Como usar o facebook

Existem muitas maneiras de usar o Facebook, e resolvi usá-lo somente para manter contato com pessoas com as quais tenho relacionamento pessoal; isto porque estava crescendo demais, já não conseguia acompanhar, e tenho outro recurso de comunicação: este blog, que é enviado por email a quem se inscreve, é divulgado pelo twitter (@sschwartzman) e está aberto a comentários.

Isto explica porque estou deixando de aceitar vários pedidos de novos amigos que me chegam no FB, e vou ir reduzindo o numero das pessoas que acompanho.  Para os demais, e também para estes, nos vemos no site!

Prova Nacional de Concurso para o Ingresso na Carreira Docente

Recbi a seguinte nota de  Elaine Toldo Pazello, Diretora de Estudos Educacionais – INEP, em resposta ao comentário de João Batista Araujo e Oliveira publicado anteriormente:

Durante o ano de 2010, o Inep desenvolveu um amplo processo para a construção da proposta de matriz de referência para a Prova Nacional de Concurso para o Ingresso na Carreira Docente. Esse processo foi iniciado com uma pesquisa sobre o perfil desejado para os docentes em diversos países que fizeram essa discussão recentemente ou possuem padrões ou avaliações nacionais de professores, tais como Austrália, Canadá, Chile, Cuba, Estados Unidos e Reino Unido. Na mesma época, foram analisados modelos de provas para professores aplicadas em diversos estados americanos como Nova Iorque e Massachusetts, bem como no Reino Unido e no Chile, bem como o modelo de avaliação de competências utilizado pelo PISA para os estudantes. Fomos ao Chile para uma reunião de trabalho com as equipes técnicas do MIDE (Centro de Medición) da PUC-Chile, instituto responsável pelas avaliações chilenas, e também recebemos no Brasil especialistas em avaliação de diversos organismos como a IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement) e o alemão DIPF (Deutsche Institute für Internationale Pädagogische Forschung).

No entanto, por se tratar de uma prova que visa subsidiar a contratação de professores para a educação básica brasileira, tão importantes quanto as pesquisas com base na literatura teórica e empírica internacional são as consultas aos profissionais que realizam um notório trabalho nas escolas e na formação dos professores do país. Por essa razão tivemos seminários de consulta a profissionais de escolas de todo o país com bons resultados no Ideb e desenvolvemos todo o trabalho de discussões com a Comissão Assessora, que contou com a participação de 70 especialistas nas áreas relativas à Prova.

 

O Brasil no ranking internacional de universidades

Dimensões do Ranking Internacional de Universidades
Posição das Universidades Brasileiras

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Times Higher Education de Londres acaba de publicar o seu novo ranking internacional de universidades, disponível aqui. Este ano, só participaram universidades que concordaram em mandar informações solicitadas pela publicação. No caso do Brasil, aparentemente, só entraram as três universidades estaduais paulistas, e nenhuma outra universidade da América do Sul aparece. Nos rankings anteriores, a USP já aparecia como a melhor da América Latina, mas longe das 100 melhores. Este ano, das 400 universidades analisadas, a USP está na posição 232. Este ranking é baseado em dados de cinco dimensões diferentes. Além desta lista, existe uma outra, de reputação, que lista as 200 universidades consideradas melhores por uma amostra de especialistas. Dos BRICS, esta lista inclui universidades da India e da Russia que não aparecem entre as 200 melhores pela listagem anterior, mas nenhuma do Brasil. A China aparece nas duas.

O ranking de reputação pode estar afetado pelo fato de que os especialistas consultados (cuja lista não está disponível) são provavelmente das principais universidades de lingua inglesa, mas a ausência brasileira confirma que o Brasil não está presente no circuito internacional de conhecimentos e troca de idéias e informações. O quadro com os escores parciais das universidades paulistas permite entender um pouco melhor aonde estamos pior: baixa internacionalização, medida pelo intercâmbio de professores e alunos; baixa atividade de inovação e capacidade de obter recursos do setor produtivo; baixa qualidade da pesquisa produzida, expressa no baixo nível de citações por artigo publicado.

