Um palpite sobre o premio ao desempenho

Um palpite sobre a avaliação do desempenho

João Batista Araujo e Oliveira, Presidente do IAB

 

Devagar com o andor, concordo. Sobretudo com os que carregam o andor do primeiro santo milagreiro que passa.

Meu guru nesta área é um velho, mas também atualizado analista e crítico de sistemas de “merit pay” chamado Richard Murnane, da Universidade de Harvard. Ele tem um estudo antigo sobre o tema, e de vez em quando volta ao assunto. Nos seus trabalhos mais recentes, ele observa que nos estudos mais rigorosos sobre desempenho de professores, a variância de um mesmo professor ao longo de anos é de 50%.  E começou a investigar os fatores subjacentes.

De um lado ele suspeita que a maioria dos professores costuma dar o que tem – a ideia de que eles teriam algo mais a dar se houver benefício pode ser equivocada.  Uma boa triagem poderia ser muito mais eficaz do que incentivos – ou, se você quiser, os incentivos deveriam ser para atrair e manter os melhores – e para isso, claro, a avaliação de desempenho dos alunos é o melhor indicador. Não confundir o uso de indicadores com o uso de sistemas de incentivos.  De outro lado ele levanta algumas hipóteses para a gigantesca variância – nível de par ou ímpar –  e oferece duas boas suspeitas. Uma delas são perturbações da ordem – uma classe com um ou mais alunos que perturbam além dos limites ou incidentes desse tipo que derrubam os melhores esforços por terra. A outra é que a variabilidade de métodos de ensino dentro de uma escola – o que milita a favor da consistência típica das antigas escolas confessionais e, de certa forma, dos nossos sistemas estruturados de ensino. O aluno que a cada ano aprende frações de um jeito dificilmente vai render muito –por melhor que seja o professor.

Há soluções? Sim, incentivos podem ser uma delas, mas há muitas outras, mais básicas, que o Brasil ainda não fez. E sem essa, corremos o risco de colocar azeitona num pastel de vento.

Author: Simon Schwartzman

Simon Schwartzman é sociólogo, falso mineiro e brasileiro. Vive no Rio de Janeiro

4 thoughts on “Um palpite sobre o premio ao desempenho”

  1. Não sei se esta brvee reflexão tem algum valor mas passo adiante. Os planos de incentivo têm sido estudados desde diferentes pontos de vista com diferentes resultados. Não sei se podem ou não ser generalizados estudos em outros domínios que não a educação. Acho que os incentivos têm uma equação de perfil psicológico e viés social muito importantes. Observei na minha experiência que fatores como o dinheiro adquirem maior importância em países de economia menos desnvolvida. Nem sempre os texto dos países ditos de primeiro mundo se aplicam aos nossos médios que por sua vez variam de região para região. E outra particularidade é que os incentivos precisam ser permanentemente renovados. No início costumam ter eficiência marcada e crescente e depois entram em período de declínio. Metas, KPIs devem ser periodicamente alterados, sistemas adequados às circunstâncias. É como a publicidade em TV: se não é mantida e variada perde rapidamente a validade.

  2. Prezado Simon:

    Qual avaliação, qual o mérito, qual a premiação?

    Toda esta discussão suscitada, pelo Blog do Simon, com a exposição de Francisco Soares questionando a acurácia do Ideb e passando por sua iniciativa de trazer para o debate as avaliações americanas sobre o impacto do incentivo docente, a premiação do desempenho docente, na qualidade do ensino pareceu-me muito rica elevando, a meu ver, o patamar das discussões sobre PNE, com possibilidade de influenciar uma agenda futura proveitosa para o país Preocupa-me a provável mudança do Ministro da Educação sem uma agenda social que sustente a educação nacional. Minha hipótese é a de que o Haddad deu certo porque colocou para funcionar uma agenda exaustivamente, debatida, desde a constituinte que se prolongou no tempo, com a LDB, coma criação da Undime, com a Conferência Nacional de Educação para Todos, Anped, Anpocs, SBPC, entre outras. As forças em debate tinham sua linha de intervenção já maturada.Um conhecia o ponto de vista do outro.

