cultura, indivíduos
e instituições
Expansão imperialista na era do capital
3 - Pobreza e desenvolvimento industrial
Karl Polanyi: as leis dos pobres
Sociedade e mercado
4 - Colonialismo, dependência e cultura
Escravidão
Dependência
Culturas, civilizações e sociedades
Índia, na visão de V. S. Naipaul
México, por Octavio Paz.
Conclusão
5 - Trabalho, pobreza e exclusão social
Proletários, operários e empregados.
Os excluídos
Da antiga escravidão à pobreza moderna
A pobreza urbana nos Estados Unidos
Conclusão
Segunda parte: Globalização
6 - Da dependência à globalização
O Consenso de Washington
O impacto da globalização
7 - O fim do trabalho?
Os Ludditas
Tecnologia, globalização e desemprego
A qualidade e a natureza do trabalho
A globalização e a destruição dos empregos
Determinismos tecnológicos, sociais, políticos e de mercado
8 - A Sociedade do conhecimento
A fé moderna na educação e na ciência
As outras faces da educação: a reprodução social
e o credencialismo
Ciência e tecnologia: uma visão crítica
Terceira parte: ação
9 - Cidadania e direitos humanos
Cidadania
Direitos humanos
Direitos humanos e democracia
Direitos humanos e políticas públicas
Conclusão
10 - As agendas de reforma
Estabelecendo as agendas.
Das reformas econômicas às reformas sociais
Gerações de reformas
A economia política das reformas
11 - Perspectivas
O choque das civilizações?
"O fim da história": modernidade ou pós-modernidade?
Capital Social
Cultura e pobreza
O papel da história e das instituições
Modernização, pobreza e a construção de um futuro
melhor
Referências
Prefácio
Este livro pretende ser uma introdução aos grandes temas da modernidade
pelo ângulo da questão social. Trata do contraste entre modernização
e crescimento econômico, por um lado, e pobreza e exclusão social,
por outro. Trata também do debate entre modernidade e tradição,
na esfera cultural, da questão dos direitos humanos, de políticas
públicas menos ou mais efetivas no combate à pobreza e, como coroamento
de toda essa discussão, do pós-modernismo e do alegado "fim
da história".
A primeira versão foi escrita para um curso que dei na Universidade
de Harvard, no primeiro semestre de 2004. Quero crer que o curso tenha sido
bem recebido pelos alunos, e atribuo isso ao fato de ser bem diferente de
outros a que estavam acostumados. Nas universidades norte-americanas, as
questões tratadas neste livro são às vezes abordadas
de maneira particularizada, sem um marco de referência mais amplo
que lhes confira sentido e transcenda fronteiras disciplinares. No Brasil,
ocorre o oposto. Na maioria dos cursos de ciências sociais, os temas
são freqüentemente tratados em nível genérico,
tangenciando a filosofia ou as ideologias, em vez de incorporar o riquíssimo
acervo de pesquisas hoje existente, e que a cada dia se renova. Este livro
contém um pouco de cada um dos lados – discussões mais
amplas, de cunho histórico e filosófico, como nas partes sobre
pobreza e modernidade; e materiais mais novos e de base empírica,
como nas partes sobre cultura, desigualdade e implementação
de políticas públicas.
Sempre acreditei que é importante pensar a partir do contexto em
que vivemos, e esse contexto, hoje, não é somente nosso bairro
ou nosso país, mas o mundo globalizado. Os temas que abordo neste
livro fazem parte de uma grande conversa, uma grande reflexão, que
vem de longe, sobre o nascimento do mundo moderno e, cada vez mais, sobre
seu futuro e suas possibilidades. Também aqui, não me parece
existir outro caminho senão combinar o que herdamos dos grandes clássicos
das ciências sociais e da filosofia com o que vai sendo pesquisado,
testado e descoberto pela ciência social contemporânea.
O texto compõe-se de três partes. Na primeira, falo das raízes
do mundo moderno e recupero, em grandes linhas, alguns dos temas centrais
da história do pensamento social e econômico, como as origens
da riqueza e da pobreza e os efeitos da expansão da modernidade para
sociedades que não participaram diretamente de sua criação.