Há razão para se preocupar?  Creio que sim. O  Brasil deveria ter pelo menos algumas universidades que fossem capazes de participar de forma mais intensa dos circuitos internacionais de conhecimento e cultura. Não acredito que seja um problema de recursos, mas de alguns outros fatores. Nossas universidades, mesmo as melhores, ainda são muito voltadas para dentro do país ou mesmo sua região ou cidade, embora muitos de seus professores tenham sido formados no exterior e participem de circuitos internacionais de pesquisa.  Elas não  têm estímulo e têm  dificuldade em admitir e apoiar alunos que venham de outros países, seja pelo uso exclusivo do português, seja pelos procedimentos burocráticos dos vestibulares, seja porque não podem cobrar anuidades destes alunos e usar os recursos para criar melhores condições para atendê-los.  Como repartições públicas, elas não têm estímulo para agir de forma mais agressiva na busca de talentos (não podem oferecer salários diferenciados, têm dificuldade para contratar professores estrangeiros) e no estabelecimento de vínculos mais estreitos com o setor produtivo. Em sua grande maioria, seus professores são formados por elas mesmas, uma situação de inbreeding que reproduz o provincianismo. Finalmente, nos últimos anos, os temas de inclusão social no ensino superior adquiriram uma prioridade quase absoluta nas políticas públicas de ensino superior, deixando em segundo plano a questão da excelência, que precisa voltar à agenda.

Acesso ao ensino superior no Brasil |Admissions to higher education in Brazil

O site Inside Higher Education – The World View publica hoje uma nota minha sobre o tema do acesso ao ensino superior brasileiro, a partir do novo sistema experimental de seleção que está sendo adotado pela Universidade de Campinas, que está disponível aqui

O Programa de Educação Integrada da Fundação Romi

Sediada em Santa Bárbara do Oeste, na Região Metropolitana de Campinas, a Fundação Romi, criada pela Indústrias Romi S.A. (famosa or ter fabricado o automóvel Romi-Isetta nos anos 50), vem desenvolvendo uma experiência pioneira de inovação pedagógica, o Programa de Educação Integrada. Anualmente, esse projeto atende anualmente a 240 alunos entre 11 a 13 anos das 7ª e 8ª séries das escolas públicas da cidade. Por dois anos, eles frequentam a Fundação na parte da manhã se estudam à tarde, ou à tarde se estudam de manhã, desenvolvendo projetos e atividades educativas sob a orientação de um grupo seleto de professores, ao mesmo tempo em que continuam seus cursos regulares na escola. Eles são estimulados a se candidatar e continuar estudando, preferencialmente, nas escolas técnicas públicas de nível médio da região, como o Colégio Técnico de Campinas e de Limeira, da UNICAMP e as escolas técnicas do Centro Paula Souza. Há uma bolsa-auxílio para os mais carentes para que possam efetivamente, cursar essas escolas. A partir deste projeto principal, a Fundação Romi desenvolve uma série de outras iniciativas envolvendo professores, estudantes e suas famílias da região, e, entre outros projetos, mantém um centro de documentação histórica muito bem instalado, também à disposição da escolas e da comunidade local.

O objetivo deste livro é documentar e tornar mais conhecido este trabalho, situando-o, ao mesmo tempo, no contexto mais amplo da educação brasileira, que enfrenta hoje o  desafio de melhorar sua qualidade e transmitir aos estudantes os conhecimentos, os valores e as atitudes necessárias para participar plenamente da sociedade contemporânea. Deste esforço participam educadores, governantes e também a sociedade civil, através de fundações e institutos filantrópicos, como a Fundação Romi, e empresas especializadas em atividades e produtos educacionais. Na primeira parte do livro, escrita com a colaboração de Micheline Christophe, apresento um quadro sintético de como está a educação no Brasil de hoje, do que sabemos sobre os melhores caminhos para melhorar seu desempenho, e do papel que o setor privado vem desempenhando em relação a isto. Também apresento uma pequena história de Santa Bárbara do Oeste, cidade que cresceu graças ao trabalho de imigrandes pioneiros cujos valores, acredito, a Fundação dá continuidade. A segunda parte do livro, escrita por Liu Fat Kam e Sueli Torres, seus dirigentes, descreve em detalhe o projeto pedagógico da Fundação.

Visitar a Fundação Romi e ver suas centenas de crianças motivadas, trabalhando em grupo com seus professores, desenvolvendo projetos nas diversas áreas de conhecimento, é suficiente para saber que é um projeto bem sucedido, que precisa ser mais conhecido e pode inspirar outras iniciativas semelhantes. As metodologias utilizadas e as concepções pedagógicas em que se baseia são uma entre diferentes possibilidades, e o impacto de seu trabalho, em uma pequena cidade no interior paulista, não é suficiente para mudar a cara a educação brasileira. Para os jovens que passam pela Fundação, no entanto, sua importância é fundamental, e é muito importante que iniciativas como esta se multipliquem e se tornem mais conhecidas.

