Priscila Cruz: o direito à greve e o direito à educação

O Jornal O Globo de 2 de outubro publicou o artigo abaixo de Priscila Cruz, diretora executiva de Todos Pela Educação, sobre os movimentos grevistas de professores e seu impacto negativo sobre o direito à educação dos jovens brasileiros.

Prejuízo Silencioso

Priscila Cruz

Ambos os direitos, à Educação e ao trabalho, são direitos constitucionais fundamentais. O direito à Educação é o primeiro entre os direitos sociais elencados no art. 6º da Constituição Federal, talvez pelo fato de que o constituinte teve o entendimento de que este é o direito social a partir do qual os demais tornam-se possíveis, como o direito ao trabalho, à segurança, à alimentação, entre outros ali colocados.

Infelizmente, como bem sabemos, ainda não conseguimos concluir a agenda mais estratégica do país, que é justamente a de garantir Educação de qualidade para todas as nossas crianças e jovens, especialmente para os mais pobres e que mais dependem da efetivação desse direito para reverter seu ciclo de exclusão e pobreza.

O direito do trabalho nasceu junto com o direito à greve Trata-se de importante conquista que permitiu o amadurecimento das relações de trabalho, sendo que nas vezes em que foi exercida de forma justa, tanto empresários ou governos quanto trabalhadores ganharam ao longo do processo. Entretanto, esses dois princípios constitucionais, do direito à Educação e à greve, podem entrar em choque em alguns casos.

Estamos assistindo em todo o Brasil a frequentes, recorrentes e longas greves de Professores nas redes públicas de Ensino. Algumas vezes são greves cujo interesse defendido não é o do coletivo, que é a base do direito à greve, mas o interesse de pequenos grupos. Tais greves não são apenas prejudiciais para os Alunos, famílias e população. Elas também desgastam ainda mais a imagem dos próprios Professores, em um país no qual esse profissional deveria ser o mais valorizado, uma vez que é o mais importante para o nosso desenvolvimento social e econômico.

Existem greves e greves. Algumas são fundamentais para a garantia dos direitos de muitos dos nossos Professores, que ainda seguem sem remuneração justa e condições de trabalho e carreira adequadas. No entanto, outras são explicitamente de motivação política e ideológica, não tendo relação com os interesses coletivos dos Professores, da maioria deles. E muito menos com os interesses dos Alunos e da sociedade.

Em um país com tanta dificuldade para garantir o direito fundamental mais importante para o bem-estar da população, que é o da Educação, cada dia em sala de aula conta, cada aula conta. O custo dos dias parados para os Alunos – e para toda a sociedade – é imenso. É um prejuízo silencioso, que muitas vezes não se mostra de imediato, e que parece não dar conta de mobilizar quem tem a possibilidade de fazer a sua parte para reverter essa situação.

Author: Simon Schwartzman

Simon Schwartzman é sociólogo, falso mineiro e brasileiro. Vive no Rio de Janeiro

2 thoughts on “Priscila Cruz: o direito à greve e o direito à educação”

  1. Boa tarde.

    Por vezes, quando alguma lucidez me incomoda demais, tenho a nítida impressão de que vivemos dentro de uma grande jaboticaba.

    Faz alguns meses que, ainda no calor das famosas manifestações passadas, participei de um debate/seminário, ou o que seja, com a presença de cientistas políticos, filósofos, economistas, antropólogos. Uma das conclusões a que se chegou, extraída a boticão, foi a de que não, não vivemos num regime democrático, republicano e federativo. Vivemos em alguma espécie de híbrido macunaímico. Há muito tempo. Bem antes da “redentora” de 64, já vivíamos neste transe de ilusão .

    É claro que sindicatos são organizações indispensáveis dentro de uma democracia republicana e federativa em partejamento. Mas, que fazer? Esquecer que o Ministério do Trabalho foi ou é um balcão de venda de sindicatos? Esquecer que a atividade política e a atividade sindical se conectam?

    Sindicatos foram a base constitutiva de alguns grandes partidos políticos do passado, da atualidade, e um a mais acaba de ser criado e referendado.

    Projetos de poder político e Educação parecem coisas um tanto excludentes. Ao menos tem sido assim. Frases grandiloquentes como a de Getúlio Vargas : ” Educação é matéria de Salvação Nacional”, jamais enganou os educadores mais frios. Está gravada na pedra, na entrada do antigo MEC, aqui no Rio de Janeiro.

    Mas, sejamos utópicos e…continuemos na batalha.
    Cordialmente, AjS Campello

  2. Prezado Simon,
    Boa tarde!
    O artigo de Priscila Cruz é articulado o consistente.Ocorre que vivemos em um pais, onde a docência perdeu sua aura e respeitabilidade social.Há tempos se luta por um piso salarial mínimo ao professor e sabemos que muitos estados da Federação, até hoje não cumpriram esta meta elementar- são casuísmo e mais casuísmo e firula contábeis infindas.
    Uma coisa parece certa: a educação entrou na agenda da sociedade
    civil.Precisamos agora acertar os ponteiros para consertar expectavas e ações Governo/ Sociedade Civil/Docentes.Caso contrário,não vamos conseguir separar o joio do trigo.
    Precisamos consertar um projeto claro sobre sobre o conceito de uma boa escola, quais os fatores chave, por ordem de prioridade e definir, distribuindo valores.A proposta” Custo Aluno Qualidade” é uma tentativa séria de encontrar um caminho, ou um roteiro para a mesa de discussão.
    Atenciosamente,
    Ana Maria de Rezende Pinto.

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