Reservem as Datas! Lançamentos do livro Brasil: A Nova Agenda Social no Rio (16/6) e São Paulo (5/7)
Site e blog de Simon Schwartzman
SUMARIO
PREFÁCIO: Eduardo Paes
PARTE I: A RECUPERAÇÃO DO RIO
1 – Rio: a hora da virada André Urani e Fabio Giambiagi
2 – Finanças públicas do Estado do Rio de Janeiro: modernização, eficiência e preparação para o desenvolvimento sustentável Renato Vilela e Paulo Tafner
3 – Finanças do município do Rio de Janeiro: o desafio de preparar a cidade para um salto dos investimentos e para o crescimento sustentável Eduarda Cunha de La Rocque e Alessandra Augusta L. G. S. Souza
4 – Os recursos do petróleo e as perspectivas para os investimentos no estado do Rio de Janeiro Julio Cesar Carmo Bueno e Luiz Octavio Bicudo Casarin
5 – Os grandes eventos de 2011 a 2016 e seus legados para a cidade Felipe Góes
6 – A evolução do ambiente de negócios no Rio de Janeiro José Luiz Alquéres
7 – Segurança pública no Rio de Janeiro: o caminho das pedras e dos espinhos Sérgio Guimarães Ferreira
8 – Rio Como Vamos – uma experiência de cultura cidadã Rosiska Darcy de Oliveira e Thereza Lobo
PARTE II: REPENSANDO O RIO DE JANEIRO
9 – Rio, capital da energia Eloi Fernández y Fernández e Alfredo Renault
10 – Sustentabilidade é competitividade: para o Rio e para o Brasil Sérgio Besserman Vianna, Rodrigo Rosa e Clarissa Lins
11 – Rio de Janeiro: logística e geração de vantagens competitivas Paulo Fernando Fleury, Maria Fernanda Hijar e Alexandre Lobo de Paula Barros
12 – O desenvolvimento de uma economia criativa Ana Carla Fonseca Reis
13 – A marca Rio: uma promessa ainda por ser entregue Ana Couto e Bruno Israel
14 – Uma Rio-Disney: pensando no pós-2016 Lucas Ferraz e Fabio Giambiagi
PARTE III: DESAFIOS A ENFRENTAR
15 – Pobreza no Rio de Janeiro: tendências recentes e desafios para o futuro Ricardo Paes de Barros e Valéria Pero
16 – A saúde no Rio de Janeiro: o velho compromisso pendente Flavia Poppe de Muñoz
17 – Melhorar a qualidade da educação no Rio de Janeiro: um longo caminho Simon Schwartzman
18 – UPPs Sociais: ações sociais para consolidar a pacificação Ricardo Henriques e Silvia Ramos
19 – Municípios do estado do Rio de Janeiro: prosperidade em perspectiva ou riscos à frente? Paula Alexandra Nazareth
Vários jornalistas têm me telefonado perguntando sobre a nova linha de extrema pobreza anunciada pelo Ministério do Desenvolvimento Social. É bom que o Brasil tenha uma linha oficial de probreza? Este valor é muito baixo? Será que os dados de pobreza anteriores estavam equivocados, e que na verdade a pobreza extrema no Brasil é maior do que se dizia?
A primeira observação é que, felizmente, esta não é uma “linha oficial de pobreza”, como chegou a ser noticiado, mas simplesmente um critério utilizado pelo Ministério para um programa de erradicação da pobreza extrema que ainda deve ser anunciado pelo governo. Eu sempre argumentei que o Brasil não deveria ter uma “linha oficial” única de pobreza, porque qualquer que seja a linha ela será sempre dependente de metodologias que podem variar muito, e não tem sentido escolher uma delas e atrelar todas as políticas sociais futuras a uma regra que vai ser muito dificil de alterar depois.