Foi um prazer ter conhecido e podido colaborar com a Fundação Romi neste trabalho de documentação de sua experiência.
O livro impresso pode ser solicitado à Fundação Romi através de seu site, e uma versão em PDF pode ser baixada aqui.

Ministério da Cultura para que?

Duas nomeações na área da cultura – a do palhaço Tiririca para a Comissão de Educação e Cultura da Camara de Deputados e a do sociólogo Emir Sader para a direçao da Casa Ruy Barbosa no Rio de Janeiro,que petence ao Minstério da Cultura – permitem perguntar para que serve mesmo este Ministério, e se já não estaria na hora de acabar com ele.

O Ministério da Cultura no Brasil foi desmembrado do Ministério da Educacão em 1985 pelo governo Sarney, e tem sua origem nos projetos do Ministério da Educação no Estado Novo que incluiam, de um lado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico, que cuidaria da preservação do patrimônio arquitetônico e cultural do país, e, por outro, as idéias de Mario de Andrade sobre uma redescoberta da verdadeira cultura nacional, levando à frente o projeto modernista dos anos 20. A estes dois componentes – o patrimonial e o ideológico – foi acrescentada, mais adiante, a função de financiar e manter as atividades de “alta cultura” que o mercado por si só não conseguiria financiar, como a música clássica, o cinema e o teatro “de qualidade”, etc.

O Ministério foi extinto por Fernando Collor em 1990, mas ressucitado logo depois por Itamar Franco. Foi sempre um Ministério menor, apesar de alguns titulares ilustres, como Celso Furtado no governo Sarney e Francisco Weffort no governo Fernando Henrique Cardoso (de cujas políticas culturais eu não saberia dizer nada, talvez por ignorância minha, mas que acredito que concentraram sua atenção no lado patrimonial do Ministério, mais o apoio à “alta cultura” dependente do Estado). O Ministério adquiriu nova preeminência com a nomeação de Gilberto Gil que, entre 2003 e 2008, de alguma forma, tentou retomar a proposta de Mário de Andrade de fazer surgir e consolidar a cultura popular. Com seus recursos limitados, de financiador de música, teatro e cinema erudito, o Ministério se transforma em financiador e mobilizador de manifestaçoes artísticas populares, criando uma nova clientela de organizaçoes sociais que se estruturam para captar e distribuir seus recursos.

É esta nova orientação que explica a indicação de Tirica, com o Deputado Lincoln Portela, presidente do PR que o indicou, dizendo que “educação é uma coisa, cultura é outra”, e afirmando que a experiência prática de Tirica no mundo circense poderia ser usada para fortalecer este lado da cultura nacional. Pode ser.

No caso da indicação de Emir Sader, que pretenderia, pelas declarações recentes a jornais, transformar a Casa Ruy Barbosa em um centro de grandes debates intelectuais, a idéia não causaria espécie – debates intelectuais são sempre benvindos. Por outra parte, a lista peculiar de intelectuais que ele pretende trazer para os debates (em seu blog ele cita nominalmente “de Marilena Chauí a José Murilo de Carvalho, de José Miguel Wisnik a Caetano Veloso, de Tania Bacelar a Bresser Pereira, de Carlos Nelson Coutinho a Maria Rita Kehl, de José Luis Fiori a Chico de Oliveira”), e mais sua trajetória de defesa incondicional de lideres como Hugo Chavez e Evo Morales, faz que os resultados destes debates já estejam de alguma forma pre-definidos (sem com isto querer dizer que todos os citados pensem como ele).

Não acredito que este projeto vá muito longe, e nem que consiga afetar o próprio Ministério da Cultura.  Mas não custa lembrar que, fora do Brasil, existem dois exemplos importantes de criar um Ministério da Cultura e colocá-lo a serviço de grandes projetos ideológicos de governo. O mais conhecido foi o Ministério de “Ilustração Pública e Propaganda” de Joseph Goebbels, nos anos 30, a serviço do Nazismo, e o outro o Ministério da Cultura francês de André Malraux, a serviço das idéias de “grandeur” de Charles de Gaulle. No Brasil tivemos, no Estado Novo, o famigerado Departamento de Imprensa e Propaganda, diretamente inspirado em Goebbels, que durou tanto quanto a ditadura de Vargas, e não precisamos nem queremos mais isto; e como não temos “grandeur”, e tampoco intelectuais orgânicos do porte de Malraux, o exemplo francês também não nos serve.

Nosso patrimônio histórico, artístico e cultural precisa ser cuidado, deve existir e espaço para financiar projetos culturais de qualidade, e temas transversais, como o da propriedade intelectual,  precisam ser discutidos e resolvidos. Nada disto justifica, no entanto, um Ministério da Cultura com as pretensões que alguns pretendem que ele tenha. Uma simples secretaria, como tentado por Collor, daria conta do recado.