    A princípio, pareceu-me temeroso o caminho que vocês resolveram trilhar, pois foram anos de luta para se conseguir criar uma cultura de avaliação sistêmica neste país. Hoje todos discutem a avaliação em academias de ginástica, de letras, em salões de beleza, nos botecos, enfim na esfera publica. A nova trilha entreaberta por vocês poderia fazer implodir um modo de ver a educação que contribuiu para trazer a qualidade da educação para o centro da roda social- uma novidade em 600 anos de Brasil. É preciso ir devagar com o andor porque senão os fieis se cansam e se debandam

    Na verdade, gostaria de um índice de desempenho, no qual o conteúdo da aprendizagem fosse o foco e a estatística um meio. Muita pirotequinia estatística afasta o conteúdo substantivo da discussão pedagógica. Quanto mais simples melhor. Ademais, há uma nota que o docente confere ao aluno, em cada escola, uma ponderação, desta nota no conjunto processo avaliativo, poderá trazer o qualitativo para dentro da avaliação sistêmica ou a escola para dentro do quadro geral de uma avaliação generalista;Não sei como fazer… Mas há quem saiba. Florestan Fernandes dizia que o papel do pedagogo em equipes multidisciplinares, seria o de apontar problema ou o foco caminho para o qual ele necessita do especialista de outras áreas.

    A premiação de desempenho docente (material, ou melhor, em espécie), sempre me pareceu equivocada do ponto de vista da construção de um projeto pedagógico para a escola brasileira: ela envenena a relação pedagógica e a educação só acontece em um processo de interação por isto Freud achava que a pedagogia era uma ciência do impossível, como a psicanálise e a política.Elas se fazem na relação com o outro. Já, a premiação simbólica é capaz de alavancar a qualidade do ensino: reconhecimento público do mérito, viagens nacionais e internacionais de estudos, participação em grupos de estudo, entre outros incentivos ligados ao aprender mais. Aliás este é uma travessia já perseguida pelas escolas confessionais, cursos de língua de ponta etc. Para alavancar a qualidade da educação o caminho deve ser sempre o da promoção humana qual seja a do aluno, qual seja a do professor.

    Perdoem-me por não ter a notória capacidade de síntese dos estudiosos que me antecederam.

  3. Viva! Há luz no final do túnel.

    Finalmente, alguém resolveu discutir a empada e a azeitona. Ou seja, ir um pouco além do blábláblá sem fim acerca desse universo complexo que é a educação.

    Volto a dizer: trata-se de um circulo vicioso esse papo de colocar a “culpa” no professor. Ele pode ser uma das soluções. Mas, com certeza, há uma infinidade de outros entes nesse universo da educação que sequer foram debatidos. Exemplo: as constantes mudanças de política dos partidos e governantes de plantão, que como síndicos – da pior espécie – tiram da “manga do colete” (é essa a ideia) soluções tipicas da sua total falta de compromisso com a educação, prioritária somente nos rebuscados discursos.

    Há soluções e soluções! Algumas, são mais difíceis de engolir!!!

    Edson

  4. Mais palpites sobre incentivos

    Falamos de incentivos, como se houvesse uma fórmula única para uma situação única. Ninguém é insensível a incentivos, desde que incentivem alguma coisa percebida como importante para o professor. Funciona se isso afeta o desempenho.

    Vejamos um caso simples e uma solução simples. Acho que São Paulo usou ou pensou usar. É uma bonificação para os professores que não faltam. Dentro da teoria de que quanto mais se estuda, mais se aprende, se os professores não faltam, é razoável supor que os alunos vão aprender mais.

    Imagino que um incentivo para dar e corrigir dever para casa deve funcionar, pois dá trabalho extra ao professor e, se forem deveres bem pensados, aumentam o rendimento do aluno. A esse respeito, vale a pena voltar aos resultados de Roland Fryer (Harvard) que estudou incentivos monetários para alunos. Sua pesquisa mostra resultados positivos quando o esforço para ganhar a bonificação é claro e fácil de implementar (chegar na hora, fazer os deveres etc). Quando é vago (melhorar desempenho), não adianta nada, porque o aluno não sabe como proceder.

    Outro caso simples é o das escolas privadas que aumentam a carga horária dos professores de melhor desempenho e reduzem a dos outros.

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