Escrevem Bernardo Sorj e Mauricio Lissovsky, sobre o comentário de Rafael Parente à pesquisa que realizaram sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas esolas municipais do Rio de Janeiro:
1) Nossa pesquisa não pretende avaliar a atuação da Secretaria de Educação, nem no passado, nem no presente. Para tanto teríamos necessidade de uma serie histórica que permitissem comparações. Nosso objetivo limitou-se, a partir das percepções e atitudes dos professores que responderam o questionário, a identificar problemas e contribuir para a sua solução. Não procuramos verificar qual é a porcentagem de escolas com laboratórios ou em quantos deles há conexão eficiente com a Internet. Visava antes perceber de que modo estes e outros fatores são percebidos pelos professores e de que modo afetam o uso que fazem da informática em suas escolas e na relação com os alunos.
2) Rafael Parente menciona o estudo da Oi Futuro e do Instituto Desiderata. Procuramos obter os resultados e os questionários utilizados. Sem resultado. Ele menciona que a pesquisa da Oi Futuro indica que mais de 80% dos professores consideram que capacitações relacionadas à utilização das TICs são as mais importantes para sua atuação profissional. E que a pesquisa da Desiderata “concluiu que professores não só desejam utilizar mais computadores conectados, mas também que acreditam que novas tecnologias e novas mídias são elementos essenciais para que “a escola se torne um lugar melhor para estudar e ensinar”. São afirmações fortes, e não tendo acesso aos questionários e a forma em que foram elaboradas as perguntas (que como sabemos influenciam a resposta) fica difícil mensurar exatamente o que elas revelam. Na nossa pesquisa não perguntamos a relevância que os professores atribuem à capacitação (afinal qualquer valor inferior a 80% entre professores, seria surpreendente!). Estávamos antes interessados em saber que influência tiveram as capacitações na frequência do uso dos recursos de informática educativa nas escolas. E a resposta que alcançamos aqui, por exemplo, é que as capacitações realizadas até 2009 tiveram algum impacto positivo entre os professores do primeiro segmento, apenas. No que diz respeito ao conjunto do professorado, o domínio de ferramentas de internet pelo professor (independente de onde tenha adquirido este domínio) mostrou-se mais determinante que outros fatores. Seria possível comparar melhor os resultados se fossem disponibilizados os materiais das pesquisas realizadas pela Oi Futuro e Desiderata.
3) Nossa pesquisa foi realizada a fins de 2009. Por mais que uma gestão competente possa realizar em um ano (na verdade menos, pois a pesquisa da Oi futuro foi feita no segundo semestre de 2010), é bastante improvável que mudanças radicais (a não ser, eventualmente, as da infraestrutura física) possam ter ocorrido no que diz respeito à apropriação destes recursos pelos professores, a intensidade do uso dos equipamentos, etc. Afinal, o processo de internalização de uma “informática educativa” nas escolas do município teve início há quase 15 anos e se trata de um processo de longa duração. Inclusive porque, como indicamos no nosso artigo, deve enfrentar um grupo de professores que terá dificuldades de adaptação.
4) O mais importante, a nosso ver, é evitar que o debate sobre politicas publicas tome a forma de criticas destrutivas (ou interpretadas como tais) feitas pelos que estão “fora” e defesas ufanistas do que está sendo feito pelos que estão “dentro” do aparelho publico. Nosso estudo visa melhorar o trabalho realizado pelas instituições públicas, que implica em identificar problemas e abrir o debate sobre um tema extremamente complexo, como é uso da informática nas escolas, sobre o qual existem mais interrogantes que respostas. Estudos feitos por agentes externos ao aparelho estatal são fundamentais para aumentar a credibilidade, a transparência e a qualidade das politicas públicas, e visam o dialogo, não o confronto ou atitudes defensivas.
Bernardo e Maurício,
Não vejo críticas destrutivas ou defesas ufanistas nesse debate. Estamos conversando sobre metodologias, linguagens, dados e a interpretação de um corte da verdade. Precisamos estimular essas conversas entre formuladores de políticas e pesquisadores aqui no Brasil. Aliás, gostaria de agradecer e parabenizar o Simon pelo criação desse espaço democrático.
Sobre a pesquisa do Instituto Desiderata, vocês podem obter informações por esse link: http://www.desiderata.org.br/o-que-fazemos/educacao/megafone-na-escola/index.shtml. Sobre a do Instituto Oi Futuro, eles me asseguraram que a divulgação (já muito atrasada) acontecerá ainda essa semana.
Fiz questão de escrever uma nota cheia de detalhes porque a secretária Claudia Costin e eu ficamos preocupados com a interpretação da frase “Se as injunções políticas obrigam a agir sem ter clareza inicial dos objetivos e custos envolvidos, nunca é tarde para assumir a responsabilidade e aumentar a transparência sobre o que está sendo feito”, principalmente porque a pesquisa de vocês foi conosco. Como você sabe, institutos de pesquisa têm acesso irrestrito aos nossos dados e a transparência e a qualidade das políticas públicas são nossas prioridades.
Agradeço a vocês também pela pesquisa realizada e convido para dar continuidade no trabalho.