A segunda observação é que os dados de antes não estavam errados – diferentes metodologias e bases de dado dão normalmente resultados distintos. As melhores medidas de pobreza tomam em conta as variações de custo de vida e de renda monetária que existe entre as diversas regiões do país, o que parece não ter ocorrido com esta linha anunciada pelo MDS. A renda monetária declarada nas áreas rurais tende a ser menor do que nas áreas urbanas, em parte pelo fato de que a produção para o auto-consumo é maior no campo. Além disto, existem muitos tipos diferentes de pobreza, e a pobreza típica das periferias das grandes cidades, que é aonde se concentram os problemas sociais mais graves do país, pode estar associada a níveis de renda monetária maiores do que os do campo.
O programa Bolsa Família tem sido muito mais voltado para a população rural do que para a urbana. Isto não está mal na medida em que a pobreza rural precisa de fato ser atendida, mas não está bem deixar de lado a pobreza urbana porque os níveis de renda monetária declarada desta população são maiores.
Em essência, existem duas maneiras de medir a pobreza, a absoluta e a relativa. No Brasil sempre se buscou medir a pobreza absoluta, entendida como a das pessoas cuja renda não permite comprar o mínimo de calorias necessárias para a sobrevivência. O programa Fome Zero do início do governo Lula partia da idéia de que no Brasil ainda haviam milhões de pessoas nestas condições, passando fome, e foi com grande surpresa que se constatou, depois, que o Brasil não tem na realidade problemas de fome generalizados, mas sim outros associados à falta de acesso a serviços básicos, e inclusive à obesidade.
As medidas de pobreza relativa, por outro lado, buscam identificar as pessoas cujas condiçoes de vida são consideradas piores do que a sociedade considera como minimamente satisfatório. Este mínimo varia de sociedade para sociedade, e pode variar também por região e características da população. Ainda que situações de pobreza extrema continuem existindo, a metodologia da renda absoluta é mais apropriada para países de renda muito abaixo da brasileira, como dos a África ao Sul do Saara, do que para países de renda média.
Me parece que já é tempo de mudar a abordagem centrada nas medidas absolutas e começar a lidar também com os problemas de pobreza relativa que afetam sobretudo as populações das periferias das grandes cidades, e que não são menos sérios e prioritários do que os do campo.
O blog “Inside Higher Education / The World View” publlica uma nota minha sobre o acordo assinado entre os presidentes dos Estados Unidos e Brasil para aumentar o número de estudantes brasileiros fazendo pós graduação no exterior, disponível aqui. Estas bolsas serão destinadas para pós-doutorado ou programas “sanduíche”, na suposição de que o Brasil já tem doutorados suficientes no país, e a pergunta é se não seria importante continuar insistindo na importancia do jantar completo na formação de alto nível.
Depois de anos de estagnação e decadência, o Rio de Janeiro dá sinais de que está começando a virar a página, organizando suas finanças, melhorando a gestão pública, encontrando novas vocações e se preparando para os grandes eventos esportivos dos próximos anos. É esta a mensagem deste livro editado por André Urani e Fabio Giambiagi, que a editora Elsevier / Campus acaba de publicar.
Minha contribuição foi um texto sobre o longo caminho que a educação deve percorrer no Estado para ele saia da situação humilhante em que está, apresentando os principais dados disponíveis e uma síntese do que a Secretaria Municipal da cidade com Claudia Costin, primeiro, e do Estado, com Wilson Risolia, mais recentemente, estão buscando fazer. Os resultados destas ações são de médio e longo prazo, e algumas iniciativas podem não dar certo. Mas é importante que, depois de tantos anos, a educação passe a ser considerada como prioridade de governo, e deixe de ficar à mercê do varejo da política partidária e das corporações. O texto sobre a educação está disponível aqui.
Escrevem Bernardo Sorj e Mauricio Lissovsky, sobre o comentário de Rafael Parente à pesquisa que realizaram sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas esolas municipais do Rio de Janeiro:
1) Nossa pesquisa não pretende avaliar a atuação da Secretaria de Educação, nem no passado, nem no presente. Para tanto teríamos necessidade de uma serie histórica que permitissem comparações. Nosso objetivo limitou-se, a partir das percepções e atitudes dos professores que responderam o questionário, a identificar problemas e contribuir para a sua solução. Não procuramos verificar qual é a porcentagem de escolas com laboratórios ou em quantos deles há conexão eficiente com a Internet. Visava antes perceber de que modo estes e outros fatores são percebidos pelos professores e de que modo afetam o uso que fazem da informática em suas escolas e na relação com os alunos.
