
Ciência e Tecnologia no Brasil Política Industrial, Mercado de Trabalho e Instituições de Apoio (1)
Simon Schwartzman, editor
Publicado pela Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1995.
Os textos aqui são primeiras versões, antes de serem revistas para a publicação
final.
Apresentação
Ciência
e tecnologia no Brasil: uma nova política para um mundo global, Simon Schwartzman,
Eduardo Krieger, Fernando Galembeck, Eduardo Augusto Guimarães e Carlos Osmar
Bertero
Parte I - Políticas de C&T
A
política científica e tecnológica e as necessidades do setor produtivo, Eduardo
Augusto Guimarães
Sistema
de propriedade industrial no contexto internacional, Lia Valls Pereira
A política de qualidade, David Kupfer
Parte II - A Situação da Pesquisa Tecnológica em Setores Prioritários da Política
Industrial
O
setor de bens de capital, Roberto Vermulm
Liberalização
e capacitação tecnológica: o caso da informática pós-reserva de mercado no Brasil,
Paulo Bastos Tigre.
Parte III - Impactos da Mudança Tecnológica sobre o Mercado de Trabalho e a
Formação de Recursos Humanos
Impactos
sociais das mudanças tecnológicas: organização industrial e mercado de trabalho,
Nadya Araujo Castro
Os
recursos humanos para a ciência e a tecnologia, Cláudio de Moura Castro e
João Batista Araújo e Oliveira
Parte IV - Instituições e Mecanismos de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica:
Agências, Instrumentos e Programas
Gestão
de Ciência e Tecnologia: Uma análise institucional, Carlos Omar Bertero.
O
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, José Carlos
Barbieri.
FNDCT:
uma nova missão, Reinaldo Guimarães
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT),
Caspar Erich Stemmer
Os
centros de pesquisa das empresas estatais: um estudo de três casos, Fábio
S. Erber e Leda U. Amaral.
Apresentação
Os trabalhos incluidos neste volume foram preparados para o estudo
sobre a política de ciência e tecnologia no Brasil, realizado entre 1992 e 1993
pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.
Esse estudo foi realizado por solicitação do Ministério da Ciência e Tecnologia,
dentro do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT
II). Um volume anterior, em inglês(2), incluiu
o texto de síntese do estudo e uma série de trabalhos que buscavam colocar a
ciência e tecnologia brasileira no contexto mais amplo das transformações dessas
atividades no inundo contemporâneo. Um terceiro volume deverá incluir uma série
de trabalhos sobre setores específicos da atividade de pesquisa científica e
tecnológica no Brasil. O estudo foi realizado sob a coordenação geral de Simon
Schwartzman (Fundação Getúlio Vargas e Universidade de São Paulo) e com a participação
de Eduardo Moacyr Krieger (Instituto do Coração e Academia Brasileira de Ciências),
Fernando Galembeck (Universidade de Campinas), Eduardo Augusto Guimarães (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), Carlos Osmar Bertero (Fundação Getúlio Vargas de
São Paulo) e José Roberto Ferro (Universidade Federal de São Carlos e Fundação
Getúlio Vargas de São Paulo).
A suposição básica desse estudo é que a ciência e a tecnologia
podem desempenhar um papel estratégico no Brasil, dada a necessidade de melhorar
a produtividade da economia, enfrentar os problemas de pobreza, educação, saúde
e deterioração ambiental, e participar da maneira mais plena em um mundo cada
vez mais integrado social e economicamente. A incorporação do conhecimento técnico
no processo produtivo é necessária não somente para garantir a competitividade
dos produtos brasileiros nos mercados nacionais e internacionais, mas principalmente
para assegurar que os benefícios da atividade econômica sejam apropriados pela
população do país. Pobreza, educação, saúde e meio ambiente são problemas de
complexidade crescente, que não podem ser equacionados sem o benefício de conhecimentos
e inovações técnicas específicas e uma compreensão aprofundada de suas causas,
implicações e conseqüências. Mas a ciência e a tecnologia não consistem, simplesmente.
em peças de equipamento, manuais de operação, patentes registradas, livros nas
bibliotecas ou programas de computadores. Elas residem. sobretudo. na prática
diária das pessoas, como parte de sua educação e experiências de trabalho. Quanto
mais essa cultura e essa experiência prática da inovação se difundem pela sociedade,
mais as pessoas podem se beneficiar delas. É por isso que nenhuma política de
ciência e tecnologia pode ter sucesso se não fizer parte de um movimento muito
mais amplo de expandir, melhorar e consolidar a educação básica e secundária,
e de melhorar a competência do sistema produtivo como um todo. Na medida em
que a ciência e a tecnologia tragam benefícios para o país, as políticas de
ciência e tecnologia encontrarão o respaldo e os recursos que os pesquisadores
solicitam.
