Maria Helena Guimarães de Castro: as surpresas do IDEB

Maria Helena Guimarães de Castro, Secretária de Educação do Estado de São Paulo, envia o seguinte comentário sobre o IDEB:

Concordo com os argumentos do João Batista, mas há algumas surpresas no IDEB, especialmente em pequenos municípios do Sul e Sudeste, que merecem nossa atenção para os fatores intra-escolares. É o caso dos municípios paulistas que se destacaram entre os 20 melhores do país, ou das escolas municipais também de pequenas cidades do interior de SP. Em comum, essas escolas apenas conseguiram organizar as rotinas básicas que fazem uma enorme diferença para a melhor aprendizagem dos seus alunos. Entre os fatores mais importantes, destacam-se:

1. diretores comprometidos e estáveis
2. participação dos pais
3. uso de materiais didáticos estruturados
4. supervisão e monitoramento permanente.

Creio que precisamos ir além dos estudos econométricos e começar a mostrar às escolas o que funciona. As evidências apontadas nos estudos econométricos corretamente indicam o peso dos condicionantes extra-escolares como fatores explicativos do desempenho escolar. Parece-me, no entanto, fundamental mostrar o que faz diferença no modo de funcionamento das escolas para estimulá-las a melhorar e indicar as boas práticas que estão ao alcance de todos. Obviamente, é muito mais simples ter escolas organizadas em cidades pequenas, o grande problema são as regiões metropolitanas. Mas, mesmo nas regiões metropolitanas, há exemplos muito interessantes que podem ser replicados. É o caso de Francisco Morato na Grande São Paulo, municipio dormitório, muito pobre, que vem dando saltos significativos nos indicadores sociais e educacionais com uma receita relativamente simples: os agentes sociais da prefeitura visitam as casas dos alunos que faltam ou tem dificuldade de aprendizagem. Caíram as taxas de repetência, melhoraram os índices de aprendizagem e os pais fiscalizam os professores que faltam.

Parece simplismo da minha parte, mas não é. Estou preocupada em valorizar as boas escolas públicas e mostrar que é possível melhorar mesmo que a região seja pobre, etc. Senão, vamos ficar com o mesmo discurso dos sindicatos: a escola não melhora porque os salários são baixos, a carreira é péssima, as turmas são grandes, os pais desempregados, etc. Pode ser uma batalha perdida, mas continuo tentando.

Sinto falta de estudos que aprofundem os fatores internos à escola para subsidiar políticas. É muito pequena ou nula nossa margem de atuação para melhorar os condicionantes externos. Mas há fatores que importam e que podem ser objeto de intervenção dos gestores públicos de educação. Creio que devemos prestar mais atenção nisso até para convencer os diretores de escola de que é possível melhorar. O SARESP de SP mostrou, por exemplo, que escolas com menos de mil alunos tendem a apresentar melhor desempenho, até em áreas ultra vulneráveis da GSP; mostrou também que escolas exclusivas de 1a. a 4a. séries são melhores do que as grandes escolas de educação básica com mais de 1.500 alunos. O tamanho da turma parece não fazer diferença, mas o tamanho da escola faz, como já apontam as reformas do Blair em 99 e as do prefeito de NY. Mostrou que nossas 500 escolas de tempo integral são tão medíocres quanto as demais. Enfim, estamos analisando os resultados e há coisas interessantes para orientar nossas ações.

Author: Simon Schwartzman

Simon Schwartzman é sociólogo, falso mineiro e brasileiro. Vive no Rio de Janeiro

6 thoughts on “Maria Helena Guimarães de Castro: as surpresas do IDEB”

  1. O texto da Maria Helena é de fundamntal importância para qualificarmos melhor o diagnóstico sobre o desempenho escolar. Os estudos econométricos têm dado enorme contribuição para a compreensão dos fatores estruturais que afetam o desempenho escolar, mas a gestão ( não no sentido administrativista da moda), o manejo do dia-a-dia da escola , como, muito bem, mostrou Maria Helena, pode explicar grande parte da variância no desempenho escolar. A propósito, há muito venho defendendo esta abordagem, inclusive , para o ensino de nível superior. A meu ver, grande parte da diferença entre a qualidade do ensino superior privado e a do sistema público está no sistema de gestão do funcionamento destas instituições.