O fim da reprovação e o Estadão

Eu tenho criticado o Ministério da Educação em muitas coisas, e por isto me sinto totalmente à vontade para dizer que ele está absolutamente correto em endosssar a recomendação do Conselho Nacinal de Educação de por fim à reprovação escolar nos três primeiros anos do ensino fundamental.

Em editorial de 20 de janeiro, o Estado de São Paulo, dando uma no prego e outra na ferradura, reconhece os males da reprovação, mas termina dizendo que “aperfeiçoar o ensino fundamental é decisivo para que o país possa promover a revolução educacional. No entanto, a simples adoção da progressão continuada, nos termos em que foi proposta pelo CNE e pelo MEC – sem expansão da rede escolar e sem a modernização dos currículos – não garante melhor alfabetização nem aumento da qualidade da educação”.

O fato de que muita coisa ainda precisa ser feita não pode servir de justificativa para manter a cultura da reprovação em nossas escolas, cujo único efeito é prejudicar, humilhar e marginalizar as crianças reprovadas. Não há dúvida que, em alguns casos, o fim da reprovação foi entendido como significando que não era mais preciso avaliar e cobrar resultados dos alunos. Mas mesmo assim,  não há nenhuma evidência de que a progressão continuada tenha piorado o desempenho do sistema escolar, como observado ao longo dos anos no Estado de São Paulo.

Com os sistemas de avaliação que existem, com as experiências bem sucedidas de programas de recuperação e aceleração da aprendizagem, e com tudo que sabemos sobre os efeitos danosos da reprovação, esta discussão já deveria ter terminado há muitos anos – desde quando Sérgio Costa Ribeiro, nos anos 70, denunciou a cultura da reprovação nas escolas brasileiras.

As crianças precisam acompanhar seu grupo de idade, serem avaliadas de forma permanente, e apoiadas para não ficar para trás. A partir deste trabalho básico e contínuo, é preciso oferecer escolhas e alternativas, sobretudo no ensino médio, para jovens com diferentes interesses, motivações e capacidades.  Tudo isto sem marginalizar ninguém.

Oportunidades de financiamento de pesquisa e bolsa de estudo no exterior

Dois anúncios recentes de financiamento internacional abertos para brasileiros:

1. O  “PROGRAMMA IBERO-AMERICANO DA CIENCIA E TECNOLOGIA PER EL DESENVOLVIMIENTO” (CYTED) oferece financiamento para  redes temáticas ou projetos de pesquisa regionais consorciados.

http://www.cyted.org/cyted_investigacion/participa.php?lang=pt

O Governo da Noruega ofecece bolsa de estudo para  estudantes de doutorado em diversas áreas:

http://www.forskningsradet.no/en/Funding/ISMOBIL/1253955432506

aproveitem!

Ainda o milagre da tecnologia

Meu texto sobre o “Milagre da Tecnologia” recebeu apoios e críticas igualmente calorosas. Deixando de lado os apoios, além dos comentários postados no blog, Lea Velho diz concordar com as observações de Paulo Ferraz, e acrescenta: “nao sou ingênua de achar que a tecnologia resolve os problemas da educação (há muitos anos eu estudo tecnologia pra achar isso…), mas acho fundamental esses alunos todos terem contato e acesso à tecnologia; hoje aos computadores e amanhã, aos tablets, por que não? Não melhora o desempenho escolar? não é surpresa, até porque desempenho é ainda medido por indicadores convencionais que não conseguem captar os tipos de habilidades que se desenvolve com o uso do computador. Mas sem dúvida pode ser usado para aprender até as disciplinas convencionais. Será que eu nao entendi seu argumento ou vc está mesmo questionando que o governo adote essa política de acesso a computadores?”

Eduardo Chaves também comparte, em comentario postado em seu blog, a idéia de que os computadores podem não ser adequados a formas de conhecimento típicas do ensino convencional,centrado no professor, mas favorecem a educação centrada no aluno, e aí estaria justamente sua grande vantagem. Segundo ele, “as inúmeras pesquisas que mostram que computadores não ajudam os alunos a aprender melhor os conteúdos disciplinares que a escola insiste em lhes transmitir estão absolutamente certas, porque os alunos (corretamente, diga-se de passagem) não estão interessados em aprender isso. Mas os computadores podem nos ajudar a transformar a educação e a reinventar os ambientes de aprendizagem”.