2) Rafael Parente menciona o estudo da Oi Futuro e do Instituto Desiderata. Procuramos obter os resultados e os questionários utilizados. Sem resultado. Ele menciona que a pesquisa da Oi Futuro indica que mais de 80% dos professores consideram que capacitações relacionadas à utilização das TICs são as mais importantes para sua atuação profissional. E que a pesquisa da Desiderata “concluiu que professores não só desejam utilizar mais computadores conectados, mas também que acreditam que novas tecnologias e novas mídias são elementos essenciais para que “a escola se torne um lugar melhor para estudar e ensinar”. São afirmações fortes, e não tendo acesso aos questionários e a forma em que foram elaboradas as perguntas (que como sabemos influenciam a resposta) fica difícil mensurar exatamente o que elas revelam. Na nossa pesquisa não perguntamos a relevância que os professores atribuem à capacitação (afinal qualquer valor inferior a 80% entre professores, seria surpreendente!). Estávamos antes interessados em saber que influência tiveram as capacitações na frequência do uso dos recursos de informática educativa nas escolas. E a resposta que alcançamos aqui, por exemplo, é que as capacitações realizadas até 2009 tiveram algum impacto positivo entre os professores do primeiro segmento, apenas. No que diz respeito ao conjunto do professorado, o domínio de ferramentas de internet pelo professor (independente de onde tenha adquirido este domínio) mostrou-se mais determinante que outros fatores. Seria possível comparar melhor os resultados se fossem disponibilizados os materiais das pesquisas realizadas pela Oi Futuro e Desiderata.
3) Nossa pesquisa foi realizada a fins de 2009. Por mais que uma gestão competente possa realizar em um ano (na verdade menos, pois a pesquisa da Oi futuro foi feita no segundo semestre de 2010), é bastante improvável que mudanças radicais (a não ser, eventualmente, as da infraestrutura física) possam ter ocorrido no que diz respeito à apropriação destes recursos pelos professores, a intensidade do uso dos equipamentos, etc. Afinal, o processo de internalização de uma “informática educativa” nas escolas do município teve início há quase 15 anos e se trata de um processo de longa duração. Inclusive porque, como indicamos no nosso artigo, deve enfrentar um grupo de professores que terá dificuldades de adaptação.
4) O mais importante, a nosso ver, é evitar que o debate sobre politicas publicas tome a forma de criticas destrutivas (ou interpretadas como tais) feitas pelos que estão “fora” e defesas ufanistas do que está sendo feito pelos que estão “dentro” do aparelho publico. Nosso estudo visa melhorar o trabalho realizado pelas instituições públicas, que implica em identificar problemas e abrir o debate sobre um tema extremamente complexo, como é uso da informática nas escolas, sobre o qual existem mais interrogantes que respostas. Estudos feitos por agentes externos ao aparelho estatal são fundamentais para aumentar a credibilidade, a transparência e a qualidade das politicas públicas, e visam o dialogo, não o confronto ou atitudes defensivas.
Rafael Parente, Subsecretário de Projetos Estratégicos da Secretaria Municipal de Educação da cidade do Rio de Janeiro enviou a nota abaixo a respeito das atividades da Secretaria na área das novas tecnologia de informação e comunicação:
Assumindo a responsabilidade e aumentando a transparência: como estamos usando as novas tecnologias nas escolas da cidade do Rio de Janeiro
O nosso programa de utilização das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) para melhorar a aprendizagem nas escolas da cidade do Rio de Janeiro pode ser dividido em três partes principais: 1) Infra-estrutura e manutenção; 2) Capacitação; 3) Sistemas e conteúdos.
