Pobreza, exclusão social e modernidade: uma introdução ao mundo contemporâneo


São Paulo, Augurium Editora, 2004

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Prefácio

Primeira Parte: As raízes do mundo moderno

1 - Introdução: Pobreza, exclusão social, modernização e modernidade

Modernidade e modernização
A visão anti-modernista
A visão moderna da sociedade: Adam Smith
Marx, o modernista
Os poderes do proletariado
A escória social
2 - As causas da riqueza
O mistério do crescimento: natureza e cultura, indivíduos e instituições
Expansão imperialista na era do capital
3 - Pobreza e desenvolvimento industrial
Karl Polanyi: as leis dos pobres
Sociedade e mercado
4 - Colonialismo, dependência e cultura
Escravidão
Dependência
Culturas, civilizações e sociedades
Índia, na visão de  V. S. Naipaul
México, por Octavio Paz.
Conclusão
5 - Trabalho, pobreza e exclusão social
Proletários, operários e empregados.
Os excluídos
Da antiga escravidão à pobreza moderna
A pobreza urbana nos Estados Unidos
Conclusão
Segunda parte: Globalização

6 - Da dependência à globalização
O Consenso de Washington
O impacto da globalização
7 - O fim do trabalho?
Os Ludditas
Tecnologia, globalização e desemprego
A qualidade e a natureza do trabalho
A globalização e a destruição dos empregos
Determinismos tecnológicos, sociais, políticos e de mercado
8 - A Sociedade do conhecimento
A fé moderna na educação e na ciência
As outras faces da educação: a reprodução social e o credencialismo
Ciência e tecnologia: uma visão crítica
Terceira parte: ação

9 - Cidadania e direitos humanos
Cidadania
Direitos humanos
Direitos humanos e democracia
Direitos humanos e políticas públicas
Conclusão
10 - As agendas de reforma
Estabelecendo as agendas.
Das reformas econômicas às reformas sociais
Gerações de reformas
A economia política das reformas
11 - Perspectivas
O choque das civilizações?
"O fim da história": modernidade ou pós-modernidade?
Capital Social
Cultura e pobreza
O papel da história e das instituições
Modernização, pobreza e a construção de um futuro melhor
Referências


Prefácio

Este livro pretende ser uma introdução aos grandes temas da modernidade pelo ângulo da questão social. Trata do contraste entre modernização e crescimento econômico, por um lado, e pobreza e exclusão social, por outro. Trata também do debate entre modernidade e tradição, na esfera cultural, da questão dos direitos humanos, de políticas públicas menos ou mais efetivas no combate à pobreza e, como coroamento de toda essa discussão, do pós-modernismo e do alegado "fim da história".

A primeira versão foi escrita para um curso que dei na Universidade de Harvard, no primeiro semestre de 2004. Quero crer que o curso tenha sido bem recebido pelos alunos, e atribuo isso ao fato de ser bem diferente de outros a que estavam acostumados. Nas universidades norte-americanas, as questões tratadas neste livro são às vezes abordadas de maneira particularizada, sem um marco de referência mais amplo que lhes confira sentido e transcenda fronteiras disciplinares. No Brasil, ocorre o oposto. Na maioria dos cursos de ciências sociais, os temas são freqüentemente tratados em nível genérico, tangenciando a filosofia ou as ideologias, em vez de incorporar o riquíssimo acervo de pesquisas hoje existente, e que a cada dia se renova. Este livro contém um pouco de cada um dos lados – discussões mais amplas, de cunho histórico e filosófico, como nas partes sobre pobreza e modernidade; e materiais mais novos e de base empírica, como nas partes sobre cultura, desigualdade e implementação de políticas públicas.

Sempre acreditei que é importante pensar a partir do contexto em que vivemos, e esse contexto, hoje, não é somente nosso bairro ou nosso país, mas o mundo globalizado. Os temas que abordo neste livro fazem parte de uma grande conversa, uma grande reflexão, que vem de longe, sobre o nascimento do mundo moderno e, cada vez mais, sobre seu futuro e suas possibilidades. Também aqui, não me parece existir outro caminho senão combinar o que herdamos dos grandes clássicos das ciências sociais e da filosofia com o que vai sendo pesquisado, testado e descoberto pela ciência social contemporânea.

