Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo


Acabou de sair, pela Editora Record, o livro Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo, que reune mais de 50 textos do debate sobre raça, racismo e desigualdades no país que resultou na Carta Pública “Todos têm direitos iguais na República Democrática”, criticando a lei que estabelece as cotas raciais nas instituições federais de ensino superior (Projeto de Lei das Cotas Raciais ou PL 73/1999) e ao chamado Estatuto da Igualdade Racial (PL 3198/2000).

Minha contribuição é um texto denominado “Das estatísticas de cor ao estatuto da raça”, que está também disponível no meu site.

O livro está disponível nas livrarias, e pode ser comprado pela Internet na Livraria Cultura e outros distribuidores.

Author: Simon Schwartzman

Simon Schwartzman é sociólogo, falso mineiro e brasileiro. Vive no Rio de Janeiro

7 thoughts on “Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo”

  1. Olá para quem se interessa, por uma opinião séria.
    Meu pai é negro, minha mãe é “branca”, eu nasci de cor amarela, cor não significa raçã sou contra aqueles questionários que tem de se responder de que cor/raça nos pertencemos,eu sou da cor que me vejo no espelho, tão amarela, que até parece gema de ovo. Não gosto de ser chamada de parda ou branca me auto nomeio,pelo que eu me vejo, não gosto de ser chamada de branca , eu não sou branca,sinceramente não entendo essa questão social de nomearem as pessoas assim que nascem de brancas,isso só porque a pele naqueles dias é clara,mas no decorrer do tempo a cor da pele pode mudar, sem falar que pra pessoa ser considerada branca tem de ser branca pura desde seus antecedentes. Desculpe, mas sou a favor das pessoas que se autonomeiam,baseado na coloração que se veêm frente com o espelho. Obrigada!

  2. Na verdade tanto pardo quanto negro quanto branco são invenções, não é, já que raças não existem biologicamente. Existem pessoas com diferentes aparências físicas, com diferentes ancestralidades e experiências de vida, e que sofreram diferentes conseqüências dessas invenções historicamente. Então a questão não é se é invenção ou não mas que tipo de invenção é, quem inventa e com quais conseqüências.
    E claro que a palavra “pardo” ou “mulato” é mais valorizada que a palavra “negro” no Brasil e que isso implica uma rejeição das raízes africanas, da cor de pele mais escura etc. Mas eu andei entrevistando alunos da UERJ e constatei que para algumas pessoas essa questão é mais complicada que isso, porque elas têm pessoas na família que seriam consideradas brancas e negras (e as vezes indígenas), que são muito próximas delas, e a aparência física delas as vezes é ambígua. Então muitas vezes a questão de se essa pessoa é negra ou não depende da situação, porque essa pessoa pode ser vista (e se ver) como negra em algumas situações e não em outras.
    E quanto mais alta a classe social da pessoa “negra” maior a chance de que ela vai ter parentes próximos “brancos”, e por isso ter a pele mais clara. Isso porque tem mais brancos no topo da pirâmide social e menos negros, então as pessoas negras com mobilidade ascendente tem menos chance de se relacionar (casar, fazer amigos) com negros do que com brancos, então têm mais chance de ter filhos em famílias que você poderia chamar de “multirraciais”. Isso está mudando aos poucos, eu acho, porque tem mais negros indo pra faculdade, e porque o ideal do embranquecimento já não e tão forte quanto antes, mas eu acho que ainda acontece, e principalmente aconteceu com os pais de muitos jovens potencialmente “negros” que estão prestando vestibular hoje.
    Então o que eu estou querendo dizer é que a questão da “miscigenação” e das categorias intermediarias tem ideologia sim, mas não é só ideologia, tem a ver com a experiência de vida de algumas pessoas também.