Eu sou um entusiasta dos computadores desde criancinha, e tenho apoiado e acompanhado com muito interesse as iniciativas de Claudia Costin à frente da Secretaria Municipal de Educação no Rio de Janeiro, em um grande esforço para revolucionar a educação da antiga Cidade Maravilhosa. Assim, concordo plenamente com Paulo Ferraz quando diz que “não acredito que simplesmente o uso da tecnologia (computadores, laboratórios de informática, quadros interativos, etc.) resolvam o problema da educação. MAS achar que NÃO se deve se valer e experimentar com ‘tecnologia’ e ‘inovação’ ‘porque a área de Educação é diferente’ é um erro, a meu ver, tão grande quanto achar que a tecnologia resolve tudo.”  E não tenho porque duvidar da afirmação de Rafael Parente de que, no Rio de Janeiro, “nós não estamos chegando a decisões sem o suporte de pesquisas sérias – no campo e internacionais. Não estamos deixando os difíceis processos de organização, planejamento, estudo, trabalho e investimento de lado”, e acrescenta: “o professor não será substituído e não estamos deixando de investir em capacitações – uma coisa não precisa excluir a outra, como você e outros às vezes parecem crer”. Minha única dúvida em relação à Secretaria Municipal é se ela não está abrindo frentes demais ao mesmo tempo, e fico aguardando com muito interesse os dados das pesquisa a respeito que a Secretaria deve divulgar.

Nada disto impede que eu veja com ceticismo o lançamento de um programa generalizado de um computador por aluno, que pode até ser bem aproveitado no Rio de Janeiro e em algumas outras partes, mas muito provavelmente não o será pelo país afora. Claudio de Moura Castro, outro entusiasta de computadores desde criancinha, em um trabalho a sair a Revista “Ensaio” que pode ser baixado aqui, dá um quadro bastante rico das possibilidades e limitações dos usos das novas tecnologias na educação, e resume desta forma o que se sabe sobre as políticas de um computador por aluno:

“Um computador por aluno (One Laptop Per Child ou OLPC) é a nova mantra. Mas o avanço é lento, apenas um estado [nos Estados Unidos] implementou (Maine). Começam a aparecer as primeiras avaliações dessa política. Não se observou necessariamente aumento no rendimento escolar. Se a escola se prepara para usá-los, se há empenho das equipes, os resultados tendem a ser positivos. Mas há dados para dizer que só implementar OLPS não  traz avanços no aprendizado. Como os professores têm alto grau de controle sobre o que acontece na aula e sobre a forma de usar os computadores, muito depende deles. De fato, ter mais computadores na aula não muda a equação sociológica que engendra o bloqueio de usos mais intensos e mais interessantes, tal resultado poderia ser esperado. ”

O que nos leva à questão mais fundamental, me parece, que é o contraste entre o ensino convencional, com o professor ensinando e os alunos aprendendo nas escolas, e o ensino “de ruptura”, centrado no aluno. Os resultados do PISA não deixam dúvida de que os melhores resultados educacionais aos 15 anos são os dos países que adotam a educação convencional – e sobretudo os países asiáticos como Shanghai, a nova estrela internarcional da educação, Coréia, Japão. Na América Latina, o melhor sistema educacional é o de Cuba, de longe. Há muito o que criticar na ridigez extrema de algums destes sistemas e de como eles podem estar afetando a criatividade dos jovens, problemas que países como Finlândia, Canadá e Austrália conseguem evitar. Mas todos estes sistemas são fortemente centrados na qualidade dos professores, em currículos bem definidos e altas expectativas de desempenho para os alunos. Me parece extremamente arriscado, para um país como o Brasil, adotar a idéia de que todo este ensino convencional, que nunca chegamos a ter, deve ser jogado fora, e substituido por uma promessa futura de uma educação administrada individualmente por cada aluno através das novas TICs.

Paulo Ferraz explica, em seu comentário, a idéia das “rupturas” trazidas pelas novas tecnologias, e dá o exemplo da educação mais avançada em inglês, que as escolas convencionais não conseguem proporcionar, mas que poderia ser disponibilizada para os alunos através das novas tecnologias de informação e comunicação. Nada contra, muito pelo contrário quanto às “rupturas” que abrem novos espaços e novas possibilidades. Elas são para o filé mignon que precisamos ter, mas sem dispensar o feijão com arroz que sustenta o resto, e desde que não se pense isto nos vai dispensar de ter melhores professores, currículos bem definidos, avaliações e cobrança de resultados nas escolas.  Se isto for feito com o apoio de novas tecnologias transmitindo conteúdos, abrindo espaço para pesquisas, estimulando interações e introduzindo novas pedagogias, tanto melhor.

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