  2. Nos meus ires e vires lidando com educação básica, tenho feito uma distinção entre duas categorias de escolas. Aquelas que podem ser boas ou ruins mas que estão em regiões razoavelmente tranqüilas. E as que estão em regiões conflagradas e viraram praças de guerra. Estas últimas são as escolas de periferia das grandes capitais. Acho que merecem um tratamento analítico e de política pública todo especial. Devemos pensar nelas como uma categoria a requerer uma compreensão diferente. Não podemos julgar seu desempenho, comparando-as com escolas sonolentas de pequenas comunidades. As próprias políticas de apoio ás escolas piores – com as quais concordo – devem ter uma cara diferente para regiões conflagradas, pois terão que entrar em muito mais do que os assuntos internos da escola.

    Não estou discordando da MH, apenas introduzindo uma nova dimensão ao assunto

  3. Eu me identifico muito com a frase “indicar as boas práticas que estão ao alcance de todos”. Na área de Educação, como na de C&T e outras, temos muitas macro-análises baseadas em indicadores às vezes discutíveis. Essas análises são usadas na formulação de políticas mas estas raramente são mobilizadoras e terminam por gerar resultados até mesmo opostos ao desejado. Seria bom dedicarmos uma parte de nossos esforços a conhecer e divulgar casos positivos, nos quais as pessoas fazem a diferença – apesar das circunstâncias.

  4. Simon,

    O texto da Maria Helena é de fundamntal importância para qualificarmos melhor o diagnóstico sobre o desempenho escolar. Os estudos econométricos têm dado enorme contribuição para a compreensão dos fatores estruturais que afetam o desempenho escolar, mas a gestão ( não no sentido administrativista da moda), o manejo do dia-a-dia da escola , como, muito bem, mostrou Maria Helena, pode explicar grande parte da variância no desempenho escolar. A propósito, há muito venho defendendo esta abordagem, inclusive , para o ensino de nível superior. A meu ver, grande parte da diferença entre a qualidade do ensino superior privado e a do sistema público está no sistema de gestão do funcionamento destas instituições.
    Abraço,

    Antônio Augusto P. Prates

  5. Aqui no Rio de Janeiro, o fato se repete, os bons resultados vêm de pequenas escolas do interior.Há inúmeros fatores que contribuem para isto, um deles , a proximidade dos atores: representantes governamentais, professores, pais e alunos têm maior contato e as cobranças são diretas. Por outro lado , estas pequenas comunidades se empenham em cuidar de suas escolas, os gestores são muito cobrados, dentro de um clima mais “familiar”. A escola não é do Governo , mas sim da comunidade. Escolas imensas tendem a não funcionar tão bem. Melhor lidar com escolas menores, o que pode ser feito , também nas grandes capitais. Vide o exemplo dos CIEPS aqui no Rio. Imensas, semi abandonadas, sem políticas específicas , estão entre os piores resultados do Rio de Janeiro.
    Defendo ardorosamente a volta das escolas que, por terem um tamanho reduzido, independente do nº de alunos das turmas, têm um diretor que pode efetivamente conhecer seus professores e alunos. Eles voltam a ter nomes e não são apenas nºs a serem dissecados em relatórios.
    Escolas não são empresas , nem podem ser tratadas pela lei da economia de escala.
    Algumas soluções para nossas escolas são tão simples que não precisam ser relembradas. Não se trata de saudosismo da velha escola de bairro , mas da realidade de termos hoje escolas absolutamente impessoais. Ninguém “veste a camisa da escola”. Ela é de todos , mas não é de ninguém.São estes trabalhos em municípios menores , em escolas pequenas que estão dando certo. Chega de CIEPS, CEUS etc. Prédios como estes não deviam funcionar como escolas , mas como polos agregadores das escolas menores para a prática de atividades artísticvas, esportivas etc..
    Iza Locatelli

  6. Aposto nos fatores internos às escolas para subsidiar políticas públicas. Pergunto-me, somente, se há necessidade de realizar pesquisas para fazer essa descoberta, que a própria professora Maria Helena já fez.

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