  3. Prezado Antonio Orlando,

    Na verdade tanto pardo quanto negro quanto branco sao invencoes, nao e’, ja’ que racas nao existem biologicamente. Existem pessoas com diferentes aparencias fisicas, com diferentes ancestralidades e experiencias de vida, e que sofreram diferentes consequencias dessas invencoes historicamente. Entao a questao nao e’ se e’ invencao ou nao mas que tipo de invencao e’, quem inventa e com quais consequencias.
    E’ claro que a palavra “pardo” ou “mulato” e’ mais valorizada que a palavra “negro” no Brasil e que isso implica uma rejeicao das raizes africanas, da cor de pele mais escura etc. Mas eu andei entrevistando alunos da UERJ e constatei que para algumas pessoas essa questao e’ mais complicada que isso, porque elas tem pessoas que seriam consideradas brancas e negras (e as vezes indigenas) na familia, que sao muito proximas delas, e a aparencia fisica delas as vezes e’ ambigua. Entao muitas vezes a questao de se essa pessoa e’ negra ou nao depende da situacao, porque essa pessoa pode ser vista (e se ver) como negra em algumas situacoes e nao em outras.
    E quanto mais alta a classe social da pessoa “negra” maior a chance de que ela vai ter parentes proximos “brancos”, e por isso ter a pele mais clara. Isso porque tem mais brancos no topo da piramide social e menos negros, entao as pessoas negras com mobilidade ascendente tem menos chance de se relacionar (casar, fazer amigos) com negros do que com brancos, entao tem mais chance de ter filhos em familias que voce poderia chamar de “multi-raciais”. Isso esta’ mudando aos poucos, eu acho, porque tem mais negros indo pra faculdade, e porque o ideal do embranquecimento ja’ nao e’ tao forte quanto antes, mas eu acho que ainda acontece, e principalmente aconteceu com os pais de muitos jovens potencialmente “negros” que estao prestando vestibular hoje.
    Entao o que eu estou querendo dizer e’ que a questao da “miscigenacao” e das categorias intermediarias tem ideologia sim mas nao e’ so’ ideologia, tem a ver com a experiencia de vida de algumas pessoas tambem.

  4. Prezado Marco Pereira

    Pardo é uma criação brasileira. Visto que a diferença entre pardos e negros é inexistnte – a olho nú. Assim como moreno e outras.

    Na verdade, pardo é mais uma forma de divisionismo da comunidade negra, fazendo-nos crer que seremos menos discriminados se nos assumirmos como não negros.

    O que seria ser branco no Brasil? Quantas tonalidades de branco existem? E quantas tonalidades de cores existem entre o branco e o negro?

    Essa história de pardo e muito mais uma jogada política, sobretudo, de tentativa de embranquecimento da população brasileira.

    Ao colocarem os negros como minoria desautorizam suas reivindicações.

    Um abraço.

  5. Prezado Antonio Orlando,

    O que você acha de uma política de apoio/incentivo baseada totalmente na questão censitária? Eu creio que seria o melhor caminho a seguir. Ela naturalmente, acabaria por prestar reparo à comunidade negra, mas sem criar tanto divisionismo. Afinal, como defender a aplicação uma política de cotas raciais em regiões onde tal população é incipiente e onde existem também brancos e pardos pobres e marginalizados? A população negra no Sul, Centro-Oeste e Norte não é tão significativa e, quando há, concentra-se em determinadas subregiões. Não seria mais fácil condicionar a concessão dos incentivos baseando-se numa consulta à base de informações da Receita Federal, por exemplo?

  6. Prezado Simon

    A cruzada de alguns intelectuais brasileiros na defesa, segundo eles, da harmonia e paz racial no Brasil é tocante – curioso notar, no entanto, que ela surge exatamente quando setores da comunidade negra denunciam a exclusão social e econômica, em geral, dos não brancos, isto, é negros e setores das comunidades indigena em razão, principalmente, do preconceito e racismo a que estão, desde sempre, submetidos.

    O racismo e preconceito entranhados no imaginário racial brasileiro – todavia -, nunca assumidos.., visto que sempre imputamos a culpa pelas seculares desigualdades dos negros no Brasil, a razões sociais e não a causas raciais é, na verdade, o grande vilão.

    Por outro lado, é interesante notar, por meio de uma rápida análise dos sobrenomes envolvidos nesse projeto,que a maioria esmagora dos participantes é confessadamente e inequivocadamente de origem européia – com certeza os maiores beneficiados pelo sistema de cotas [que não começou com as ações afirmativas para negros] de imigração – posto que as levas de imigrantes europeus e japoneses que aportaram [com passagens e subsídios para lavoura e negócios afins pagos pelo governo brasileiro – eram desses dis continentes. Isso enquanto, na metade do século 19, os negros, no Brasil, sofriam com desemprego e fome, isto é, total indigência.

    Além disso, o decreto 7967 de 1945, assinado pelo Presidente Getúlio vargas – sobre a imigração – diz: “Atender-se-á, na adimissão dos imigrantes, a necessidade de preservar e desenvolver na composição étnica da população, as caracteriticas mais convenientes de sua ascendência européia, assim como a defesa do trabalhador nacional”, ou seja, o branqueamento do Brasil, inciado no final do século 19 perpetuou-se até a metade so século 20 .