Essa vinculação estreita entre a atividade de pesquisa e as necessidades
no país nem sempre esteve presente, ou nem sempre esteve presente de forma correta,
nas políticas de ciência e tecnologia implementadas no país até recentemente.
Por um lado, havia, por parte de muitos cientistas, a suposição de que eles
deveriam poder escolher seus temas de trabalho com toda a liberdade, acompanhando
a expansão sem limites das fronteiras do conhecimento que ocorria em todo o
mundo, e serem financiados para isso. Nessa visão, os conhecimentos gerados
pelos cientistas terminariam fluindo naturalmente para o resto da sociedade.
e os custos da pesquisa científica seriam, ao longo do tempo, mais do que compensados
por seus produtos. Ao mesmo tempo. havia em outros setores uma visão fortemente
estratégica, segundo a qual ciência e tecnologia deveriam ser planejadas para
serem usadas como instrumentos para liberar o país do cerco internacional que
impedia seu crescimento, negando ao Brasil o acesso aos conhecimentos de importância
estratégica, na área industrial e militar Para isso seria necessário concentrar
os esforços de pesquisa em alguns grandes projetos. e trabalhar com a abundância
de recursos e as proteções típicas da pesquisa de cunho militar. Essa coexistência
entre duas visões opostas. uma extremamente liberal, outra extremamente intervencionista,
não foi uma peculiaridade brasileira. Foi assim também, mostra Lewis Branscomb.
em seu trabalho publicado no volume anterior, nos EUA e nas demais potências
ocidentais, onde a ciência básica e "pura" se desenvolveu à sombra
dos grandes investimentos da Guerra Fria. O que permitia esse aparente paradoxo
era a abundância de recursos, que também no Brasil, por um curto período, permitiu
que essas contradições não aflorassem de imediato. Hoje, no Brasil como em todas
as partes, os recursos se tomam escassos, as atividades de pesquisa são cada
vez mais caras, seu impacto potencial cada vez mais significativo, e o tema
da vinculação mais efetiva entre a pesquisa e seu contexto econômico social
e cultural se tornou inevitável. Não se trata de optar por um dos extremos da
dicotomia entre o laissez-faire total e o planejamento centralizado e
intervencionista, mas de encontrar o ponto de equilíbrio em que a liberdade
e a autonomia intelectual dos pesquisadores sejam preservadas, as estruturas
burocráticas e centralizadas de planejamento sejam simplificadas e a preocupação
com os custos e o impacto social e econômico do trabalho dos pesquisadores (suas
linhas de trabalho, suas instituições. seus equipamentos. suas prioridades)
seja realçada.
É dessa vinculação, em seus diversos aspectos, que trata este
volume. Eduardo Augusto Guimarães, Lia Valls Pereira e David Kupfer discutem
instrumentos específicos de política industrial; Roberto Vermulm e Paulo Bastos
Tigre examinam alguns setores estratégicos da economia brasileira. onde o impacto
dos conhecimentos tecnológicos é mais significativo; Nadya Araujo Castro e Cláudio
de Moura Castro e João Batista Araújo e Oliveira examinam o impacto das mudanças
tecnológicas no mercado de trabalho e nos sistemas de formação e treinamento
de recursos humanos; Reinaldo Guimarães, Caspar Erich Stemmer e Fábio S. Erber
e Leda U. Amaral examinam alguns dos principais mecanismos e instituições governamentais
criados recentemente para a implementação de políticas de ciência e tecnologia
no país. O texto de síntese, inicial, procura dar um quadro consistente do que
poderia ser uma política de ciência e tecnologia mais condizente com os tempos
atuais.
As idéias expostas nas diversas partes deste volume são de responsabilidade
individual dos autores e não representam o ponto de vista oficial do governo
brasileiro. O estudo foi desenvolvido com total autonomia e independência. Em
março de 1994 a Fundação Getúlio Vargas organizou um seminário para discutir
os resultados deste e de dois outros estudos de política científica, tecnológica
e industrial patrocinados pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, e desde então
os materiais produzidos por este projeto estão sendo disseminados em diversas
formas para a comunidade interessada.
Rio de Janeiro, julho de 1995.
Nota:
1.Publicado pela Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1995. Os
textos aqui são primeiras versões, antes de serem revistas para a publicação
final.
2. Schwartzman Simon (coord.), Science and technology in Brazil: a new policy a global world.
Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1995.