Com relação à infra-estrutura e manutenção, sabemos que não poderíamos investir no aumento do parque tecnológico sem antes pensarmos em dois outros aspectos: questões elétricas e questões de segurança. Todas as escolas estão recebendo reformas elétricas e lógicas. Para lidar com questões de segurança, estamos aumentando o pessoal de apoio, instalando câmeras e alarmes e inserindo, nos netbooks, dispositivos para que eles sejam bloqueados quando retirados da rede da escola. O serviço de manutenção dos equipamentos e da rede, que já era feita por uma empresa especializada, está sendo aumentado. Também já temos manutenção por acesso remoto.
A pesquisa do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais foi realizada durante o ano de 2009. Como houve uma intensificação das ações voltadas para a área em 2010, consideramos que certos aspectos do resultado da pesquisa não mais refletem a realidade. Das 1064 escolas da rede, 1060 têm banda larga de 1 ou 2MB. Sabemos que essa velocidade não é suficiente e estamos realizando uma licitação para uma internet mais potente. Roteadores estão sendo instalados para que os links sejam transformados em internet sem fio. Todas as escolas têm de 5 a 30 computadores para utilização dos alunos. Quando não há um laboratório de informática, eles estão nas salas de leitura ou nas salas de aula. Quase 80% dos computadores antigos ou que não estavam funcionando já foram substituídos. Alunos do oitavo ano estão constantemente sendo treinados para exercerem o papel de alunos monitores, sendo responsáveis pelos laboratórios de informática de suas escolas no turno contrário às suas aulas, duas vezes por semana.
Sabemos, no entanto, que o tamanho da sala do laboratório e o número de máquinas por vezes não atende às necessidades. É por isso que decidimos investir num modelo diferente. Todas as salas de 6º a 9º anos estão recebendo netbooks, projetores e caixas de som. Os netbooks são conectados à internet sem fio e as aulas da Educopédia (com vídeos, textos, jogos e podcasts) são projetadas sobre quadros brancos ou telões. Além disso, teremos netbooks para utilização dos alunos dentro de suas salas de aula regulares, um por aluno, em uma aula a cada três.
No que diz respeito à capacitação de professores, é importante citar resultados de duas outras pesquisas realizadas ao longo de 2010. Uma, do Instituto Desiderata, concluiu que professores não só desejam utilizar mais computadores conectados, mas também que acreditam que novas tecnologias e novas mídias são elementos essenciais para que “a escola se torne um lugar melhor para estudar e ensinar”. Isso sugere que investimentos bem planejados nessa área afetam positivamente a motivação desses profissionais (pesquisas internacionais também asseguram impactos nas motivações de professores e alunos, essenciais para a melhoria da qualidade da educação).
A segunda pesquisa, do Instituto Oi Futuro, com o apoio do Ibope e do Instituto Paulo Montenegro, aplicou mais de 35 mil questionários, com o objetivo de compreender o relacionamento dos alunos, professores e diretores com as novas tecnologias. Essa pesquisa verificou que mais de 80% dos professores consideram que capacitações relacionadas à utilização das TICs são as mais importantes para sua atuação profissional. Congruente com os resultados do Centro Edelstein, também concluiu que os professores já estão familiarizados com o uso de computadores e da internet, mas que o perfil de competências para essa utilização varia muito, de onde concluímos que precisamos de cursos com níveis e objetivos diferentes. Por isso, começamos a oferecer capacitações pela MultiRio e em parceria com o MEC e empresas e institutos, como a Microsoft e a Intel. É importante dizer que, a partir de 2010, passamos a ter uma semana de capacitação para todos os profissionais da rede antes do início do ano letivo.