    Ademais, a vinda de chineses, negros e outros grupos étnicos – até o final do século 19 – não eram insentivadas e, não raro, quase proibidas por receio de macular esse projeto inequivoco de branqueamento da população.

    Em 1960, com a lei Afonso Arinos que punia todas as atitudes discriminatórias raciais, as Congregrações religiosas do Brasil tiraram de seus estatutos e normas internas a proibição de negros/as, mestiços/as de entrarem para a vida religiosa.

    Eu poderia listar inúmeros outros exemplos de situações e leis que, ao longo desses 500 anos de Terras Brasilis, imposibilitaram ao negro maior mobilidade economica e social em virtude – principalmente – do preconceito racismo tão presente e engendrado no cotidiano das nossas cidades e que, sobretudo, permanece no Brasil contemporâneo travestido de democracia racial.

    A argumentação de que não há raças é irrelevante no discurso pró ou contra ações afirmativas, visto que o negro não é discriminado por pertencer à raça negra. No entanto, e, sobretudo, por ter a pele escura e, acima de tudo, por ser diferente e não se enquadrar no ideário e ideal estético que setores, não raro brancos e que deteem o poder econômico no Brasil, definiram e definem como ideais para a nossa auto imagem, ou seja, branco e europeu.

    Oracy Nogueira, dizia que no Brasil temos o racismo de marca e nos Estados Unidos de origem, isto é, no Brasil vale o que aparentamos ser – entre o mulato, negro e o pardo -, enfim – todos negros – as difrenças são imperceptíveis aos olhos do preconceito/racismo pela simples razão de que o preconceito racismo é daltônico, logo, incapaz de perceber nuances.

    Na realidade, importa mais o olhar diferenciado e cheio de reservas de todas as ordens com que determinados setores da sociedade brasileira olham o negro. Nesse sentido, a pele escura é um estigma do qual ele negro, mulato e pardo – enfim – todos negros – não conseguem escapar.

    Em cima disso, ao contrário do que apregoa Ali Kamel o Brasil é bicolor – desde sempre – e a miscigenação é, na real, um discurso politico para desestabilizar e dividir a comunidade negra.
    Dividido e excluído nesse mapa social e econômico, o negro ocupa, no Brasil, a base da pirâmide social e economica e, ademais, exilado nas periferias, guetos das grandes cidades,bem como hospede preferencial das suas prisões e além de alvo preferencial de eventuais chacinas – onde vidas de jovens negros – em sua maioria – são ceifadas ainda quase infantes.

    Virou moda dizer que o Brasil é um país mestiço tudo bem: todos daqui em diante vamos, no senso do IBGE,vamos declarar-nos mestiços…

    Acreditarei que o Brasil não é um país bicolor e, em virtude disso, dividido até a medula quando encontrar os negros [mulatos e pardos inclusos] – proporciornalmente – representados em todos os estratos sociais do Brasil e morando no Morumbi, Jardins, Pinheiros etc.., e no Rio – ocupando a Zona Sul e não os morros.

    Prezado Simon, vocês estão falando de algo que eu vivencio há 50 anos e que, sobretudo não aprendi nos livros., mas – infelizmente – de forma nada agradável na lida diária e não há intelectual que me convença do oposto.

    Acredito que falta um pouco mais de humildade de quem é contra as ações afiramtivas de entender que vocês não são, em absoluto, donos da verdade – principalmente – quando falam de uma realidae – a do negro – que lhes é totalmente alheia, isto é, encastelado em seus apartamentos e casas vocês se arvoram a decodificar uma realidade e expriência que nunca tiveram.

    Antonio Orlando Alves da Silva
    Um negro brasileiro

  7. Olá, Simon. Minha opção, dentre as duas que você estabeleceu em seu texto, é a primeira. Eu, particularmente nunca me enxerguei como branca, amarela, parda ou negra, nunca assumi uma “identidade de cor”, apesar de reconhecer o fardo da escravidão na história do nosso país e as discriminações para com as pessoas de pele escura. De qualquer forma, nos cadastros que preencho, onde existe o campo ‘cor’, não informo esse dado, e gostaria de ser respeitada nessa minha escolha. Estou para ler o seu “As causas da pobreza”. Um abraço.

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