Avaliando a Educação Média no Brasil |Benchmarking secondary education in Brazil

Em 3-4 de maio de 2010 participei de um seminário organizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Ministério da Educação, em parceria com a OECD, sobre as melhores práticas de educação secundária, em uma perspectiva internacional. A questão principal que me tocou foi discutir em que medida um indicador como o IDEB, desenvolvido pelo INEP para avaliar e estabelecer metas para a educação fundamental, poderia ser também utilizado para avaliar a educação media, ou secundária. O texto que apresentei, em versão inglesa, está disponível aqui. A versão em português ainda não existe,

O IDEB, Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, combina informações sobre os resultados de provas de português e matemática com informações sobre fluxo – quantos estudantes que iniciam uma série a terminam com sucesso no final do ano. Assim, uma escola com bons resultados nos testes, mas muitas reprovações e abandono, fica tão ruim no índice quanto uma escola com resultados medíocres mas que passa todo mundo.  O objetivo é transmitir a  mensagem de que as boas escolas precisam mostrar bons resultados e não reprovar, o que é importante para o Brasil, que tem uma triste tradição de reprovar e nem por isto proporcionar um ensino de qualidade. No entanto, a gente fica sem saber, muitas vezes, o que um valor neste índice significa mesmo; eu preferiria manter os dois indicadores separados.

O problema maior é quando se pretende usar o IDEB para o ensino médio. No Brasil,  “educação básica” significa fundamental (de 9 anos) e média (de 3 anos).  Mas a prova Brasil, aplicada nas escolas para os alunos de 4a. e 8a. série (ou 5o. e 9o. ano no novo sistema)  não foi aplicada para o ensino médio. Então, o IDEB, apesar do nome, não existe para o ensino médio por escola.  Nunca vi uma explicação para isto, mas o fato é que a única informação disponível sobre o desempenho do ensino médio é o SAEB, que é uma prova amostral, que serviu de base para elaborar a prova Brasil, mas que só permite dar o IDEB de um estado como todo,  não das escolas individualmente.  O SAEB do ensino médio ainda inclui uma prova de ciências, também amostral.

Qual seria o problema de fazer com o ensino médio o que já se faz com o ensino fundamental?  Me parecem que existem dois problemas, um ligado ao outro.  O primeiro é que, enquanto o acesso ao ensino fundamental no Brasil está quase totalmente universalizado, o acesso ao ensino médio ainda é muito limitado, com menos de 50% dos jovens de 15 a 17 anos estudando neste nível, e  não está crescendo como deveria.  Para o ensino fundamental, o IDEB lida com um problema importante, que é o do atraso escolar; ele é impotente, no entanto, para captar o problema do ensino médio, que é, além da repetência e do atraso escolar, o grande número de jovens que nunca chegam lá.

O segundo problema, ligado ao primeiro, tem a ver com o fato de que no Brasil só existe, na prática, uma modalidade de curso de nível médio, que é o acadêmico, cheio de cursos pendurados, influenciado pelos requisitos dos exames vestibulares. Em  todos os países que conseguiram universalizar, ou quase, o ensino médio, existem diferentes alternativas de estudo e formação para os jovens, algumas mais acadêmicas, outras voltadas para o mercado de trabalho, seja em escolas ou redes escolares diferentes, seja em escolas “abrangentes” que oferecem diferentes alternativas e programas de estudo para diferentes estudantes.

Este é um problema muito central do ensino médio brasileiro, que explica pelo menos em parte porque tantas pessoas nunca completam este nível,  e a aplicação do IDEB para este segmento teria uma conseqüência bastante negativa, que seria a de reforçar o modelo único do ensino médio do qual precisamos evoluir.  Este problema também ocorre com o ENEM, que, apesar de incluir diferentes áreas de formação, não dá realmente opções para os estudantes, que têm que se sair bem em toda a prova, e desta forma reforça a camisa de força do currículo do ensino médio.

Author: Simon Schwartzman

Simon Schwartzman é sociólogo, falso mineiro e brasileiro. Vive no Rio de Janeiro

3 thoughts on “Avaliando a Educação Média no Brasil |Benchmarking secondary education in Brazil”

  1. Professor
    E o que dizer do Senai? Não deveríamos estimular o aperfeiçoamento e a abrangência de tais cursos, inclusive em âmbitos privados?

  2. Simon,

    Primeiro uma correção. Não existe prova de Ciências no SAEB de ensino médio. Existiu apenas em 1999 e depois disso, apesar de muitos concordarem não houve avanços.

    Hoje sabemos muito mais sobre o IDEB e sobre suas limitações também.

    Em um sistema completamente em equilíbrio com altas taxas de aprovação, o IDEB cumpre bem sua função de síntese dos resultados educacionais da escola e do sistema. Mas no caso do ensino médio das escolas públicas brasileiras temos dois problemas diferentes ambos sérios: o abandono e o pouco aprendizado. Estes problemas exigem políticas diferentes, e, portanto, talvez você tenha razão dois indicadores.

    Além disso, o IDEB para o ensino médio não contempla o sério problema dos abandonos DURANTE o ano. Como o IDEB considera a taxa de aprovação das diferentes séries, capta o abandono de alunos que ocorreu no primeiro e segundo anos do ensino médio. Mas não capta o abandono ocorrido no terceiro ano, que é também elevado, embora menor.

    Como já disse em outras ocasiões o IDEB deixa abertura à possibilidade de seleção de alunos para o teste, como estratégia de aumentar o valor do indicador.

    Meu abraço

  3. Professor Schwartzman,
    por que ninguém investe na verdadeira instituição educacional falida no Brasil, A FAMÍLIA. Este estudos seus provocam um resultado satisfatório, mas não dá conta de modificar essa educação marxista, de inclusão social, e sem qualidade das escolas. Sua luta pela educação no Brasil, é como a luta de um tailandês tentando sobreviver ao Tsunami.
    Além do mais, por que não produzimos mais poetas à altura de um Drummond, Murilo Mendes, Manuel Bandeira, por que o mundo moderno não deixa?
    Cordialmente,

    Jayme Neto.

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