No que tange a sistemas e conteúdos, estamos integrando sistemas e atualizando processos para diminuir a burocracia que rouba tempo da direção das escolas e nos debruçando frequentemente sobre os dados gerados com avaliações. Estamos convidando universidades e institutos para nos ajudar a transformar esses dados em inteligência que nos auxilie a tomar decisões futuras. Além disso, a partir de um currículo claro, já disseminado amplamente na rede, criamos nosso próprio sistema de ensino, com apostilas e a Educopédia. Essa plataforma inclui não apenas as aulas digitais já citadas, divididas em temas para todos os anos e todas as disciplinas, mas apresentações de PowerPoint e planos de aula, com justificativas da importância dos temas e dicas práticas de como o tema pode ser abordado em sala de aula. As apostilas e a Educopédia são criadas e constantemente revisadas pelos professores da rede, com a supervisão de consultores e instituições parceiras. O currículo, as apostilas, a Educopédia e as provas bimestrais são completamente congruentes. A Educopédia também será utilizada para capacitações a distância, o que diminuirá consideravelmente os custos.
Grande parte das ações dessa gestão está sendo acompanhada e avaliada por organizações como o Banco Mundial e a Unesco e por pesquisadores acadêmicos e institutos. Novas políticas são discutidas e planejadas com base em pesquisas nacionais e internacionais, sempre com objetivos e metas claras. As ações relacionadas às TICs não exclui (e, por vezes, complementa) um universo de outras ações, como melhoria da alfabetização, aumento de vagas em creches, reformas de escolas, realfabetização e aceleração de alunos com defasagem idade/série, etc.
Finalizo contando que estamos em contato direto com os profissionais da rede presencialmente e virtualmente. Via Twitter, a secretária Claudia Costin e toda a equipe se comunica todos os dias com mais de 8 mil profissionais da rede. Temos visitado pelo menos 10 escolas por semana, verificando o andamento das ações e conversando com alunos, professores e diretores. O clima é de otimismo e os resultados até agora têm sido muito bons. Estamos à disposição para mais esclarecimentos e convidamos os interessados a visitarem as escolas conosco para verificarem essa transformação positiva de perto.
Algumas pesquisas interessantes (nacionais e internacionais) sobre TICs, motivação e capacitação:
http://download.intel.com/education/wsis/ICT_Education_Reform_Economic_Growth.pdf
http://www.senac.br/BTS/353/artigo-02.pdf
http://www.infodev.org/en/Publication.157.html
http://www.canterbury.ac.uk/education/protected/spss/docs/motivational-effect-ict-brief.pdf
http://www.saum.uvigo.es/reec/volumenes/volumen8/ART8_Vol8_N2.pdf
http://ww.aedb.br/seget/artigos07/1165_EGC%205003%20artigo%20final%20V0.3.pdf
http://www.distanceandaccesstolearning.net/contents/IRRODL-Robinson.pdf
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1465-3435.2006.00274.x/full
http://www.editlib.org/noaccess/5339
http://www.e-journalofeducation.com/main/ICT/kenruthven.pdf
Indo além da polêmica sobre o uso da Internet na educação, uma pesquisa recente do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais mostra como, de fato, a Internet está chegando às escolas, e como está sendo usada pelos professores. O texto, “Internet nas Escolas Públicas: Políticas além da Política”, assinado por Bernardo Sorj e Mauricio Lisssovsky, está disponível aqui. Destaco, em primeiro lugar, o fato de que as tecnologias ainda estão longe de terem se tornado “transparentes” para os professores, que enfrentam problemas constantes de acesso e funcionamento dos equipamentos. Depois, embora os professores e a professoras sejam em grande maioria usuários de computadores, seu uso efetivo como instrumento pedagógico ainda está longe de ocorrer como se esperaria. Alguns trechos:
Quando aproximamos o foco dos laboratórios de informática das escolas, cuja implantação iniciou-se há dez anos, mas que todavia não alcança toda a rede pública municipal, percebemos que as variáveis mais determinantes para seu uso rotineiro, deixando de lado o tema de conteúdo disponível e pedagogias adequadas, segundo a opinião e as atitudes de professores e dirigentes pesquisados, são o acesso à Internet, as condições de manutenção dos equipamentos e a existência de um professor “responsável”. Se esse professor não for capaz de gerenciar a apropriação destes recursos pela escola (como “especialista em informática educativa”) que, ao menos tome conta da sala, mantendo-a aberta aos interessados e auxiliando seus colegas nas atividades ali realizadas. A ausência de um destes três fatores tende a condenar o laboratório à ociosidade. A insatisfação da ampla maioria dos professores em relação aos recursos disponíveis (cujas razões ainda incluem a quantidade dos equipamentos e o tamanho das salas destinadas aos laboratórios) reflete a dificuldade, por parte das autoridades educacionais, de alinhar estes fatores.