O texto compõe-se de três partes. Na primeira, falo das raízes do mundo moderno e recupero, em grandes linhas, alguns dos temas centrais da história do pensamento social e econômico, como as origens da riqueza e da pobreza e os efeitos da expansão da modernidade para sociedades que não participaram diretamente de sua criação. Central nessa história é o paradoxo da criação simultânea da riqueza e da pobreza pela Revolução Industrial, amplamente estudado por Karl Marx. Empenhei-me em reinterpretar esse paradoxo e em reapresentá-lo em toda sua complexidade, valendo-me para isso em particular do trabalho clássico de Karl Polanyi sobre esse tema, que ele denomina "a grande transformação".

A segunda parte lida com o grande tema da atualidade, a globalização. Sob essa rubrica, trato do impacto do sistema internacional sobre países em desenvolvimento, como o Brasil, e discuto dois importantes temas que tal impacto suscita: as transformações que vêm ocorrendo no mundo do trabalho "conseqüência de novas tecnologias e novos arranjos empresariais" e a emergência da chamada sociedade do conhecimento, que nos leva a examinar temas ligados à educação e ao complexo ciência e tecnologia.

Na terceira parte abordo, claro que sem a pretensão de exauri-la, a grande questão prática de nosso tempo: como resolver os problemas da desigualdade e da pobreza, que persistem apesar dos avanços trazidos pela Revolução Industrial e pelo desenvolvimento científico e tecnológico. Nessa perspectiva, é relevante indagar como se formulam as agendas de reforma social, como se estabelecem prioridades e que dificuldades se antepõem à implementação de políticas por vezes bem concebidas. Igualmente importante é evidenciar os contextos políticos nos quais se engendram diferentes propostas de reforma.

No último capítulo, como conclusão, detenho-me em algumas das indagações mais amplas que subjazem aos temas que explorei ao longo do livro. O mundo em que vivemos é realmente integrado e globalizado, ou um mundo dividido por incontornável confronto de civilizações? Que devemos hoje entender por "cultura"? Será esse conceito útil ao entendimento dos grandes problemas e dilemas do mundo contemporâneo? Devemos supor que a história e o passado, com seu peso e suas tradições, condicionam e limitam nossas ações e conseqüentemente as possibilidades de desenvolvimento da sociedade humana? Vivemos ainda no "mundo moderno", como esse termo foi entendido desde séculos atrás, em função da Revolução Industrial e da consolidação dos estados nacionais, ou já entramos em uma nova era, a chamada pós-modernidade?

As respostas apresentadas ao longo do livro são as melhores que consegui formular, o que não significa que sejam as únicas. O livro vale menos pelas respostas do que pelas questões e dilemas que levanta. Listei numerosas fontes bibliográficas no final do volume. Tanto quanto possível, tratei de indicar fontes brasileiras, mas a maioria das referências são em inglês, o que é inevitável. Não compilei essa extensa lista para impressionar, mas para documentar as fontes que utilizei e, principalmente, para orientar os leitores interessados em se aprofundar nos temas tratados. Hoje, cada vez mais, as fontes podem ser encontradas na internet e, sempre que possível, incluí também essa indicação. É válido pensar nas citações bibliográficas como hyperlinks abrindo janelas para a exploração de todo um universo de possibilidades, e espero que o livro possa ser utilizado dessa forma.

Sou grato ao David Rockefeller Center for Latin American Studies e ao Departamento de Sociologia da Universidade de Harvard pelo convite para ocupar a cátedra Robert F. Kennedy de Professor Visitante de Estudos Latino-Americanos na primavera (norte-americana) de 2004, que me permitiu preparar este texto e usufruir do convívio com seus professores, pesquisadores e estudantes. Este livro não existiria sem o apoio de Bolívar Lamounier, que não só me estimulou a publicá-lo pela Augurium Editora, como fez uma leitura meticulosa do texto original e sugeriu caminhos para melhorá-lo. Agradeço também a Bernardo Sorj pela leitura, comentários e sugestões, sempre muito pertinentes; a Micheline Christophe, pela cuidadosa tradução dos textos para o português; e a minha filha Luisa Farah Schwartzman, socióloga da novíssima geração, minha leitora mais crítica, a quem este livro é dedicado.

Rio de Janeiro, agosto de 2004.

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