Como garantir que todos os alunos brasileiros tenham um bom professor todos os dias na sala de aula?

Transcrevo o anúncio de um edital de apoio à pesquisas em educação  da Fundação Lemman e Itaú BBA:

A Fundação Lemann e o Itaú BBA estão lançando novo edital de pesquisas para fomentar estudos de qualidade, que possam embasar políticas e projetos em educação. Os projetos submetidos devem responder ou trazer elementos que ajudem a responder a pergunta: “Como garantir que todos os alunos brasileiros tenham um bom professor todos os dias na sala de aula?“.

A iniciativa do edital nasce da constatação de que embora sejam feitos cada vez mais estudos sobre políticas educacionais, são raras as pesquisas que se destacam tanto pelo uso de metodologias rigorosas como pela compreensão aprofundada da realidade educacional. Também é possível identificar espaço para pesquisas mais inovadoras, que discutam desafios já conhecidos da educação sob novas perspectivas.

Nesse contexto, os projetos financiados pelo Edital deverão combinar alto rigor metodológico e aplicabilidade prática, resultando em pesquisas com conclusões e orientações de política que se atentem à realidade institucional, aos desafios, riscos e oportunidades de implementação.

Para selecionar as pesquisas e definir as diretrizes do edital, a Fundação Lemann e o Itaú BBA montaram uma Comissão Julgadora de altíssimo nível, composto por profissionais de perfis diversos: David Plank, Joane Vilela, Marcos Rangel, Paula Louzano, Priscila Cruz, Regina Scarpa, Reynaldo Fernandes e Ruben Klein.

A Fundação Lemann e o Itaú BBA disponibilizarão o valor total de R$1 milhão para financiar de dois a cinco projetos, a depender das propostas recebidas, de acordo com os requisitos e critérios previstos do edital. Leia o regulamento completo do edital aqui .

Para orientar os projetos, são sugeridas as seguintes linhas de pesquisa:

•             Carreira Docente: legislação, formação inicial, formação em serviço, formação continuada, estágio probatório, certificação, remuneração, absenteísmo docente e rotatividade;

•             Condições de trabalho e clima escolar: carga horária docente, absenteísmo discente, violência nas escolas, funções do professor substituto, gestão escolar, inter-relações entre a equipe escolar, currículo, soluções inovadoras que auxiliam o professor em sala de aula;

•             Seleção e alocação de professores: cursos de formação, requisitos para a docência, concursos e seleção de docentes, alocação de professores e atratividade da carreira;

•             Qualidade do professor: prática docente, didáticas específicas, avaliação docente, acompanhamento externo, acompanhamento da aprendizagem do aluno.

Author: Simon Schwartzman

Simon Schwartzman é sociólogo, falso mineiro e brasileiro. Vive no Rio de Janeiro

2 thoughts on “Como garantir que todos os alunos brasileiros tenham um bom professor todos os dias na sala de aula?”