Ao contrário do que sugere o senso comum, em função do perfil etário do grupo e da esmagadora maioria feminina, os professores do Rio mostram-se relativamente familiarizados com o uso dos computadores e da Internet. No entanto, e é exatamente neste ponto que a questão torna-se interessante, essa familiaridade não se traduz imediatamente em uso regular e/ou apropriação sistemática da informática educativa nas escolas, e nem, tampouco, em utilização eficiente desta mídia para sua comunicação profissional, seja com alunos, seja com dirigentes e superiores hierárquicos.
Um desafio central é representado por uma parte considerável dos professores que vêm nas novas tecnologias uma fonte de questionamento de seu papel pedagógico. Alem de conservadorismo e interesses corporativos, estes professores expressam uma preocupação relevante: o da redefinição de seu papel numa sala de aula na qual o computador (alem dos SMS enviados pelos telefones celulares) “rouba” a atenção do aluno. Redefinir o papel do professor nesse novo ambiente tecnológico é um desafio que exige repensar o papel do pedagogo, de modo a que continue a ocupar uma função relevante. Parte considerável dos cursos de atualização dos professores concentra-se em questões tecnológicas, necessárias, mas que não enfrentam o cerne da questão: boa parte da geração nascida no mundo digital está à frente da maioria dos professores em habilidades técnicas.
A introdução sistemática de computadores no ensino público, como está sendo projetado pelo governo federal no programa Pro-Uca, ou por governos estaduais e municipais, deve ser acompanhada da criação de uma capacidade de avaliação e monitoramento contínuos, bem como da produção e avaliação de ferramentas educativas. Estas, sabidamente, abrem as portas aos lobbies empresariais que atuam na área, e que costumam reduzir o desafio da introdução de novas tecnologias à questão de criar o software adequado. Sem duvida, empresas privadas têm um papel a jogar neste domínio, mas certamente existe uma enorme quantidade de produtos de domínio público, disponíveis no Brasil e no exterior, que podem ser aproveitados e exigem catalogação e avaliação permanentes. Em uma área onde os recursos são insuficientes, a transição digital gera dilemas na sua alocação que deveriam ser previstos. A criação de um novo sistema pedagógico implica em investimentos enormes, onde, voltamos a insistir, enquanto continuam a existir carências básicas na formação e motivação dos professores, a distribuição de computadores é o menor deles.
Boas intenções não são suficientes. Se estiverem associadas a objetivos e a um plano pedagógico pré-determinados, os efeitos benéficos da distribuição de computadores (e certamente os haverão) poderão ser menores que seus efeitos disruptivos. Se as injunções políticas obrigam a agir sem ter clareza inicial dos objetivos e custos envolvidos, nunca é tarde para assumir a responsabilidade e aumentar a transparência sobre o que está sendo feito.
Escreve Fávio Grynszpan:
Aproveito o espaço do meu amigo Simon, na sua análise do ranking internacional de Universidades e o comentário do Creso Franco, que vincula o tema com a inovação no País, para sair em defesa das nossas Universidades. Trago alguns dados para apresentar a minha visão sobre o papel das Universidades na inovação brasileira e na sua internacionalização.
Tenho estudado este tema, não pelo lado das Universidades, mas para entender a capacidade de competição de nossas empresas no mercado internacional. Do ponto de vista empresarial, a competitividade é uma variável relativa, o que quer dizer que não basta inovar, temos que inovar mais que os nossos concorrentes. Se eles inovarem mais ou mais ràpidamente do que nós, estamos ficando para trás.