Central nessa história é o paradoxo da criação
simultânea da riqueza e da pobreza pela Revolução Industrial,
amplamente estudado por Karl Marx. Empenhei-me em reinterpretar esse paradoxo
e em reapresentá-lo em toda sua complexidade, valendo-me para isso
em particular do trabalho clássico de Karl Polanyi sobre esse tema,
que ele denomina "a grande transformação".
A segunda parte lida com o grande tema da atualidade, a globalização.
Sob essa rubrica, trato do impacto do sistema internacional sobre países
em desenvolvimento, como o Brasil, e discuto dois importantes temas que
tal impacto suscita: as transformações que vêm ocorrendo
no mundo do trabalho "conseqüência de novas tecnologias
e novos arranjos empresariais" e a emergência da chamada sociedade
do conhecimento, que nos leva a examinar temas ligados à educação
e ao complexo ciência e tecnologia.
Na terceira parte abordo, claro que sem a pretensão de exauri-la,
a grande questão prática de nosso tempo: como resolver os
problemas da desigualdade e da pobreza, que persistem apesar dos avanços
trazidos pela Revolução Industrial e pelo desenvolvimento
científico e tecnológico. Nessa perspectiva, é relevante
indagar como se formulam as agendas de reforma social, como se estabelecem
prioridades e que dificuldades se antepõem à implementação
de políticas por vezes bem concebidas. Igualmente importante é
evidenciar os contextos políticos nos quais se engendram diferentes
propostas de reforma.
No último capítulo, como conclusão, detenho-me em algumas
das indagações mais amplas que subjazem aos temas que explorei
ao longo do livro. O mundo em que vivemos é realmente integrado e
globalizado, ou um mundo dividido por incontornável confronto de
civilizações? Que devemos hoje entender por "cultura"?
Será esse conceito útil ao entendimento dos grandes problemas
e dilemas do mundo contemporâneo? Devemos supor que a história
e o passado, com seu peso e suas tradições, condicionam e
limitam nossas ações e conseqüentemente as possibilidades
de desenvolvimento da sociedade humana? Vivemos ainda no "mundo moderno",
como esse termo foi entendido desde séculos atrás, em função
da Revolução Industrial e da consolidação dos
estados nacionais, ou já entramos em uma nova era, a chamada pós-modernidade?
As respostas apresentadas ao longo do livro são as melhores que consegui
formular, o que não significa que sejam as únicas. O livro
vale menos pelas respostas do que pelas questões e dilemas que levanta.
Listei numerosas fontes bibliográficas no final do volume. Tanto
quanto possível, tratei de indicar fontes brasileiras, mas a maioria
das referências são em inglês, o que é inevitável.
Não compilei essa extensa lista para impressionar, mas para documentar
as fontes que utilizei e, principalmente, para orientar os leitores interessados
em se aprofundar nos temas tratados. Hoje, cada vez mais, as fontes podem
ser encontradas na internet e, sempre que possível, incluí
também essa indicação. É válido pensar
nas citações bibliográficas como hyperlinks abrindo
janelas para a exploração de todo um universo de possibilidades,
e espero que o livro possa ser utilizado dessa forma.
Sou grato ao David Rockefeller Center for Latin American Studies e ao Departamento
de Sociologia da Universidade de Harvard pelo convite para ocupar a cátedra
Robert F. Kennedy de Professor Visitante de Estudos Latino-Americanos na
primavera (norte-americana) de 2004, que me permitiu preparar este texto
e usufruir do convívio com seus professores, pesquisadores e estudantes.
Este livro não existiria sem o apoio de Bolívar Lamounier,
que não só me estimulou a publicá-lo pela Augurium
Editora, como fez uma leitura meticulosa do texto original e sugeriu caminhos
para melhorá-lo. Agradeço também a Bernardo Sorj pela
leitura, comentários e sugestões, sempre muito pertinentes;
a Micheline Christophe, pela cuidadosa tradução dos textos
para o português; e a minha filha Luisa Farah Schwartzman, socióloga
da novíssima geração, minha leitora mais crítica,
a quem este livro é dedicado.
Rio de Janeiro, agosto de 2004.
<