  1. Carta ao governador de São Paulo
    Caro governador.
    Quando saí da casa da mãe ainda na década de sessenta, eu tinha um sonho: ser Professor.
    E não era um sonho qualquer.
    Queria ser o Professor.
    Depois de anos de academia cheguei ao que queria.
    E ser Professor era a razão da minha vida.
    Imaginar que adolescentes com espinhas no rosto seriam os homens de amanhã.
    Diligentemente, ainda que com alguns deslizes, fui aprimorando a minha missão de ensinar a pensar.
    Não me interessava muito se ele ou ela aprenderia todas as regras gramaticais. Importava mais o Ser que ali estava confiando em mim na construção do seu futuro.
    E sempre entendi que devia ensiná-lo a pensar.
    Embora fosse regente da Língua Portuguesa, me esmerava para que ele aprendesse Cidadania, Ética e Compromisso.
    Posso lhe afirmar que não decepcionei.
    Passados trinta e cinco anos de militância no magistério ainda recebo aqui e ali alguma menção sobre o meu trabalho.
    Ah! governador, também fui diretor de escola.
    Nossa escola, lá no oeste do meu querido estado, numa cidade generosa e bonita por natureza, foi a primeira a fornecer merenda escolar em todos os turnos.
    Também, e talvez tenha sido a única que era administrada pelos pais, professores, alunos e coordenada por esse escriba.
    Era uma escola quase sem muros e de portões abertos.
    Sabe por que?
    Porque era uma escola da comunidade.
    Aos finais de semana, a quadra de esporte era livre para quem chegasse primeiro e a fila era grande.
    Nossos alunos mais humildes recebiam o material escolar da Associação de Pais e Mestres.
    Nossas gincanas e o famoso, em toda região, Festival de Poesias, eram aguardado com ansiedade.
    A escola não tinha guardas e nem segurança. Nunca sumiu um giz.
    Professores abnegados, pais responsáveis e alunos formaram a biblioteca da escola que do Estado recebera apenas duas dezenas de livros.
    O médico da cidade ia duas vezes por ano realizar os exames básicos de saúde sem nenhum custo e olha que o mesmo era um pão-duro de primeira.
    O Professor Carlos Roberto Vivo, mestre em Ciências, me atazanou tanto a vida que só parou quando viu o seu laboratório quase que completo em se pensando numa escola modesta do interior.
    Nós não ficávamos na escola somente no nosso horário. Muitas vezes fazíamos ali mesmo, ao som do violão da Professora Amira um belo de um sarau.
    Os nossos alunos que se arriscaram pela vida universitária, não precisaram de cursinho pré-vestibular. Sabiam e passavam de primeira.
    Nosso método consistia na valorização do Ser Humano em formação.
    Eu mesmo tinha alunos que jamais escreveriam bem um poema, quiçá um requerimento sem escorregadelas gramaticais e de concordância, mas eram feras em Física, Matemática, Química, História etc.
    Não seria eu, um modesto mestre escola que iria reprová-los.
    Dava a eles diversas oportunidades para ele completar a nota.
    Claro que reprovei muita gente.
    Mas conversava com o pai, com o aluno e todo o corpo docente.
    Quase sempre ele, o aluno, estava sendo reprovado em outras matérias também.
    Tenho até um caso para lhe contar. Reprovei um aluno num ano anterior. No período da matrícula do ano seguinte, ele pediu para o pai descobrir em que período eu daria aula.
    O pai pensando que ele queria se livrar de mim tentou argumentar.
    Ele disse ao pai que não era isso. Ele queria ser meu aluno novamente.
    Final da história?
    Ele fechou as suas notas no terceiro bimestre e foi uma espécie de monitor da classe no resto ano.
    Assim como ele outros tantos trilharam o mesmo. E um deles é desembargador no Tocantins.
    Professor é isso, governador.
    Nos dão pedras brutas e as transformamos em diamantes.
    Mas, sempre há um mas na vida.
    Há trinta e cinco anos fui obrigado a abandonar o meu maior sonho.
    Sabe por que?
    Porque no meu tempo, aluno nos chamava de Senhor e se levantava da cadeira quando entravamos na sala.
    Na rua, os pais nos cumprimentavam com admiração e respeito.
    Pais iam a escola para pedir ajuda aos professores em relação ao desempenho dos seus filhos.
    Hoje eles vão tirar satisfação do Professor.
    Para piorar, buliram na tal de Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
    Passamos a ser obrigados a aprovar quem não merecia para cumprir uma meta absurda.
    Aluno que não passa, governador, nem sempre a culpa é do professor ou da escola. Há um contexto todo a considerar.
    As condições de saúde, de alimentação, a situação do núcleo familiar etc.
    Deixei o meu sonho para trás, porque não concordava com o modelo que estavam implantando em nome de uma pseudo eficiência e eficácia.
    Um fato também pesou. Vislumbrei que com o passar dos anos o salário iria diminuir e eu não teria condições de prover a família.
    Tanto é verdade que no tempo que saí do magistério a diferença era a metade.
    Hoje, se bobear a diferença chega a três vezes.
    Claro que exerço uma profissão que me orgulha.
    Mas nada se compara ao exercício do sagrado magistério.
    Nada substitui o alarido dos corredores, a sineta chamando para as salas.
    Os rostos ávidos por aprender, a alegria de ter aprendido.
    O sorriso de quem, com a nossa ajuda, venceu.
    Ah! A escola era pública.
    E até hoje tem gente abnegada trabalhando por lá.
    Sabia, governador, que pessoas como o Professor Délcio, que deram a vida para criar seres humanos melhores e cidadãos vivem hoje de uma miserável aposentadoria que nem dá para pagar os remédios que a velhice nos obriga a comprar?
    E você, governador, com a sua insensibilidade, se acha no direito de tripudiar sobre a miséria de salário que o Estado lhes paga?
    Como ousa?
    Eles fizeram mais pelo país, do que você mesmo vivendo duzentos anos.
    Eles merecem de você, governador, um pedido formal e cerimonioso de desculpas pelo seu destempero inoportuno e agressivo.
    Você deve a eles uma verdadeira política de valorização dos servidores da Educação. E os alunos também merecem uma nova política de Educação que os prepare para pensar e para o exercício da cidadania plena. Se você não tem ninguém com competência pode me chamar que formarei a melhor equipe do seu governo, com a ajuda de todos aqueles que dia após dia garimpam verdadeiros e brilhantes diamantes.

    Antes que você pense que se trata de alguém de qualquer partido político inimigo, devo informar que sou e sempre fui um democrata social.
    Mas minhas referências foram o Governador Covas, o Governador Franco Montoro e aquele ícone sagrado chamado Ulisses.
    O nome da Escola deixei por último, governador.
    Escola Carlos Celso Lenarduzzi, lá em Santa Albertina.
    Hoje ela mais parece um presídio pelos altos muros e grades.
    É isso que o povo paulista merece, governador?
    Ah! Só depois do pedido de desculpas que escreverei o seu cargo com maiúscula, como o Governador Covas, o Governador Montoro.
    O que vejo, governador, é um pobre estado mais rico da federação ficando ainda mais miserável ao tripudiar alguém que ajuda na formação de cidadãos com valores morais e éticos tão esquecidos dos políticos de hoje.
    Minhas humildes reverências aos Professores.
    Curvo-me ao sagrado que há em cada um de Vocês.
    Orgulho-me de, um dia, ter pertencido a essa valorosa classe.
    O meu sonho acabou, mas o dos Senhores e das Senhoras devem seguir adiante, de cabeça erguida, sabedores de que estão formando novas gerações.
    Não se apequenem com provocações tão ínfimas e desnaturadas.
    Um ex-professor de uma cidade pequena ao oeste,bem no fim do mapa do meu querido estado: Santa Albertina,”generosa e bonita por natureza”.

  2. Simon:
    Importantíssima linha de pesquisa.Muito boa a pergunta que orienta a linha de indagação, denso o perfil acadêmico da comissão avaliadora.
    Obrigada, pela informação,
    Ana Maria Rezende Pinto

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