Guiomar Namo de Mello: que fará Obama na área da educação?

Escreve Guiomar:

Simon, não sei se você viu o debate entre as duas educadoras que falaram sobre educação durante a campanha, a de McCain e a de Obama. Esta última, Linda Hammond, é minha velha conhecida,  pelos textos e por sua participação nas grandes associações de educadores dos EUA, entre elas a poderosa NEA National Education Association que trabalhou para o Obama. Linda é uma típica pedagoga, séria mas com as posições clássicas dos educadores e em guerra com os que defendem avaliação, testes, accountability, etc.

Isso me leva à triste conclusão que com Obama será uma disputa  terrível na educação, entre os chamados “reformers”, que defendem accountability, avaliação e charter schools, representados por vários grupos que passaram para o lado dos democratas agora, provavelmente em função da truculência do Bush,  e os unionists, representados pela Linda, a Teacher Federation e as entidades de educação tradicionalmente democratas que defendem tudo o que você já sabe que é indefensável mas continua predominando na educação: salários mais altos sem prestação de contas, dar menos peso para as avaliações externas e colocar menos alunos por classe (menos ainda!). Sad isn’t it? Se Obama não conseguir conter isso, o custo aluno nos EUA vai ser ainda mais alto e a educação ainda mais ineficiente.

Educação é realmente um tema complexo, porque mesmo uma virada histórica como essa do Obama  não vai trazer consenso sobre o que deve ser feito. Na campanha ele foi dando uma martelada no cravo e outra na ferradura. De um lado dizia que ia fortalecer o movimento das Charter Schools, de outro comprometeu-se em aumentar os recursos para educação especial, num país onde o custo desse tipo de aluno já está em quase 15.000 dólares por ano, sem nenhum resultado concreto e sem avaliação pois essa é uma área em que a corporação conseguiu deixar fora do sistema NAEP e todos os outros. E assim com vários temas quentes atualmente na agenda da educação americana. Enfim, teremos um tempo interessante pela frente. Aí vai  o link para o vídeo do debate.

Author: Simon Schwartzman

Simon Schwartzman é sociólogo, falso mineiro e brasileiro. Vive no Rio de Janeiro

2 thoughts on “Guiomar Namo de Mello: que fará Obama na área da educação?”

  1. Simon é possivel fazer uma reflexão das propostas educacionais no Brasil no sentido de evitar que situações como essas e veridicas descristas no texto possam trazer luz a escola Brasileira.
    O texto a seguir é a “cereja do bolo”. Trata-se de uma das inúmeras mensagens que recebemos sobre o esquema de corrupção nas escolas estaduais de Araraquara, SP. História veeeelha e muito, muito suja! A mensagem é assinada e o conteúdo é público, pois a denunciante sofreu processo, no entanto preservamos seu nome, como sempre fazemos quando percebemos que a corda vai arrebentar do lado mais fraco.

    Vamos lá:

    O esquema consistia no seguinte: a verba chegava às escolas e a dirigente de ensino, Sandra Rossato, na certeza da impunidade, mandava pegar notas fiscais frias, fazer a prestação de contas e repassar uma quantia em dinheiro para ela. E ninguém denunciava. Eu sou diretora de escola afastada porque me cansei desse esquema, fiquei completamente exausta, comecei a falar “não” e quem falava “não” para ela ia para o cativeiro, ou seja, ficava afastado até à exoneração. Antes de mim dois foram exonerados pelos mesmos motivos, mas os dois fecharam o bico, não denunciaram.Quando me removi para uma outra escola, a dirigente e os supervisores acabaram com a minha reputação, mandaram os alunos fazer quebra-quebra e manifestações contra mim, juntaram-se aos professores que participavam do esquema e tinham regalias na escola, ou seja, não davam aulas, havia no período noturno alunos-fantasmas, classes inexistentes e mesmo assim recebiam por essas aulas. No papel era uma coisa e na real uma outra bem diferente. A escola estava completamente esvaziada e a assistente de planejamento era obrigada a fazer o quadro com informações montadas, fictícias. Houve um escândalo, abafado pela secretaria da educação, e a dirigente se aposentou como supervisora de ensino, respondendo hoje ao processo nº 95/2006 na 3ª unidade processante, mas ela possui forte proteção política e ameaça todos que se atrevem a atravessar seu caminho. Teve o envolvimento de um escritório de contabilidade que fornecia os talões de notas frias, uma funcionária desse escritório foi atropelada em um suposto acidente, ela estava de moto e o motorista fugiu. A funcionária, de apenas 24 anos, sabia demais e pagou com a morte.Outra funcionária está ameaçada de morte e tem muito medo.Lutamos agora para que a dirigente, com toda a sua influencia política, não saia isenta, livre, impune, que ela seja responsabilizada por seus atos pensados,muito bem planejados, pois durou 10 anos.O esquema é enorme, até a FDE é suspeita, pois só apurou 22 escolas e só diretores foram processados, nenhum supervisor, sendo que todos eram coniventes e paus mandados da dirigente. A FDE fez uma média e encerrou a apuração alegando dificuldades de checar todos os diretores de escola.Os supervisores de ensino sabiam do esquema e obedeciam à dirigente quando ela ordenava que desse cabo de um diretor, difamando-o na cidade como ladrão e corrupto, ordenando o fim da carreira e orquestrando sua exoneração.Muito dinheiro da educação foi para o bolso de muita gente, tem que ser devolvido e os culpados punidos. Não é possível que só prejudiquem os pequenos, os mais fracos, como sempre foi.

    Qual o seu palpite para o fim dessa história?…

    Parabéns, Guiomar!!!

    A propósito: algum paralelo com a EE Amadeu Amaral, outra escola “esvaziada” onde foi promovido um quebra-quebra?…

  2. Prezado Simon:

    É muito pertinente a coloção de Guiomar Namo de Mello.Ela nos chama de volta á reflexão: eu, por exemplo, fiquei tão eufórica com o signifificado simbólico da vitória de Obama que nem me lembrei de examinar sua proposta para a educação.

    De fato, Linda Hammond está preocupada em sugerir mudnças na agenda da discussão da política sugerindo um deslocamento da ênfase nos controles e testes,para priorizar o desenvolvimento da capacidade das escolas e dos professores de serem responsáveis pelo aprendizado do aluno e sensíveis ás necessidades dos estudantes e comunidades.

    Assim de improviso, considero muito bom que Linda esteja com Obama, pois, como ele , ela procede das camadas populares e se voleu das brechas que o sistema de ensino americano oferece para alunos talentosos.É pedagoga formada pela Universidade de Columbia e tem particiapado e liderado, ativamente, os debates sobre formação de docentes, seu
    recrutamento, licenciamento e avaliação discente.É docente de Stanford, uma das 12 melhores universidades do mundo, conforme Eric Hobsbawan.

    Por sua trajetória de vida profissional, não me parece que ela sera pessoa de dar um tiro no pé, jogando para o alto todo um trabalho do qual ela e Obama foram beneficiários.Ela, inclusive, defende o rigor de padrões tendo para alunos como professores e a colocação de professores qualificados em sala de aula, além do desenvolvimento de escolas organizadas para obter sucesso dos alunos e dos professores; tudo isso, ao lado de estimular e recompensar o conhecimento e habilidade do professor.

    Linda Hammond parece-me defender uma proposta que vai além da mera avaliação, mas a utilizará para atingir a escola, o aluno e o professor.
    Esta é minha esperança…Vamor ver..

    cumprimento Guiomar pela iniciativa ou generosidade de colocar assunto tão candente em discussão.
    Ana Maria de Rezende Pinto

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