Tenho recebido muitos telefonemas de jornalistas perguntando sobre a pesquisa que que eu teria feito a respeito do assunto, a partir da matéria publicada na Folha de São Paulo na segunda feira passada. Eu já publiquei uma nota sobre isto, mas não foi suficiente. Voltemos pois.
Primeiro, eu não fiz nenhuma pesquisa, simplesmente utilizei os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios do IBGE, coisa que aliás pesquisadores do IPEA, da Fundação Getúlio Vargas e de outras partes fazem constantemente, e os jornalistas divulgam como se fossem novas informações. Os dados da PNAD são de domínio público, e podem ser processados facilmente por quem disponha de um programa estatístico em seu computador.
No caso, o que eu fiz foi tabular os dados da renda familiar para os diversos anos (que é a variável v4722, para quem lida com a PNAD), para as pessoas que estavam em curso superior naquele ano. Os resultados estão no quadro ao lado. O que se pode ver é que o número de estudantes de nível superior tem aumentado ano a ano; que o total de estudantes com renda familiar até 3 salários mínimos aumentou em 183% de 2004 a 2006; e que isto signficou passar de 10,1% para 15% do total (um aumento de cinco pontos percentuais).
O que também mostrei na mensagem anterior foi que, do ponto de vista da distribuição da renda dos estudantes, quase não houve mudança. A explicação é que, como o valor do salário mínimo subiu muito nestes anos, ele não é adequado para classificar as pessoas como de “baixa renda” da mesma forma de um ano a outro.
Em resumo, o ensino superior brasileiro se expandiu muito entre 2004 e 2006 (os dados da PNAD de 2007 ainda não estão disponíveis para saber se a tendência continua); com esta expansão, a proporção de estudantes de menor renda tem aumentado um pouco; mas o perfil de grande concentração dos estudantes nos níveis de renda mais alto tem se mantido; e a renda em salários mínimos não é um bom critério para fazer comparações, leva interpretações enganosas.