Defini, nesta primeira fase, que os nossos principais concorrentes no mercado mundial serão os outros países que compõem o BRIC: Russia, China e India. Mais tarde, vou analisar um BRIC expandido. Uso, para simplificar, as patentes concedidas pelo Escritório de Patentes dos Estados Unidos ( USPTO), porque o mercado americano é ainda o foco maior de qualquer empresa. Sei que a patente não é a única forma de se medir a inovação, mas é uma variável que reflete um posicionamento empresarial de proteção à sua inovação. Ainda mais, como estou olhando o quadro comparativo, ela é importante para analisar as tendências.
Pelos dados acima, estamos melhores que a Rússia, mas piores que a Indica, entretanto estamos mantendo o quadro constante nos últimos anos. Mas a China, é um outro departamento. Eles não só são muito mais inovadores que nós, mas a sua velocidade de crescimento é bem superior à nossa. Muito deste crescimento se deve à Política de “Indigenous Innovation” lançada em 2006.
Das 111 patentes brasileiras concedidas em 2010, só 77 são patentes de invenção. As demais 34 são patentes de design. Para meus comentários, vou me concentrar nas patentes de inovação.
A contribuição das ICTs é muito significativa. Representou 27% das patentes de invenção em 2009 ( quando tivemos 55 patentes de invenção) e quase 16% das patentes de invenção em 2010.
O problema é que as empresas brasileiras pouco inovam!!!
Como a inovação é um assunto empresarial (e não acadêmico), a participação grande das ICTs nas patentes reflete esta limitação de inovação das empresas brasileiras e uma certa pressão do Governo para promover a inovação a partir dos resultados das pesquisas das ICTs (Universidades mais Institutos de Pesquisa). O quadro mostra que a Petrobrás é, de longe, a empresa brasileira mais inovadora e que, com exceção de Embraer e a Cristália, as empresas nacionais quase nada contribuem. Dentre as multinacionais, que controlam grande parte dos setores considerados de alta tecnologia (indústrias eletrônica e telecomunicações, automobilística, farmacêutica, química), só aparece o grupo Whirlpool ( que inclui a Embraco, comprada há alguns anos). As demais, ou não inovam no País, ou registram suas patentes nas suas matrizes.
Uma crítica nesta análise tem sido que as concessões de patentes não refletem o estágio atual, pois há um certo lapso de tempo entre a entrada do pedido e a concessão da patente. Então, fui analisar as patentes solicitadas em 2010.
Houve 131 pedidos de patentes do Brasil no USPTO em 2010 ( em 2009 foram 121 pedidos).De novo os destaques são:
Petrobrás – 28 pedidos ICTs – 25 pedidos ( 19%)
Whirlpool – 13 pedidos
Em seguida: Tecban ( Tecnologia Bancária) – 4 pedidos Embraer e Bunge – 3 pedidos
As demais com dois ou menos pedidos, inclusive a Cristália (com 2 pedidos). A participação importante das ICTs se mantém.
Voltando ao nosso tema, vejo que as Universidades estão muito ativas no processo de internacionalizar a nossa inovação. A concessão de patentes pelo USPTO mostra uma avaliação positiva da qualidade dos resultados das nossas pesquisas. Acho que as nossas ICTs estão fazendo bem o seu papel, mas como elas dependem das empresas, este esforço não está aparecendo.
As dificuldades que enfrentamos na transferência de tecnologia para o setor produtivo nacional, gera um movimento de criação de start-ups de alta tecnologia. Este movimento é salutar, mas precisa ser avaliado ( custo/benefício). Até hoje não temos nenhuma empresa brasileira de alta tecnologia que está listada na Nasdaq ( Israel tem mais de 60 empresas). Mas isto é uma outra discussão.
Termino dizendo que concordo a necessidade de aumentar a exposição de nossas Universidades ao mercado internacional, seja atraindo alunos estrangeiros, seja criando campus avançados no exterior ( na China, por exemplo, como estão fazendo muitas Universidades americanas e européias). Isto vai ajudar a melhorar o nosso entendimento dos outros países. Mas não concordo em atribuir à Universidade todas as nossas mazelas.