A idade dos doutores no Brasil e USA

Na postagem anterior eu fiz uma comparação entre a distribuição das idades de formatura dos doutores nos Estados Unidos, obtida no site Statista, com a idade dos alunos de doutorado no Brasil, usando para estes a informação obtida pela Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar Continua do IBGE (PNAD). O que se viu é que no Brasil as pessoas tendem a fazer o doutorado muito tarde, e não, como nos Estados Unidos, no início de suas carreiras.

Havia no entanto dois problemas com esta comparação. O primeiro é que o número de alunos de doutorado que aparecem na amostra do IBGE é muito pequeno – 190, em uma amostra de 320 mil, o que significa que a margem de erro é muito grande. O segundo é que não é possível separar os que estão estudando dos que estão se formando.

Por sorte, os dados da Plataforma Sucupira da CAPES para 2020 têm esta informação detalhada, e refiz a tabela trocando os dados da PNAD por estes. No novo gráfico, a proporção de pessoas mais velhas nos doutorados brasileiros é menor, mas a tendência geral é a mesma. Já fiz a correção na postagem anterior, e reproduzo o texto revisto aqui:

“A comparação da distribuição de idades entre os titulados nos Estados Unidos e no Brasil, pela informaçã0 da CAPES, no gráfico acima, mostra com clareza a situação. Nos Estados Unidos, 44,7% dos doutores se formam com menos de 30 anos, e, no Brasil, 27,8%. Na outra ponta, nos Estados Unidos 12% dos doutorandos têm 40 anos ou mais, e no Brasil, 30,4%”.

Author: Simon Schwartzman

Simon Schwartzman é sociólogo, falso mineiro e brasileiro. Vive no Rio de Janeiro

4 thoughts on “A idade dos doutores no Brasil e USA”

  1. Simon, voce consegue abrir por área de conhecimento? Tenho a impressão que deve alterar o formato de cada gráfico. Talvez olhando por 3 grupos separadamente: biomédicas, exatas e humanas. Acho que o numero total pode carregar um viés.
    Abs

    1. Sim, existem importantes diferenças por áreas de conhecimento, os doutores nas ciências naturais se formam mais jovens do que nas ciências sociais e humanas. Vou colocar uma nota sobre isto,

  2. Considerando o valor das bolsas de doutorado e mestrado no Brasil, quando comparadas às no exterior, fica fácil entender nosso problema. Aqui, grande parte dos doutorandos precisam trabalhar em paralelo, para se manter, pois apenas com a bolsa é impraticável. O que significa que muitos deles só optam por começar um doutorado após estarem seguros em um emprego, o que pode demandar alguns anos. Além do que, infelizmente, muitos acabam abandonando o doutorado antes de finalizá-lo, pois é muito difícil conciliar uma atividade profissional com a dedicação que o doutorado exige.
    Também, a precariedade dos recursos materiais que temos no Brasil, acaba por alongar o período de doutoramento, principalmente em areas que demandam resultados experimentais, como as tecnológicas e várias científicas. Diversos doutorandos precisam sair do país e estagiar numa instituição estrangeira parceira, para que consigam realizar a parte experimental de suas pesquisas. E a carência de bolsas aqui favorece que estes busquem uma bolsa no exterior, o que acaba fortalecendo o vínculo deles com a instituição estrangeira.
    Por fim, todas essas condições reunidas estão afugentando ótimos profissionais brasileiros, que atualmente optam por realizar o doutorado no exterior, e que acabam ficando por lá, em razão da enorme oferta de oportunidades que há nos paises desenvolvidos para jovens que se destacam.
    Falo por experiência própria, após mais de 30 anos como professor e pesquisador na UFRGS, na linha de microeletrônica e instrumentação.

    1. Sem dúvida, estudantes de doutorado que pretendem ser pesquisadores deveriam ter recursos suficientes para se dedicar integralmente aos estudos e pesquisa pela duração dos cursos. Por outro lado, me parece difícil justificar dar bolsas para estudantes de mestrado que têm renda familiar alta e estão se qualificando para obter uma posição diferenciada no mercado de trabalho, assim como para professores já estabelecidos que estejam buscando um título de doutorado para se promover na carreira funcional. Uma política mais seletiva permitiria, com os mesmos recursos, concentra-los onde possam ser mais efetivos e produtivos. Claro que, havendo mais recursos, melhor ainda.

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