Não é no grito que se chega lá


Título:

Pobreza, Exclusão Social e Modernidade: Uma Introdução ao Mundo Contemporâneo

Autor:
Simon Schwartzman

Não é no grito que se chega lá
Por Eduardo Belo.

Publicado originalmente no jornal
Valor Econômico, no caderno EU&, de 05, 06 e 07/11/2004.



A globalização, estrada sem retorno, pode conter saídas para nossos males históricos, diz sociólogo.

Recado para os idealistas: esqueçam a idéia de frear a globalização, parem de gritar protestos. E compreendam: o combate à pobreza e à desigualdade não pode ser dissociado de limites e possibilidades estabelecidos pela própria globalização. A mensagem é do sociólogo Simon Schwartzman e - de modo bem menos simplificado, claro - está no livro Pobreza, Exclusão Social e Modernidade: Uma Introdução ao Mundo Contemporâneo, lançado pela editora Augurium, do cientista político Bolívar Lamounier.

O autor define seu trabalho como uma discussão histórica, que tem como tema central o avanço da ciência e da tecnologia e os problemas que acompanham o crescimento da riqueza pelo mundo. Schwartzman procura mostrar que o processo de globalização é irreversível e que quem quiser solucionar a questão da pobreza no mundo terá de começar a pensar em como fazê-lo dentro das regras do jogo. Não dá para fugir desse contexto.

Doutorado em ciência política pela Universidade de Berkeley (EUA) e dono de extensa produção bibliográfica, Schwartzman concebeu o livro como a linha geral de um curso que ministrou, no primeiro semestre, para alunos de várias partes do mundo na Universidade de Harvard. O autor diz ter se aproveitado da rica discussão sobre pobreza que se desenvolve nos EUA para trazer à reflexão alguns elementos novos.

Um dos principais aspectos é o papel histórico das instituições na condição econômica dos povos. Para isso, ele levou ao debate questões pertinentes ao tema para as economias de países como Índia e México. Não há capítulo ou tópico específico sobre o Brasil, mas a situação brasileira transpassa toda a obra.

Uma questão permeia o livro: por que alguns países conseguem resolver os seus problemas e outros não? A resposta, segundo Schwartzman, está no processo histórico. Países que foram ricos no passado, como Portugal e Espanha nos séculos XVI e XVII, passaram a ter dificuldade para preservar essa condição, a partir de determinado momento, por que criaram uma estrutura de poder e de desigualdade social que acabou afetando sua própria capacidade de manter o equilíbrio social e a riqueza.

Países como o Brasil, e toda a América Latina, acabaram herdando essa estrutura, praticamente a legitimaram e pagam por isso até hoje. A culpa é nossa, não dos outros, sentencia o sociólogo. É claro que o mundo lá fora cria problemas, mas não são esses problemas a causa dos nossos males, diz.

O livro também transita por temas como identidade cultural, educação, capital social, cidadania e direitos humanos, e pela tendência atual de se ver a questão social do ponto de vista do direito, afirma Schwartzman. No prefácio, o autor afirma que seu livro pretende ser uma introdução aos grandes temas da modernidade pelo ângulo da questão social.

Dividido em três partes, Pobreza, Exclusão Social e Modernidade... procura, de início, desenhar o surgimento do mundo moderno a partir da evolução do pensamento social e econômico. Desse ponto em diante, o autor analisa a pobreza e a riqueza como efeitos do processo histórico e suas implicações para os povos ou grupos sociais que não foram os atores diretos da consolidação da ordem global e acabaram, por isso, tornando-se agentes passivos. Schwartzman dá atenção especial ao paradoxo que fez os dias de hoje serem o que são: a geração simultânea de riqueza e pobreza pela revolução industrial.

A segunda parte envereda diretamente pela globalização, seus impactos sobre os chamados países emergentes, as mudanças nas relações de trabalho e as demandas cada vez maiores por ciência e tecnologia oriundas da sociedade da informação (ou do conhecimento, como prefere o autor).

O debate sobre a solução dos problemas causados pelo desenvolvimento econômico fica para o final. Ali está um dos assuntos mais caros à social-democracia: a reforma social do mundo. Nesse ponto, o autor discorre - sem a pretensão de exaurir o tema - sobre as razões da persistência da pobreza e da desigualdade em paralelo com a tecnologia, a integração econômica mundial e a prosperidade da parcela rica do globo.

Fonte:
Jornal Valor Econômico. <